Home
Tecnologia
Cidade Perdida: O ecossistema submarino que pode revelar como a vida surgiu na Terra
Tecnologia

Cidade Perdida: O ecossistema submarino que pode revelar como a vida surgiu na Terra

publisherLogo
Aventuras Na História
23/06/2025 17h20
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
https://timnews.com.br/system/images/photos/16547845/original/open-uri20250623-18-1emsg4n?1750699723
©D. Kelley/M. Elend/UW/URI-IAO/NOAA/The Lost City Science Team
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE

Nas profundezas do Oceano Atlântico, pesquisadores descobriram um ambiente misterioso que pode guardar pistas sobre a origem da vida em nosso planeta.

Batizado de Cidade Perdida, esse campo de torres minerais é o sistema hidrotermal mais antigo já encontrado nos oceanos e parece espelhar as condições da Terra primitiva.

Localizado a mais de 700 metros abaixo da superfície, na encosta de uma montanha submersa na Dorsal Mesoatlântica, o campo hidrotermal existe há mais de 120 mil anos. A região marca o encontro de placas tectônicas e é um ponto-chave para a atividade geológica do planeta.

Sobre o local

As imponentes torres da Cidade Perdida — algumas chegando a quase 60 metros de altura — são formadas por um processo chamado serpentinização, quando a água do mar reage com o manto rochoso profundo.

NSF/NOAA/University of Washington

Essa reação libera metano e hidrogênio, gases que alimentam comunidades microbianas capazes de viver sem luz solar ou oxigênio — uma raridade na Terra.

Em uma das mais recentes expedições, os cientistas conseguiram extrair uma amostra de rocha do manto, material que abastece as fontes termais e pode ajudar a decifrar as reações químicas que acontecem nas profundezas do oceano. 

Essas reações produzem hidrocarbonetos — compostos orgânicos essenciais para a formação da vida — em um ambiente sem luz ou ar, algo que possivelmente ocorreu nos primórdios do planeta.

Isolado cerca de 14 quilômetros a oeste do eixo da Dorsal Mesoatlântica e ao sul dos Açores, o local permaneceu intocado pela atividade humana durante milênios. Por isso, se tornou um verdadeiro laboratório natural, onde cientistas estudam como a vida pode ter começado a partir de matéria inorgânica.

As fontes hidrotermais da Cidade Perdida, conhecidas por nomes como IMAX, Poseidon, Seeps e Nature, emitem fluidos quentes e alcalinos — chegando a até 90 °C — criando um ambiente extremo, mas estável, para formas de vida únicas. 

Nas partes internas das chaminés vivem micróbios que se alimentam apenas de metano e hidrogênio. Já nas superfícies externas, criaturas raras como camarões, caracóis e ouriços-do-mar se fixam nas estruturas minerais.

Além de sua importância na Terra, a Cidade Perdida também inspira hipóteses sobre a possibilidade de vida em outros mundos. O microbiologista William Brazelton afirmou à Smithsonian Magazine que esse tipo de ecossistema poderia existir hoje em luas como Encélado (de Saturno) ou Europa (de Júpiter), que abrigam oceanos sob camadas de gelo.

Mas esse tesouro natural corre perigo. Em 2017, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) autorizou a Polônia a explorar uma área da Dorsal Mesoatlântica próxima à Cidade Perdida. 

Embora o sítio em si não contenha minérios de interesse comercial, campos vizinhos podem atrair a mineração de sulfetos polimetálicos. Essa atividade representa um risco: o levantamento de sedimentos e a liberação de substâncias tóxicas podem comprometer ecossistemas delicados e únicos.

Por enquanto, a Cidade Perdida já foi reconhecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica como uma Área Marinha Ecológica ou Biologicamente Significativa (EBSA), e a UNESCO analisa sua inclusão como Patrimônio Mundial — um passo que pode fortalecer os esforços pela sua preservação.

Para os cientistas, a urgência é clara: uma vez danificado, esse ecossistema pode nunca mais se recuperar. E, com ele, perderíamos uma das melhores chances de entender como a vida surgiu na Terra.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE
Confira também