Pesquisa com participação brasileira descobre última refeição de pterossauro

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Um estudo recente, com colaboração brasileira, trouxe à tona detalhes fascinantes sobre a dieta de um pterossauro que viveu há cerca de 120 milhões de anos. A pesquisa, publicada na revista Science Bulletin em 1º de julho, destaca o primeiro fóssil conhecido a apresentar o trato digestivo repleto de material vegetal, confirmando assim o herbivorismo dessa espécie alada.
O fóssil foi descoberto na região nordeste da China, onde o pterossauro caiu em um lago raso e foi rapidamente coberto por sedimentos, permitindo a preservação não apenas do esqueleto, mas também do estômago do animal. Essa preservação é uma raridade no registro fóssil e fornece uma oportunidade única para os paleontólogos estudarem a alimentação desses antigos répteis.
A pesquisa foi liderada por cientistas chineses, com a participação do paleontólogo austro-brasileiro Alexander Kellner, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O exemplar em questão foi identificado inicialmente em 2019 e pertence à espécie Sinopterus atavismus, que apresenta uma envergadura que varia entre 2 e 4 metros.
Dieta dos pterossauros
A dieta dos pterossauros sempre foi um tema de debate entre os especialistas. Embora a maioria das evidências fósseis até então tivesse sugerido que esses animais eram predominantemente carnívoros, alimentando-se de peixes e pequenos répteis, algumas características anatômicas levantaram a hipótese de que certas espécies poderiam ter hábitos alimentares mais diversificados, incluindo o consumo de plantas.
No caso dos pterossauros desdentados conhecidos como tapejarídeos, suas estruturas bucais lembram as de papagaios, adequadas para triturar frutos e sementes. Contudo, até agora, essa teoria carecia de provas concretas. A descoberta do Sinopterus atavismus, com seu estômago cheio de vegetação, oferece a evidência necessária para substanciar essa hipótese.
Os pesquisadores analisaram o conteúdo estomacal através de radiografias detalhadas. As imagens revelaram a presença de cristais de quartzo e fitólitos. Os primeiros são frequentemente associados a gastrólitos, que auxiliam na trituração de alimentos duros em diversos animais modernos. Já os fitólitos são depósitos minerais encontrados nas células vegetais e foram anteriormente associados a dinossauros herbívoros.
A descoberta sugere que o pterossauro se alimentava principalmente de plantas lenhosas, possivelmente relacionadas a espécies com flores ou coníferas. Kellner destacou à revista Science: "acredito que nosso estudo abre uma nova janela com diversas possibilidades para entender melhor os animais extintos. E isso inclui o seu comportamento alimentar".
Assim, esta pesquisa não só enriquece o conhecimento sobre os pterossauros, mas também representa um marco significativo na paleontologia ao evidenciar uma dieta herbívora em um grupo previamente considerado exclusivamente carnívoro.


