Cultura da Idade do Bronze da China usava barcos funerários para 'jornada simbólica'

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Um novo estudo publicado na revista Asian Archaeology traz novas informações sobre a antiga e enigmática cultura Xiaohe, uma extraordinária civilização da Idade do Bronze que viveu na Bacia do Tarim, na China, e que hoje é conhecida principalmente por suas práticas funerárias singulares — além do notável estado de preservação de seus materiais orgânicos.
Essa cultura floresceu onde hoje é a região autônoma de Xinjiang entre 1950 a.C. e 1400 a.C., e é reconhecida principalmente por seus sepultamentos que incluem caixões em formato de barco, restos de gado e lápides características. Tudo isso, localizado nas profundezas de uma das regiões mais áridas do planeta.
Originalmente, o cemitério de Xiaohe foi descoberto no início dos anos 1900, e foi parcialmente escavado pelo arqueólogo sueco Folke Bergman em 1934, revelando 12 túmulos. No início dos anos 2000, o local foi escavado de maneira mais extensiva, supervisionado pelo Instituto de Arqueologia de Xinjiang, revelando outros 167 túmulos — mas estimativas sugerem que o local pode ter abrigado até 350 sepulturas, muitas que acabaram destruídas com o tempo.
A nova pesquisa, assinada pelo arqueólogo Dr. Gino Caspari, tem foco na interpretação simbólica dos sepultamentos. "O ritual funerário é completamente diferente dos das culturas vizinhas, e isso faz parte do fascínio dessa cultura", explica o pesquisador no estudo.
Por isso, sendo os sepultamentos feitos em barcos, sugere-se que os costumes funerários de Xiaohe refletem uma visão de mundo espiritual complexa neste grupo, centrada no simbolismo da água. Entenda!
Sepultamento simbólico
Conforme descrito pelo Archaeology News, o mais característico dos sepultamentos do cemitério Xiaohe são os caixões estreitos, em forma de canoa, enterrados em poços de areia, geralmente sendo ainda cercados por postes de madeira verticais em suas extremidades. Esses postes, descritos com formato vulvar ou fálico, são pintados de vermelho ou possuem pontas escuras.
Surpreendentemente, o simbolismo de gênero dos marcadores não é óbvio ou consistente, com postes fálicos aparecendo até sobre sepulturas femininas, e vice-versa. Logo, o que o Dr. Caspari sugere é que os sepultamentos carregavam um significado mais simbólico para este grupo, e não literal.
Vivendo na região da Bacia do Tarim, os Xiaohe tiveram sua cultura moldada por oásis fluviais sazonais e pela dependência da gestão cuidadosa da água, desenvolvendo uma economia combinada de agricultura e pastorícia. Dessa forma, possivelmente desenvolveram uma profunda conexão cultural com a água, segundo Caspari, o que se estendeu inclusive às crenças religiosas.
Por isso, os caixões dessa cultura teriam forma de barco e postes anexados, que podem ter representado remos e postes de amarração, ferramentas projetadas nesse contexto para guiar e ancorar os mortos em sua jornada após a morte — tema comum em várias culturas antigas, como a Idade do Bronze Escandinava ou o Egito Antigo.
Vale mencionar ainda que outra construção peculiar foi encontrada nas escavações, sendo uma plataforma retangular coberta por camadas de crânios e peles de gado, mas que não continha nenhum vestígio humano. Por isso, além de se considerar que o gado tinha um alto valor simbólico e econômico para o grupo, sugere que a estrutura pode ter tido outra finalidade além de rituais funerários.
Mesmo com as descobertas feitas em escavações e as pesquisas feitas em torno dos Xiaohe, ainda não se sabe o que levou ao declínio do grupo, por volta de 1400 a.C.. Mas certamente o sítio arqueológico e segue como uma janela para o passado e para o modo de vida simbólico e prático da região da Bacia do Tarim da Idade do Bronze.


