3I/ATLAS, o misterioso cometa que intriga astrônomos
Aventuras Na História

Cometas provenientes do nosso próprio Sistema Solar são relativamente comuns e amplamente documentados, mas aqueles que vêm de outros sistemas estelares constituem uma raridade extraordinária. Por essa razão, o cometa interestelar 3I/ATLAS, cuja descoberta e validação orbital foram oficializadas pela União Astronômica Internacional (IAU) em 2 de julho, vem atraindo grande atenção do público e impulsionando uma intensa mobilização científica.
De acordo com o professor Dr. Marcos Calil, da Urânia Planetário, que conversou com o Aventuras na História, até a descoberta do corpo celeste mencionado, apenas dois desses cometas haviam sido confirmados: o 1I/ʻOumuamua, descoberto em 19 de outubro de 2017, e o 2I/Borisov, identificado em 30 de agosto de 2019. E é justamente por ser ser raro que o 3I/ATLAS se torna uma oportunidade científica singular. Afinal, sua passagem oferece uma oportunidade única para estudar materiais formados em outro ambiente estelar, o que poderia ampliar nosso entendimento sobre a diversidade e os processos que moldam sistemas planetários além do nosso.
Uma única certeza
Até o momento, destaca o Dr. Calil, a única certeza que temos é que, devido à sua trajetória hiperbólica, o cometa não pertence ao Sistema Solar. Isso mesmo. Surpreendentemente, ele é originário de um sistema estelar desconhecido.
Como destaca o pesquisador, existe um estudo académico chamado “Prospects for the Crossing of Comet 3I/ATLAS’s Ion Tail”, o qual prevê a possibilidade de a Europa Clipper atravessar a cauda iónica de 3I/ATLAS entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro deste ano.” No entanto, destaca, “até o presente momento, não existe nenhuma menção no site oficial da NASA ou no banco de comunicados da JPL referente a uma nota de imprensa que assumisse a manobra como parte formal da missão ou que confirmasse instrumentos configurados especificamente para isso.”
Além disso, a página oficial da NASA dedicada ao 3I/ATLAS apresenta a lista de missões e instrumentos já envolvidos ou planejados para observá-lo — entre eles o Hubble, o James Webb, o SPHEREx, o TESS, sondas em Marte e a missão Europa Clipper. Esse panorama evidencia uma campanha global e coordenada de monitoramento, ainda que, até agora, não exista qualquer confirmação de uma aproximação direta ou encontro programado com o cometa.
A Agência Espacial Europeia, por sua vez, já registrou observações do 3I/ATLAS por meio do ExoMars TGO e da sonda Mars Express, realizadas entre 1º e 7 de outubro de 2025, durante a passagem do objeto nas proximidades de Marte. Estudos sobre esses dados estão em andamento.
Por que é importante estudá-lo?
A análise desse cometa pode oferecer pistas valiosas sobre moléculas novas, misturas de voláteis e assinaturas isotópicas potencialmente distintas das que conhecemos no Sistema Solar. Contudo, até o momento, a própria NASA limita-se a listar os instrumentos e missões envolvidos na campanha observacional, sem afirmar a detecção de elementos químicos inéditos ou de substâncias desconhecidas na Terra.
Até o momento, sabe-se que observações feitas com o Telescópio Espacial James Webb (JWST) indicaram que a coma do cometa 3I/ATLAS é predominantemente composta por dióxido de carbono (CO₂), apresentando uma proporção CO₂/H₂O em torno de 8:1, muito superior à observada na maioria dos cometas do nosso Sistema Solar.
Também há relatos de detecção de níquel atômico (Ni) em concentrações incomuns para cometas do Sistema Solar. No entanto, especialistas ressaltam que essas leituras, tanto de níveis elevados de níquel quanto de outras assinaturas atípicas, devem ser interpretadas com cautela, pois podem refletir processos de formação distintos ou efeitos da radiação cósmica, e não necessariamente indicar a presença de “novos elementos”.

