Estudo sobre extinção em massa revela como ostras mostram possíveis causas
Aventuras Na História

Pesquisadores da Universidade de St Andrews, em parceria com a Universidade de Birmingham, ambas localizadas no Reino Unido, conduziram uma investigação utilizando ostras fossilizadas para examinar como a acidificação dos oceanos pode ter influenciado uma significativa extinção em massa. Este evento ocorreu aproximadamente 201 milhões de anos atrás e apresenta semelhanças com as condições atuais enfrentadas pelos oceanos.
O estudo focaliza uma das cinco maiores extinções em massa registradas nos últimos 540 milhões de anos, que aconteceu na transição entre os períodos Triássico e Jurássico. Esse evento é considerado crucial, pois pode ter sido um fator determinante para a ascensão dos dinossauros durante o período subsequente.
Molly Trudgill, primeira autora do estudo publicado na revista Nature e pesquisadora do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente (LSCE) na França, afirmou que não se pode afirmar categoricamente que a acidificação dos oceanos foi a principal responsável pela extinção em massa, mas reconhece que desempenhou um papel relevante. Ela ressaltou que eventos de extinção geralmente resultam de uma combinação de fatores, dificultando a avaliação do impacto específico da acidificação oceânica.
A pesquisadora comentou sobre a dificuldade de obter amostras que vivenciaram diretamente o evento de extinção, enfatizando que se tratou de uma crise de calcificação. "Muitos organismos que formam conchas enfrentaram sérias dificuldades, incluindo as ostras que analisamos", explicou Trudgill.
A acidificação oceânica é causada pelo aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera e pela redução dos níveis de oxigênio nos oceanos. Durante o período da extinção estudada, a Terra estava sujeita a intensa atividade vulcânica, que liberava grandes quantidades desse gás na atmosfera.
A professora Catia Fernandes Barbosa, do Departamento de Geoquímica da UFF e não envolvida no estudo, observou que eventos como a fragmentação do supercontinente Pangeia contribuíram para esse cenário no Triássico. Ela destacou que o artigo complementa outras pesquisas que demonstram a gravidade das condições desse período geológico.
Conforme o estudo, o pH dos oceanos naquela época apresentou uma queda mínima de 0,29 unidades na escala de pH, com evidências sugerindo que a redução pode ter ultrapassado 0,4. Vale ressaltar que alterações aparentemente pequenas no pH têm um impacto considerável sobre os organismos marinhos devido à natureza logarítmica da escala.
Para chegar a essas conclusões, a equipe analisou isótopos estáveis de carbono em fósseis de ostras encontrados na costa do País de Gales. Na época em questão, esses organismos habitavam um oceano raso que cobria grande parte da Europa contemporânea.
Segundo a 'Revista Galileu', a acidificação teve consequências devastadoras para os corais prosperando durante o Triássico, com estimativas indicando que cerca de 96% dos gêneros de corais foram extintos nesse período.
Perspectivas futuras
Atualmente, o pH dos oceanos já diminuiu 0,1 unidade desde o início da Revolução Industrial, resultando em mares aproximadamente 30% mais ácidos. A taxa de emissão de carbono tem sido mais acelerada do que no final do Triássico, conforme salientou Trudgill, deixando menos tempo para que processos naturais possam mitigar esses efeitos.
A professora Barbosa enfatizou que eventos passados podem oferecer importantes insights sobre o futuro do planeta. "Na geologia, utilizamos o presente como chave para entender o passado, pois admitimos que processos atuais já ocorreram anteriormente", afirmou. "Além disso, observar esses eventos históricos pode ser fundamental para compreendermos os desafios futuros", completou.
Ela lembrou ainda que há 200 milhões de anos ocorreu uma severa crise de bio-calcificação, resultando em uma drástica redução na diversidade dos organismos calcificadores. Esses organismos são especialmente vulneráveis à acidificação das águas devido à diminuição da disponibilidade de íons carbonato necessários para formar suas conchas e esqueletos.

