Velho Pescador: A curiosa pintura de duas faces ocultas

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Ao longo da história da arte, vários pintores de diferentes lugares do mundo e períodos deixaram suas marcas, ao criar obras cuja memória duraria para além dos séculos, e que deixariam qualquer pessoa intrigada ao observar.
Enquanto alguns cativam pela representação fidedigna, e outros pelo viés interpretativo que suas obras carregam, há também artistas cujas telas chamam atenção pela ilusão de ótica, quando aparentam mostrar algo, mas, na verdade, também podem mostrar outra coisa. E um exemplo claro disso é na pintura 'Velho Pescador', do artista húngaro Tivadar Kosztka Csontváry.
Tivadar Kosztka Csontváry
Nascido em julho de 1853, Csontváry primeiro se formou em farmácia, em 1875, e começou a trabalhar como farmacêutico. Nessa época, todos o conheciam como uma pessoa um tanto excêntrica, embora ainda tranquila e trabalhadora, segundo o site SopronMédia.
Foi só em uma tarde quente de outono, no dia 13 de outubro de 1880, que ele sentou-se para descansar em frente à porta da farmácia em que trabalhava, e desenhou uma carroça de bois que estava bem em frente ao local, no verso de uma receita. Quando viu o desenho, o gerente da farmácia exclamou "você nasceu para ser pintor!", e, neste momento, Csontváry voltou-se para o mundo da arte.
Sacrifiquei minha vida para descobrir o que é verdade, como o mundo se desenvolve e como continuará a se desenvolver, porque tudo o que existe se desenvolveu a partir da vontade do positivo e tudo o que será se desenvolverá com base na revelação do positivo", já escreveu o artista.

Velho Pescador
Criada por Csontváry em 1902, a pintura 'Velho Pescador' é parte do círculo bastante restrito de suas obras que lembram retratos, com uma figura misteriosa e simbólica no centro que incorpora emoções extremas. Porém, o que mais chama atenção é o fato de que o pescador retratado possui seu rosto curiosamente assimétrico — e essa assimetria revelou outras imagens dentro daquela tela.
Isso porque especialistas determinaram que, quando o lado esquerdo da tela é espelhado, o observador pode ver, em vez do pescador normalmente, o velho sentado em um barco na Baía de Nápoles, com as mãos juntas em oração, como mar e o Vesúvio atrás dele, completamente em paz. No entanto, quando o lado direito é espelhado, fica evidente uma figura demoníaca sentada em um caixão, com o mar e revolto e o vulcão em erupção ao fundo.

"O público há muito tempo se interessa pelo fato de que — usando a vara na mão do homem como eixo vertical — ao espelhar o lado esquerdo da imagem vemos um velho gentil juntando as mãos em oração, com uma paisagem calma atrás dele; se espelharmos o lado direito, por outro lado, vemos um fundo de paisagem turbulenta, um Vesúvio em erupção e uma figura quase satânica em primeiro plano", explica ao SopronMédia a historiadora da arte Andrea Pirint.
Dualidade humana
Um velho ditado diz que somos os olhos, a boca, as mãos e os pés tanto do diabo quanto de Deus. Até mesmo Jesus disse: "não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo, porque ou somos um em nossos pensamentos, emoções e ações, ou somos outro, mas carregamos ambas as possibilidades dentro de nós. A liberdade de decisão e escolha é nossa".
E, segundo especialistas, é justamente essa dualidade que Csontváry quis representar na pintura. "Se isso for intencional, então obviamente expressa a dualidade da natureza humana, bem e mal, angelical e demoníaca. De fato, sente-se esse tipo de dualidade mesmo sem espelhamento", acrescenta Andrea Pirint.



