'Ele não vive numa família normal': Historiador explica relações familiares de D. Pedro II

Aventuras Na História






Em comemoração ao bicentenário de nascimento de Dom Pedro II, a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano (FMLOA) promove neste sábado, 28, a palestra “O Palácio da Ajuda, em Lisboa, e o imperador D. Pedro II, do Brasil”, conduzida pelo museólogo português José Alberto Ribeiro.
Diretor do Palácio Nacional da Ajuda-Museu do Tesouro Real, em Lisboa, Ribeiro destacou, em entrevista à redação de Aventuras na História, como as ligações familiares do monarca e sua excepcional formação intelectual moldaram o Segundo Reinado e aproximaram Brasil e Portugal.
Segundo o especialista, as trocas de cartas entre Dom Pedro II e a irmã, Dona Maria II de Portugal, revelam como os dois trocavam conselhos e desabafos mesmo separados por um oceano.
Eles compartilhavam informações sobre os problemas de cada país e também pedidos pessoais, como Dona Maria II pedindo frutas tropicais do Brasil”, contou Ribeiro.

Honrando origens
O museólogo ressaltou que as visitas de Dom Pedro II a Portugal, especialmente em sua primeira viagem à Europa em 1871, tinham forte caráter afetivo: “Ele queria conhecer os lugares onde o pai esteve e conversar com soldados que lutaram ao lado dele, como se buscasse a figura paterna que praticamente não conheceu.”
Questionado pela reportagem sobre como Dom Pedro II sentiu a responsabilidade em assumir o trono aos 14 anos, Ribeiro afirmou que o imperador recebeu educação cuidadosa desde criança, o que o transformou em um dos monarcas mais cultos de seu tempo.
Ele falava nove línguas, tinha grande conhecimento em história, literatura e ciências. A formação intensa buscava prepará-lo para qualquer crítica de que não estaria à altura do cargo.”
Apesar do afastamento do pai na infância, Ribeiro destacou que não há registros de que Dom Pedro II tenha se queixado da decisão de Dom Pedro I de deixá-lo no Brasil. “Ele sabia que era seu dever. Todas as viagens que faz, as pessoas que procura para falar do pai, mostram que via o pai como um herói.”

Para os portugueses que conheciam ou acompanhavam as visitas do imperador, a impressão era de um monarca simples, culto e próximo do povo. “Ele não queria ficar em palácios, preferia hotéis, passeava por mercados e encantava as pessoas com sua informalidade”, relatou Ribeiro, explicando que essa postura contribuiu para que Dom Pedro II fosse visto com admiração em Portugal.
O especialista também destacou que a figura do imperador é cada vez mais revisitada por historiadores brasileiros e portugueses, sobretudo a partir de novas pesquisas que revelam detalhes sobre sua vida e governo.
Hoje há um olhar mais apurado, longe das visões depreciativas do período logo após a proclamação da República”, explicou.
Por fim, Ribeiro ressaltou como o reinado de Dom Pedro IIreforçou laços entre Brasil e Portugal, não apenas pela afinidade pessoal com a família real portuguesa, mas também pelas conexões dinásticas e pelos gestos de carinho mútuo.
"Ele tinha um grande amor pelo Brasil e, quando descobrem quem foi essa figura, tanto portugueses quanto brasileiros ficam fascinados pela sua história", concluiu o historiador.


