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Abusos e estupros: Os crimes ocultos pela vitória dos aliados na Segunda Guerra
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Abusos e estupros: Os crimes ocultos pela vitória dos aliados na Segunda Guerra

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Aventuras Na História
22/05/2025 20h30
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©Getty Images
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Pesquisas recentes estão lançando luz sobre um capítulo sombrio da história da Segunda Guerra Mundial: o estupro em massa de mulheres alemãs pelas tropas vitoriosas.

Estima-se que cerca de 870 mil mulheres tenham sido violentadas entre o final da guerra e os anos da ocupação. Durante décadas, esse crime permaneceu à margem da historiografia, silenciado tanto pelas vítimas quanto pelas nações envolvidas.

A historiadora alemã Miriam Gebhardt foi uma das primeiras a dimensionar o problema com seriedade. Segundo ela afirma à RFI, embora os soviéticos sejam frequentemente apontados como os principais responsáveis, os abusos não se limitaram ao Exército Vermelho

É provável que metade dos casos tenha sido cometida por soldados soviéticos, um quarto por norte-americanos, e o restante dividido entre forças francesas, britânicas e belgas.

Crimes

Relatos de vítimas e testemunhas, analisados por historiadoras de diferentes países, revelam como o estupro foi utilizado sistematicamente como arma de guerra — não apenas para punir, mas para afirmar domínio sobre o inimigo derrotado.

Um dos testemunhos mais conhecidos está no diário "Uma Mulher em Berlim", publicado anonimamente. Nele, uma jornalista de cerca de 30 anos descreve os meses de abril e maio de 1945 como um período de terror, em que mulheres eram estupradas repetidamente por soldados embriagados. 

Algumas tentavam, como estratégia de sobrevivência, escolher entre os agressores aquele que fosse menos brutal — alguém que, ao menos, oferecesse proteção contra outros abusadores.

A própria autora relata que, após dias de violência, acabou se apegando a um soldado russo que, diferentemente dos demais, não a agredia fisicamente e demonstrava um mínimo de empatia.

Muitas dessas relações forçadas foram classificadas pelos Aliados como "confraternização", uma forma de eufemismo que encobria a realidade: mulheres coagidas à submissão como forma de escapar de abusos ainda piores.

Apesar da crença disseminada de que o alto comando soviético incentivava os estupros, documentos mostram que Stalin chegou a proibir oficialmente a prática — ordem que, no entanto, era amplamente ignorada pelas tropas.

Entre as tropas ocidentais, os abusos também foram generalizados. Soldados norte-americanos, por exemplo, foram instruídos a evitar qualquer contato com a população civil alemã, mas registros comprovam milhares de estupros, inclusive em território francês antes da chegada à Alemanha.

Consequências

A historiadora americana Mary Louise Roberts documenta que, para "atender" aos soldados, milhares de prostitutas foram deslocadas de Paris para cidades como Le Havre.

Muitas adoeceram com infecções sexualmente transmissíveis, o que preocupava o comando militar mais pelo risco à saúde das tropas do que pelo sofrimento das mulheres.

A responsabilização por esses crimes foi desigual. Soldados negros das tropas aliadas, especialmente norte-americanas, eram mais frequentemente punidos — muitas vezes usados como bodes expiatórios. Como estavam afastados da linha de frente, os abusos cometidos por eles eram mais visíveis e, por isso, mais denunciados.

Na Alemanha ocupada, a impunidade era praticamente garantida. A polícia local não tinha jurisdição sobre os militares estrangeiros, e os crimes sexuais raramente eram investigados.

Crianças nascidas dessas violências ou mesmo de relações consensuais com soldados enfrentaram discriminação. Enquanto os Estados Unidos proibiam que essas crianças imigrassem com as mães, o governo francês chegou a incentivar que fossem levadas ao território francês.

A imagem do “soldado colonial estuprador” se popularizou especialmente na França, onde tropas africanas compunham a maioria do contingente até 1945. Em 1944, durante a campanha na Itália sob o comando do general Alphonse Juin, soldados marroquinos foram responsabilizados por uma série de estupros, que ficaram conhecidos como marocchinate. O termo aparece no romance "A Ciociara", de Alberto Moravia.

Os estupros eram, por vezes, tratados como "recompensas de guerra". Oficiais subalternos teriam inclusive encorajado tais práticas. Após o conflito, as mulheres alemãs estupradas foram silenciadas, estigmatizadas e, em muitos casos, ridicularizadas. Eram apelidadas de Veronika Dankeschön ("Veronika Obrigadinha"), uma referência pejorativa às doenças venéreas — VD, na sigla em inglês.

Os corpos dessas mulheres tornaram-se campo simbólico de dominação dos vencedores sobre os vencidos. Para os homens alemães, a violência sexual era vista como perda de honra nacional, o que isolava ainda mais as vítimas. Muitas sofreram em silêncio, enfrentando traumas sem qualquer amparo social.

Em algumas regiões, o aborto chegou a ser temporariamente legalizado ou tolerado, como tentativa de conter o impacto das gestações resultantes desses crimes. Registros médicos da época, embora escassos, têm sido fundamentais para que historiadores dimensionem a violência e documentem o sofrimento das vítimas.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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