Ex-jogador usa autismo para justificar 60 socos na namorada e psicólogo rebate: 'Capacitismo'
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O ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral foi preso em Natal (RN) após ser flagrado em vídeo desferindo mais de 60 socos no rosto da namorada dentro de um elevador de condomínio, durante uma saída de um churrasco no último fim de semana. A gravação, obtida por câmeras de segurança, mostra a brutalidade do ataque que deixou a vítima com o rosto desfigurado e ferimentos graves. Em depoimento à polícia, Igor alegou ter sofrido uma “crise de claustrofobia”, mas a postura gerou críticas por parecer justificar o crime. Em entrevista à Inter TV Cabugi a delegada Victória Lisboa ainda afirmou que Ignor afirma ter transtorno do espectro autista (TEA), algo que foi negado posteriormente. A agressão é tratada como tentativa de feminicídio e provocou grande revolta nas redes sociais, com cobranças de punição exemplar às autoridades
Diante da brutal agressão, o caso ganhou enorme repercussão e levantou debates urgentes sobre violência de gênero e os mecanismos que a sustentam. Para compreender melhor os fatores psicológicos por trás desse tipo de comportamento, conversamos com o médico especialista em saúde mental, Dr. Iago Fernandes, que analisou o perfil do agressor e a declaração sobre seu possível diagnóstico de TEA.
Em primeiro lugar, o profissional pontuou que é inaceitável se esconder atrás de um diagnóstico para tentar justificar uma ação criminosa como a de Igor: “A tentativa de se esconder atrás de um diagnóstico para explicar um crime brutal é uma covardia dupla — covardia por agredir uma mulher, e covardia por deslegitimar a luta diária da comunidade autista”.
O profissional, que é autista, afirmou que nenhuma crise relacionada ao espectro leva alguém a cometer um crime brutal como o do ex-jogador: “É verdade que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar, em situações específicas, comportamentos agressivos ou de autoagressão. Mas isso ocorre geralmente em resposta a sobrecarga sensorial, frustração, dor, dificuldades de comunicação ou crises de regulação emocional — nunca com o direcionamento intencional, repetitivo e brutal que caracteriza um ato de feminicídio”.
Injustificável
Iago segue apresentando um estudo do Journal of Autism and Developmental Disorders (2016) que indica que a agressividade em pessoas autistas “geralmente está ligada à comunicação limitada e não à intenção de causar dano”. O artigo ainda pontua que pessoas que possuem o TEA possuem mais chances de serem vítimas de violência do que autores. “A violência contra a mulher é um ato de poder, controle e dominação — não um episódio de desregulação momentânea e involuntária”, pontuou.
Para o profissional, falar que sua violência foi um “surto claustrofóbico causado pelo TEA” é “oportunismo e manipulação criminosa”. “Ele não só agrediu brutalmente sua companheira com dezenas de socos, como tentou escapar da responsabilização usando um diagnóstico como escudo. Isso é um ultraje — com a vítima, e com toda a comunidade autista”, disse.
E pontua seriamente: “O autismo não induz violência. O autismo não produz feminicidas. O autismo não pode ser romantizado, nem banalizado, e muito menos utilizado como desculpa para criminosos. Essa atitude reforça preconceitos, estigmatiza milhões de pessoas autistas e sabota décadas de luta por inclusão, compreensão e respeito. É capacitismo. É desinformação. É má-fé”.
Por fim, o profissional opina que Igor deve ser punido normalmente por seus atos pois eles não podem ser justificados por um diagnóstico inexistente: “A responsabilidade é individual, legal e moral. Quem bate em mulher deve responder criminalmente. Quem tenta manipular diagnósticos para escapar da Justiça deve ser ainda mais punido — porque além do crime, perpetua ignorância e sofrimento coletivo”.
