Onça preta rara é vista acasalando na Amazônia em registro inédito
Aventuras Na História

Em um feito inédito, uma equipe de pesquisadores conseguiu registrar o acasalamento entre uma onça-pintada melanística e uma onça-pintada comum no Parque Nacional da Serra do Pardo, localizado na região do Rio Xingu, na Amazônia. Essa observação notável foi documentada por cientistas da Universidade de East Anglia (UEA) e os detalhes do estudo foram publicados na revista Ecology and Evolution em 25 de agosto.
A filmagem, que tem duração de seis minutos, ocorreu durante a Expedição de Biodiversidade e Carbono na Amazônia (ABC), que visa mapear a biodiversidade local. A fêmea de pelagem preta apresentou essa coloração devido ao excesso de melanina, um pigmento natural que afeta a coloração da pele. Carlos Peres, professor do departamento de Ciências Ambientais da UEA, destacou a importância do registro: “Tiramos a sorte grande e capturamos a primeira filmagem de uma onça preta acasalando com um macho malhado na natureza. A sequência de seis minutos revela o namoro e a cópula, e se eles tivessem se movido alguns metros, teríamos perdido tudo”.
A gravação é particularmente valiosa em um contexto onde há escassez de informações sobre as espécies que habitam a vasta área conhecida como Pan-Amazônica. De acordo com o portal Galileu, a descoberta serve como um indicativo de que ainda há muito a ser aprendido sobre a vida selvagem dessa região.
Estudos são desafiadores
Os estudos sobre as onças-pintadas são desafiadores devido ao comportamento solitário desses felinos em seu habitat natural. O registro do acasalamento proporciona novos dados sobre o comportamento das onças-pintadas, especialmente considerando que tal comportamento raramente é documentado fora do cativeiro.
Além disso, os pesquisadores observaram que a onça preta poderia estar em um estado de lactação, o que levanta a possibilidade de que ela estivesse exibindo um comportamento conhecido como “pseudoestro”, utilizado para confundir possíveis pais e proteger seus filhotes. Thomas Luypaert, da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida (NMBU), explicou: “Se a fêmea estava de fato lactando, isso pode significar que ela estava usando uma estratégia de ‘esconde-esconde”.
O melanismo nas onças-pintadas é resultado de uma mutação genética que ocorre com mais frequência em ambientes úmidos como os da Amazônia. Embora existam diferenças morfológicas entre os animais melanísticos e os malhados, o estudo não encontrou variações significativas nos padrões de acasalamento entre eles.
Uma grande surpresa
Os pesquisadores também ficaram surpresos ao notar que o comportamento observado nas onças-pintadas selvagens era semelhante ao que tem sido documentado em zoológicos. Essa constatação sugere que aspectos do comportamento reprodutivo das onças podem estar profundamente enraizados e conservados mesmo em cativeiro.
Compreender as interações naturais das onças é vital não apenas para o avanço científico, mas também para aprimorar programas globais de conservação e reprodução dessas espécies ameaçadas. Os dados coletados poderão enriquecer o entendimento sobre a dinâmica social e reprodutiva desses animais e auxiliar no desenvolvimento de técnicas como inseminação artificial, levando em conta a compatibilidade entre parceiros.
O estudo espera ainda ampliar as informações sobre o fenômeno do melanismo e seu impacto no sucesso reprodutivo das onças-pintadas no futuro. “Cada novo conhecimento sobre o comportamento das onças nos ajuda a protegê-las melhor”, afirmou Luypaert. “Esses animais estão sob pressão, e precisamos de todas as informações possíveis”.
Para realizar esse tipo de observação, os pesquisadores enfatizam a importância do uso de armadilhas fotográficas e outras ferramentas não invasivas. “As armadilhas fotográficas estão revolucionando a forma como estudamos os animais”, conclui Luypaert. “Sem elas, este momento teria passado completamente despercebido”.