Aventureira britânica se desculpa após reivindicação de recorde revoltar inuítes

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Recentemente, uma aventureira britânica se desculpou publicamente após sua reivindicação de ser a primeira mulher a atravessar sozinha a maior ilha do Canadá, a Ilha de Baffin, causar revolta entre membros da população Inuit. Camilla Hempleman-Adams foi criticada por seu "privilégio e ignorância" em respeito à história do povo originário da região.
Hoje com 32 anos, Camilla percorreu a pé e de esqui os 240 quilômetros da ilha, em Nonavut, puxando um trenó em temperaturas de até -40 ºC e ventos de 76 km/h. A expedição durou duas semanas, e a levou de Qikiqtarjuaq a Pangnirtung, através do parque nacional Auyuittuq.
No entanto, moradores locais disseram que as alegações da britânica são incorretas, visto que os nativos já viajam pela mesma rota há gerações. "Não há a mínima possibilidade de um colonizador britânico vir para Inuit Nunaat em 2025 e reivindicar qualquer novidade", pontuou a artista inuíte radicada em Ottawa, Gayle Uyagaqi Kabloona, em seu Instagram.
Minha avó caminhava centenas de quilômetros por ano, muitas vezes grávida, para pescar na primavera e caçar caribus no inverno, porque aquilo era a vida. Cada centímetro deste continente tem história indígena e histórias como esta. Ajudem-me a denunciar esse comportamento ignorante e racista", complementou Kabloona.
Além disso, a artista também disse que o assunto impactou a comunidade, principalmente porque muitas pessoas que viviam estilos de vida nômades tradicionais já morreram. Dessa forma, surgem preocupações de que as práticas culturais podem acabar se perdendo com o tempo.
"O artigo atingiu as pessoas duramente em um ponto muito sensível por causa da nossa história e das dificuldades que enfrentamos todos os dias no combate ao colonialismo ocidental", disse Kabloona à BBC. "Esta mulher vem de um lugar tão privilegiado e ignorante que parece perigoso".
"Era quase como se ela trouxesse notícias de um novo continente para a Europa e dissesse: 'Não tem ninguém aqui!'. Estávamos e ainda estamos. É um exemplo claro de como o colonialismo se beneficia ao desapropriar os povos indígenas de suas terras e nos apagar da história", pontuou a artista inuíte.
Desculpas
No site de sua expedição, antes de partir, Camilla Hempleman-Adams escreveu: "o Parks Canada confirmou que não há registros históricos de uma tentativa solo feminina de Qikiqtarjuaq a Pangnirtung". Sobre esta afirmação, Kabloona pontuou que isso se devia ao fato de que a travessia era "um modo de vida normal para eles".
Por isso, após a repercussão negativa sobre seu "feito inédito", a britânica — que inclusive é conhecida por ser a mais jovem mulher britânica a esquiar até o Polo Norte, o que fez aos 15 anos, segundo o The Guardian — disse: "nunca foi minha intenção deturpar quaisquer conquistas históricas ou causar sofrimento às comunidades locais".
"Antes de iniciar a expedição, pesquisei e verifiquei a veracidade da minha afirmação com a Parks Canada e com os fornecedores locais em ambas as cidades, que confirmaram que não havia nenhuma travessia feminina solo de inverno conhecida de Qikiqtarjuaq para Pangnirtung. No entanto, se esta informação estiver incorreta, peço desculpas incondicionalmente por fazer uma afirmação incorreta e por causar ofensa", prosseguiu.
Por fim, ela ainda acrescentou que se sentia "verdadeiramente triste" que a cobertura de sua jornada tenha "causado preocupação ou aborrecimento. Continuo comprometida em aprender com essa experiência e me envolver com a comunidade com o máximo respeito".


