Conheça o takahē: A ave que 'renasceu' da extinção
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O takahē, também chamado de tacaé-do-sul (Porphyrio hochstetteri), é uma ave terrestre da Nova Zelândia que chegou a ser considerada extinta no século 19. Após o último registro em 1898, acreditava-se que a espécie havia desaparecido para sempre. No entanto, em 1948, um pequeno grupo foi redescoberto nas remotas montanhas de Murchison, iniciando um dos mais longos e bem-sucedidos programas de conservação do país.
O takahē
Essa ave imponente, que pode chegar a 63 centímetros de comprimento, possui pernas fortes e bico triangular robusto. Suas asas são curtas e não permitem o voo, mas a plumagem impressiona: uma mistura de azul-escuro, turquesa iridescente e verde-oliva, contrastando com a máscara facial vermelha e o bico amarelo. Os juvenis, por sua vez, apresentam plumagem mais discreta, em tons acastanhados.
O povo Ngāi Tahu, tribo maori da Ilha Sul, considera o takahē um verdadeiro taonga, ou seja, um tesouro cultural e espiritual. Para eles, a ave simboliza proteção (kaitiaki) da natureza e da herança ancestral. O retorno do animal às terras tradicionais representa não apenas uma vitória ecológica, mas também uma reconexão profunda com a cultura indígena.
O takahē é herbívoro e se alimenta das partes mais tenras da vegetação rasteira nas pastagens alpinas. Territorial por natureza, costuma viver em pares. Uma curiosidade é seu comportamento monogâmico: os casais permanecem juntos por muitos anos, talvez por toda a vida.
Durante a reprodução, constroem ninhos bem escondidos sob a vegetação, onde a fêmea deposita de um a três ovos — geralmente dois. A dedicação parental é compartilhada, e os filhotes permanecem com os pais por bastante tempo.
Salvação
Desde a redescoberta, o Departamento de Conservação da Nova Zelândia (DOC), em parceria com comunidades indígenas e ambientalistas, tem conduzido ações intensivas para salvar a espécie. Entre as estratégias estão a reprodução em cativeiro, a criação de ilhas livres de predadores e a soltura de aves em habitats protegidos.
Em agosto de 2023, por exemplo, 18 takahēs foram libertados no Vale de Greenstone, marcando o retorno da espécie a seu habitat histórico. Em fevereiro de 2025, mais de 50 aves passaram a ocupar o Vale de Rees, e outras 18 voltaram a ser reintroduzidas em Greenstone. Essas ações fazem parte de um plano contínuo que prevê novas solturas ainda este ano.
Os esforços já mostram resultados expressivos. Em 2016, a população estimada era de cerca de 300 indivíduos. Em 2023, esse número ultrapassou os 500, e continua crescendo a uma taxa anual de aproximadamente 8%. O desafio, agora, é garantir habitats seguros para acomodar esse aumento.
Apesar do progresso, a espécie ainda enfrenta riscos. Por ser uma ave não voadora que nidifica no solo, o takahē é altamente vulnerável a predadores introduzidos, como furões, ratos e gatos selvagens.
Para reduzir essas ameaças, o DOC mantém programas rigorosos de armadilhas e monitoramento constante. Segundo Deidre Vercoe, diretora do projeto Takahē Recovery, o controle de predadores tem sido decisivo para permitir a expansão da população.
Estudos fossilíferos indicam que o takahē já existia desde o Pleistoceno, a chamada “Idade do Gelo“, tendo sobrevivido a mudanças climáticas extremas. Sua permanência até hoje, mesmo após ter sido considerado extinto, reforça sua resiliência. Agora, com apoio humano e consenso cultural, essa ave tem a oportunidade de continuar sua jornada evolutiva como símbolo vivo da Nova Zelândia.
*Sob supervisão de Fabio Previdelli