Antigos humanos usavam ferramentas de madeira para coletar alimentos

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Pesquisadores realizaram uma descoberta notável na China ao localizar 35 ferramentas de madeira datadas do Paleolítico, que demonstram um nível impressionante de habilidade artesanal e habilidades cognitivas avançadas, além de oferecer novas perspectivas sobre a dieta dos humanos antigos.
A pesquisa, publicada na última quinta-feira, 3, na revista Science, indica que os artefatos possuem aproximadamente 300.000 anos, tornando-se os mais antigos objetos de madeira já documentados na região da Ásia Oriental. Entre as ferramentas encontradas, destacam-se varas de escavação feitas de pinho e madeira dura, ganchos utilizados para cortar raízes e pequenos instrumentos pontiagudos para extrair plantas comestíveis do solo.
Bo Li, professor da Escola de Ciências da Terra, Atmosféricas e da Vida da Universidade de Wollongong, Austrália, e autor principal do estudo, comentou: "Esta descoberta é excepcional porque preserva um momento no tempo em que os primeiros humanos estavam usando ferramentas de madeira sofisticadas para colher recursos alimentares subterrâneos."
Artefatos raros
Segundo o portal Live Science, as ferramentas pertencem ao período Paleolítico inicial, também conhecido como a Idade da Pedra Lascada (entre 3,3 milhões e 300.000 anos atrás).
Artefatos de madeira dessa época são extremamente raros devido à decomposição orgânica, e apenas alguns poucos sítios arqueológicos forneceram objetos semelhantes. No entanto, a maioria desses artefatos, como lanças encontradas em Schöningen, na Alemanha, foi projetada para a caça; ao contrário das ferramentas recém-descobertas, que foram criadas para escavação.
As ferramentas foram localizadas em sedimentos argilosos pobres em oxigênio nas margens de um lago antigo no sítio arqueológico de Gantangqing, localizado na província de Yunnan, no sudoeste da China. Os sedimentos ajudaram a preservar marcas intencionais de polimento e raspagem nas ferramentas, assim como restos vegetais e de solo nas bordas que forneceram pistas sobre suas funções.
Os pesquisadores afirmaram: "Nossos resultados sugerem que os hominídeos em Gantangqing fizeram uma utilização estratégica dos recursos alimentares à beira do lago." Eles indicaram que esses ancestrais humanos realizavam visitas planejadas à margem do lago levando consigo ferramentas fabricadas a partir de madeiras selecionadas para explorar tubérculos subterrâneos.
A evidência dessas visitas planejadas demonstra que há 300.000 anos, os ancestrais humanos na Ásia Oriental estavam criando e utilizando ferramentas para fins específicos, revelando um considerável nível de previsibilidade e intenção. Os artefatos também sugerem que esses humanos primitivos tinham um bom conhecimento sobre quais plantas e partes delas eram comestíveis.
Li destacou ainda que "as ferramentas mostram um nível de planejamento e artesanato que desafia a noção de que os hominídeos da Ásia Oriental eram tecnologicamente conservadores". Esta perspectiva estava enraizada em descobertas anteriores na região que apresentavam ferramentas de pedra consideradas "primitivas" quando comparadas às encontradas na Eurásia ocidental e na África.
Técnica de datação
Para datar as ferramentas, os pesquisadores utilizaram uma técnica desenvolvida por Li que combina luminescência infravermelha e ressonância eletrônica por spin. Essas metodologias medem a idade do material pela quantidade de elétrons aprisionados em defeitos cristalinos devido à exposição à radiação natural. Ambas as técnicas indicaram que as ferramentas têm entre 250.000 e 361.000 anos.
Embora os restos vegetais presentes nas ferramentas não tenham sido identificados devido à sua decomposição avançada, outras evidências encontradas em Gantangqing indicam que os primeiros humanos dessa região consumiam frutas silvestres, pinhões, avelãs, kiwis e tubérculos aquáticos.
Li concluiu afirmando: "A descoberta desafia suposições anteriores sobre a adaptação dos primeiros humanos. Enquanto os sítios contemporâneos europeus (como Schöningen na Alemanha) se concentraram na caça de grandes mamíferos, Gantangqing revela uma estratégia única de sobrevivência baseada em plantas."


