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Sínodo do Cadáver: Quando um papa morto foi levado a julgamento
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Sínodo do Cadáver: Quando um papa morto foi levado a julgamento

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Aventuras Na História
22/07/2025 20h00
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No século 9, a Igreja Católica protagonizou um dos episódios mais bizarros de sua história: o julgamento de um papa morto. Conhecido como Sínodo do Cadáver (Synodus Horrenda, em latim), o evento ocorreu em janeiro de 897, quando o corpo do papa Formoso, morto havia oito meses, foi desenterrado e levado a julgamento em Roma.

Formoso, que foi papa de outubro de 891 até sua morte, em abril de 896, assumiu o pontificado em meio a um período de instabilidade política e eclesiástica. Antes disso, como bispo de Porto, já havia sido acusado de governar mais de uma diocese ao mesmo tempo e de ambicionar o papado, o que o levou à excomunhão pelo então papa João VIII.

Após a morte violenta de João — o pontífice foi vítima de assassinato em 882 —, Formoso foi reintegrado por seu sucessor, Marinus I, que ficaria no poder por apenas um ano. Depois veio Adriano III, que também viria a óbito com apenas um ano no poder. O papa seguinte, Estêvão V, reinaria por seis anos antes que chegasse a vez de Formoso.

Disputas de poder

Durante seu curto pontificado, Formoso envolveu-se em disputas de poder entre as casas reais europeias. A princípio, apoiou Lamberto de Espoleto como imperador do Sacro Império Romano-Germânico, mas depois voltou-se para Arnulfo da Caríntia, atitude essa que lhe renderia muitos inimigos, conforme informações do portal All That's Interesting.

Após sua morte por causas naturais, sucederam-no dois papas em em pouco tempo: Bonifácio VI, que morreu após duas semanas no cargo; e Estêvão VI, que ordenaria o julgamento incomum.

O papa Formoso / Crédito: Domínio público/Cavallieri

Julgamento

A mando do papa, foi realizada a exumação do corpo de Formoso. O cadáver foi então vestido com os trajes papais e colocado no trono da basílica de Latrão para que fosse formalmente julgado.

Na ocasião, um diácono foi designado para responder em nome do morto, que era acusado de múltiplos crimes: ter assumido cargos episcopais simultâneos, violando o direito canônico; ter perjurado ao aceitar o papado após prometer não ocupar novos cargos eclesiásticos; e ter quebrado um juramento que ele havia feito de permanecer um leigo.

A motivação de Estêvão era, em parte, política, mas também pessoal: ele próprio havia sido promovido a bispo por Formoso, o que colocava sua legitimidade em risco. Se anulasse as ações do antecessor, poderia reforçar sua própria posição.

O julgamento foi um espetáculo macabro. O cadáver em decomposição foi sustentado em uma cadeira e "interrogado" diante de um público estarrecido. No meio do julgamento, um terremoto atingiu Roma, o que foi considerado por muitos como um sinal divino de desaprovação. Ainda assim, o julgamento prosseguiu, e Formoso foi considerado culpado.

Punição

Como punição, as vestes do cadáver foram arrancadas, além de que três dedos da mão direita — aqueles usados para bênçãos — foram cortados, e todos os atos oficiais de seu papado foram anulados. Depois disso, o corpo foi enterrado às pressas, mas não demoraria muito até que fosse desenterrado novamente e lançado ao rio Tibre — destino reservado, na tradição romana, a criminosos desprezíveis.

Mais tarde, o corpo foi recuperado secretamente por um pescador ou monge, e o horror do julgamento gerou uma onda de indignação. Estêvão VI, cada vez mais impopular, foi deposto pela própria população, preso e, pouco depois, estrangulado na prisão em agosto de 897.

A turbulência, no entanto, não terminou com sua morte. Seu sucessor, o papa Romano, governou por apenas alguns meses, seguido por Teodoro II, que durou apenas 20 dias no trono papal.

Mesmo com um papado tão breve, Teodoro ordenou que o corpo de Formoso fosse recuperado e devidamente enterrado. João IX, papa seguinte, garantiu posteriormente um enterro digno a Formoso na Basílica de São Pedro, ao lado de outros pontífices.

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