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Astrônomos descobrem 'faísca' em lixo espacial na órbita da Terra
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Astrônomos descobrem 'faísca' em lixo espacial na órbita da Terra

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Aventuras Na História
30/06/2025 18h54
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16552188/original/open-uri20250630-35-16tqte2?1751310009
©Reprodução/CSIRO
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Em 13 de junho, astrônomos australianos detectaram um dos sinais de rádio mais brilhantes já captados vindos do céu — um pulso tão intenso que, por instantes, ofuscou todas as demais fontes no universo observável. A equipe, empolgada, chegou a pensar que havia descoberto um fenômeno cósmico inédito nas proximidades da Terra. Mas a verdadeira origem da explosão de energia veio de muito mais perto: um satélite aposentado lançado em 1964, transformado há décadas em lixo espacial.

A descoberta, liderada pelo astrônomo Clancy James e sua equipe no Instituto de Radioastronomia Curtin da Universidade Curtin, na Austrália Ocidental, foi publicada na The Astrophysical Journal Letters. Ela destaca tanto o potencial das observações de rádio de altíssima precisão quanto os desafios crescentes impostos pelos detritos que orbitam nosso planeta.

Falso alarme cósmico

O sinal foi registrado pelo ASKAP, um avançado conjunto de 36 antenas parabólicas instalado em território Wajarri Yamaji, no interior australiano. Os pesquisadores procuravam "rajadas rápidas de rádio" (FRBs, na sigla em inglês) — flashes milissegundos de energia vindos de galáxias distantes que ainda intrigam a ciência. A intensidade do sinal captado, cerca de 2.000 a 3.000 vezes mais brilhante do que o normal, imediatamente chamou a atenção.

"Parecia um evento astronômico inédito", explicou James. "Mas quando analisamos melhor, percebemos que a fonte estava a apenas 4.500 quilômetros da superfície terrestre. Isso é muito próximo para ser algo vindo do espaço profundo".

A imagem do telescópio estava desfocada, o que também indicava que o sinal vinha do chamado "campo próximo" das antenas — incompatível com objetos cósmicos. Ao rastrear a origem exata, os cientistas cruzaram os dados com registros de órbita de satélites e encontraram uma coincidência perfeita: o sinal veio do Relay 2, satélite de comunicações da NASA lançado em 1964 e inativo desde 1967.

Faísca no espaço

O evento durou apenas 30 nanossegundos — um bilionésimo de segundo — mas foi o suficiente para levantar uma série de questões sobre o comportamento de objetos inativos no espaço. A explicação mais provável para a poderosa rajada de energia é uma descarga eletrostática: o acúmulo de carga na estrutura metálica do satélite que, subitamente, foi liberado como uma faísca.

"É como esfregar os pés no carpete e depois dar um choque em alguém com o dedo", explicou James. "Só que em vez de um tapete, é o vácuo espacial, e em vez de um dedo, é um satélite do tamanho de um carro".

Uma segunda hipótese, menos provável, é o impacto de um micrometeorito, que poderia gerar uma explosão de plasma ao colidir com o satélite a altíssima velocidade. No entanto, os cientistas consideram mais plausível a versão da faísca eletrostática, especialmente em satélites antigos que não foram projetados para dissipar essas cargas.

Novo ruído

A descoberta trouxe uma preocupação importante para a astronomia moderna: como distinguir sinais reais do cosmos de emissões artificiais geradas por satélites? Com mais de 22 mil satélites lançados desde o início da Era Espacial — e pouco mais da metade ainda funcionando — a densidade de objetos na órbita da Terra cria um campo de interferências cada vez mais difícil de ignorar.

"Estamos tentando captar rajadas milimétricas de objetos distantes, e agora sabemos que satélites também podem produzir algo muito parecido. Isso exige mais cuidado em futuras observações", alertou James.

Astrônomos independentes, como James Cordes, da Universidade Cornell, e Ralph Spencer, da Universidade de Manchester, consideraram a análise "abrangente" e "sensata". Ambos concordam que fenômenos como esse, embora não sejam novidade, podem ser confundidos com sinais astrofísicos se não forem cuidadosamente verificados.

Segundo a CNN, o episódio também reforça a urgência do debate sobre o lixo espacial e a necessidade de tecnologias que ajudem a monitorar e mitigar seus efeitos — não apenas para a segurança orbital, mas também para a integridade da ciência que tenta escutar o universo.

"Esse evento nos mostra que há muito acontecendo lá em cima, mesmo com satélites que pensávamos estar inativos há décadas", concluiu James. "E que às vezes, o sinal mais brilhante do céu não vem de uma estrela — mas de algo que esquecemos em órbita".

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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