Sob pressão, cidade natal de Hitler renomeia ruas ligadas ao nazismo

Aventuras Na História






A cidade austríaca de Braunau am Inn, onde Adolf Hitler nasceu em 1889, decidiu remover os nomes de duas ruas que homenageavam figuras ligadas ao nazismo, após anos de pressão de grupos de memória histórica. A decisão foi tomada por maioria na câmara municipal e marca mais um capítulo no esforço — ainda controverso — da Áustria para lidar com seu passado nazista.
Segundo a vereadora social-democrata Martina Schäfer, a votação ocorreu a portas fechadas e terminou com 28 votos favoráveis e nove contrários. As ruas afetadas homenageavam Josef Reiter, compositor e aliado de Hitler, e Franz Resl, propagandista pangermanista. Reiter, que havia recebido cidadania honorária da cidade, já havia tido esse título revogado em março.
A medida teve forte oposição do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema direita, fundado por ex-membros do partido nazista após a Segunda Guerra Mundial e hoje a força política dominante no país.
A decisão foi impulsionada por iniciativas do Comitê Austríaco de Mauthausen, organização dedicada à memória das vítimas do Holocausto. "É um passo simbólico, mas importante, para cortar os vínculos com a exaltação indireta de figuras associadas ao nazismo", afirmou Robert Eiter, membro do comitê.
A cidade de Linz, onde Hitler passou parte da juventude, já havia tomado decisão semelhante em 2023 ao renomear uma rua com o nome de Franz Resl.
Casa de Hitler
O debate sobre como lidar com o legado nazista em Braunau não se limita aos nomes de ruas. Desde 2016, o governo austríaco assumiu a posse da casa onde Hitler nasceu e iniciou obras para transformá-la, até 2026, em uma delegacia de polícia e centro de formação em direitos humanos. A escolha foi feita para evitar que o local se torne um ponto de peregrinação neonazista.
A decisão, no entanto, é alvo de críticas. O diretor austríaco Günter Schwaiger, que filmou um documentário sobre o imóvel, afirmou que transformá-lo em delegacia seria "realizar o desejo de Hitler", que defendia o uso administrativo de edifícios públicos como instrumento de poder estatal.
O Comitê de Mauthausen também preferiria ver a casa convertida em um memorial. Criado em 1944 por prisioneiros do campo de concentração de mesmo nome, o comitê organiza cerimônias memoriais e mantém contato com sobreviventes e suas famílias. Para seus integrantes, o uso do local como espaço de memória seria mais apropriado para refletir sobre o passado nazista da região.
Reconhecimento tardio
A Áustria tem um histórico complexo em relação ao seu papel na Segunda Guerra Mundial. Durante décadas após o fim do conflito, o país se apresentava como "primeira vítima" da Alemanha nazista. Somente a partir da década de 1980, passou a reconhecer e discutir abertamente sua participação no Holocausto.
Segundo 'O Globo', estima-se que 65 mil judeus austríacos foram assassinados pelos nazistas, e outros 130 mil foram forçados a fugir do país.
A decisão de Braunau pode parecer pequena diante da magnitude histórica, mas para os ativistas da memória, ela representa mais um passo na reparação simbólica por um passado que, por muito tempo, o país tentou esquecer.


