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Traje funerário de jade: O curioso enterro da família imperial Han
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Traje funerário de jade: O curioso enterro da família imperial Han

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Aventuras Na História
23/05/2025 15h00
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16531028/original/open-uri20250523-18-1z08b5n?1748014602
©Getty Images
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A descoberta de duas tumbas na encosta leste do monte Lingshan, localizado no distrito de Mancheng, a cerca de 190 quilômetros ao sul de Pequim, revelou uma façanha de engenharia preservada pelo tempo.

Há mais de dois milênios, trabalhadores retiraram milhares de toneladas de rocha para talhar, no interior da montanha, sepulturas dignas de príncipes, no caso o príncipe Liu Sheng, senhor de Zhongshan, e sua esposa, a princesa Dou Wan.

Poupadas de saqueadores durante vinte séculos, as câmaras impressionam tanto pela estrutura do projeto quanto pelo tesouro que guardavam. Os restos mortais do casal estavam protegidos por trajes funerários semelhantes a armaduras, feitos de centenas de placas de jade costuradas com fios de ouro.

Liu Sheng, vale destacar, era filho de Jing Di, sexto imperador da dinastia Han, que reinou de 157 a.C. a 141 a.C. Em 154 a.C., para reprimir rebeliões na fronteira nordeste do império, o imperador enviou o filho a Zhongshan.

Logo depois teve início a escavação de duas grutas palacianas, gêmeas em planta e tamanho. Concluir cada tumba exigiu décadas de trabalho e recursos imensos. Quando Liu Sheng morreu em 113 a.C. e Dou Wan por volta de 104 a.C., os túneis estavam prontos, repletos de bens suntuosos e selados com tijolos e ferro fundido.

A descoberta

Enquanto muitas sepulturas da elite Han foram violadas, as de Mancheng permaneceram intocadas. Segundo informações do portal National Geographic, somente em 1968, no auge da Revolução Cultural de Mao Zedong, a montanha cedeu o seu segredo: soldados que cavavam um abrigo antiaéreo derrubaram um muro de pedra e se depararam com uma câmara mortuária.

Embora o clima político fosse hostil à academia, o governo autorizou uma escavação de emergência. O Instituto de Arqueologia de Pequim enviou uma equipe que logo identificou não uma, mas duas sepulturas uma ao lado da outra.

Traje funerário da princesa em fotografia de 1973 / Crédito: Getty Images

Cada tumba seguia o mesmo padrão. Um corredor estreito conduzia a uma antecâmara coberta por vigas de madeira e telhas. Esse espaço dividia-se em duas salas: a setentrional guardava alimentos selados em vasilhas de terracota, provisão para a eternidade; já a meridional funcionava como estrebaria, com carruagens ricamente aparelhadas e esqueletos de cavalos. Era o símbolo máximo de poder.

A seguir vinha o salão cerimonial, igualmente coberto por vigas. No centro, dois dosséis vazios representavam os tronos do príncipe e da princesa, cercados por fileiras de estatuetas de cerâmica, vasos de bronze, armas rituais e lâmpadas. Nos fundos, uma porta de pedra conduzia à câmara funerária com teto lajeado. O sarcófago ficava ao centro e um cômodo lateral guardava pertences íntimos.

Trajes funerários

O achado foi extraordinário por ser o primeiro mausoléu imperial Han descoberto intacto. Além da arquitetura, destacaram-se as armaduras de jade, até então conhecidas apenas por textos antigos.

Cada traje contém doze partes que se ajustam aos contornos do corpo. Para a elite Han, o jade era mais que ornamento: simbolizava pureza, resistência e acesso à imortalidade. Vestir o morto com a gema garantiria proteção espiritual e conteria o 'po' — a parte da alma que, segundo a crença, permanece junto ao cadáver.

Traje do príncipe Liu Sheng / Crédito: Domínio público

A filosofia funerária Han distinguia duas entidades anímicas. O 'hun', princípio intelectual, ascendia ao reino dos ancestrais. Já o 'po' ficava com o corpo e precisava ser domado. As tumbas, concebidas como palácios subterrâneos, ofereciam ao 'po' o conforto desfrutado em vida, enquanto rituais no salão honravam o 'hun'. Os trajes de jade serviam de barreira contra a energia residual do 'po' e reafirmavam o status divino do casal.

Artefatos encontrados

Entre os mais de sete mil itens recuperados, os arqueólogos identificaram três grandes grupos. Primeiro, objetos rituais, entre vasos de bronze, sinos e discos de jade usados em sacrifícios.

Depois, pertences pessoais do casal, como espelhos, caixas laqueadas, pentes e instrumentos de escrita, destinados ao uso na outra vida. Por fim, os mingqi, estatuetas que representam criados, músicos e guardas, recriando em miniatura a corte que servia Liu Sheng e Dou Wan.

O sítio de Mancheng oferece aos arqueólogos uma janela rara para as práticas funerárias do século 2 a.C. Ele confirma descrições antigas de câmaras cavadas em montanhas e mostra que, embora a mumificação não fosse comum na China, havia grande preocupação em preservar dimensões espirituais.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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