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Designer brasileiro recria rosto de múmia que viveu no Egito há 3 mil anos
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Designer brasileiro recria rosto de múmia que viveu no Egito há 3 mil anos

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Aventuras Na História
03/07/2025 16h00
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16554321/original/open-uri20250703-35-16pqp2n?1751558410
©Divulgação/Cicero Moraes
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O designer 3D brasileiro Cícero Moraes concluiu um novo estudo de aproximação facial da múmia Meresamun, uma musicista do templo de Amon que viveu em Tebas, no Egito, por volta de 800 a.C.. O trabalho, baseado em tomografias computadorizadas e softwares de modelagem, revisita uma reconstrução feita em 2009 e revela detalhes inéditos sobre as proporções corporais e faciais da antiga sacerdotisa.

“A reconstrução foi baseada em uma tomografia computadorizada da múmia de Meresamun, disponibilizada publicamente pela Universidade de Chicago em 2012. Os dados originais foram utilizados para realizar uma reconstrução anatômica, conforme metodologias previamente publicadas”, explica Moraes em entrevista ao Aventuras na História.

Meresamun, cujo nome significa “Amon a ama”, integrava a elite religiosa de Karnak, participando de rituais sagrados com cânticos e possivelmente instrumentos como o sistro. O corpo foi encontrado num sarcófago de cartonagem (camadas de linho, gesso e cola moldadas e pintadas), hoje preservado no Museu do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, que adquiriu a múmia em 1920. 

A peça mede 1,60 metro e traz pinturas de símbolos religiosos, como olhos udjat, serpentes aladas e figuras dos Quatro Filhos de Hórus, protetores dos órgãos mumificados. “A qualidade e decoração do sarcófago, bem como sua função religiosa em um templo importante, sugerem que Meresamun pertencia à elite tebana. O acesso a um enterro tão elaborado é compatível com um alto status social e acesso a recursos consideráveis”, acrescenta o designer.

múmia
Estágios iniciais da aproximação facial / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes

Novos detalhes

Em 2008, uma tomografia feita no Centro Médico da Universidade de Chicago revelou que Meresamun tinha cerca de 30 anos ao morrer, em boa saúde. À época, estimou-se sua altura em 1,68 metro — algo que Moraes contesta em seu novo estudo.

“Os restos mortais estão bem preservados, o que permitiu a segmentação do crânio e a estimativa de medidas antropométricas”, conta o designer. Usando imagens tomográficas e técnicas de reconstrução no software brasileiro InVesalius e no Blender, ele mediu ossos como fêmur, tíbia, úmero e rádio. 

Com cálculos baseados em dados de populações do Egito Antigo, chegou a uma altura estimada de cerca de 1,47 metro para Meresamun — bem menor que os 1,68 m sugeridos originalmente. “Se ela tivesse 1,68 metro, não caberia no sarcófago de 1,60 m, ainda mais considerando a espessura do material e a desidratação natural do corpo mumificado”, observa. 

Na reconstrução facial, Moraes alinhou digitalmente o crânio à posição anatômica padrão e aplicou dados de espessura de tecidos moles de egípcios modernos para esculpir o rosto. “O rosto básico resultante foi então esculpido digitalmente para compatibilização etária e refinado com adição de peruca, pigmentação e texturas, sempre respeitando a estrutura anatômica original”, descreve o especialista.

Diferentemente do projeto original, Moraes gerou duas séries de imagens: cinco objetivas, em tons de cinza e olhos fechados, sem peruca nem pigmentação; e cinco artísticas, com pele, olhos, peruca e adornos baseados na iconografia de 2009. Para realçar detalhes faciais, utilizou também inteligência artificial, mas sem alterar a estrutura anatômica reconstruída.

“A reconstrução apresenta um rosto harmônico e sereno, com traços que sugerem dignidade e suavidade. Embora qualquer interpretação estética envolva certo grau de especulação, buscou-se manter uma imagem respeitosa e compatível com o papel social da falecida”, afirma.

O estudo também evidencia um problema crescente na era digital: a perda de dados online. O link original com a tomografia completa de Meresamun, disponível em 2012, não existe mais. Moraes só conseguiu realizar a nova reconstrução porque encontrou um backup de testes preliminares feitos há mais de uma década, embora em menor resolução.

“Mesmo após mais de uma década, os arquivos preservados permitiram uma reinterpretação técnica significativa, contribuindo para a divulgação do patrimônio cultural egípcio com rigor acadêmico e respeito à memória histórica”, conclui.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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