Tetris: O jogo soviético que ganhou o mundo durante a Guerra Fria

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Tetris, um dos jogos de maior sucesso da história, completa 41 anos nesta sexta-feira, 6 de junho. Criado em 1984 por Alexey Pajitnov, um programador do Centro de Computação da Academia Soviética de Ciências, o jogo nasceu de uma ideia simples e brilhante: encaixar peças geométricas chamadas tetraminós para formar linhas horizontais completas.
O impacto de Tetris foi tão marcante e duradouro que, mesmo décadas mais tarde, sua história inspirou um filme lançado pela Apple TV+. O longa de 2023, intitulado "Tetris", narra como o jogo ultrapassou barreiras políticas para se tornar um fenômeno global — tudo isso em meio ao clima tenso da Guerra Fria.
Criação soviética
Conforme destacou o portal Military.com, o Tetris nasceu dentro de um regime que não reconhecia propriedade intelectual, tampouco incentivava a livre iniciativa.
Na União Soviética, tudo pertencia ao Estado — inclusive o jogo. Por isso, qualquer negociação internacional precisava passar pela Elorg (Elektronorgtechnica), uma empresa estatal responsável por exportar tecnologia. Como consequência, Pajitnov, o criador, não viu um centavo pelos direitos de sua criação até 1996.
Durante anos, o Tetris quase não escapou da União Soviética. Empresas ocidentais relutavam em apostar em um produto oriundo de um regime socialista. Mas estavam enganadas.

Negociando direitos
A verdade é que o jogo rapidamente conquistou o mundo. A história que se seguiu envolveu intrigas, contratos dúbios e uma corrida contra o tempo por direitos de distribuição, tudo em plena tensão da Guerra Fria.
O filme dramatiza essa disputa acirrada. Antes de o jogo aparecer em telas ocidentais, foi necessário driblar uma burocracia implacável. Robert Stein, um empresário britânico, foi um dos primeiros a tentar negociar os direitos, enviando um telex, uma espécie de fax, a Pajitnov.
O programador respondeu por outro telex, e Stein achou que tinha garantido a licença. Mas a URSS não funcionava assim. Stein começou a distribuir o jogo mesmo sem um contrato válido.
Inicialmente, ele teve dificuldade em encontrar compradores, mas duas empresas decidiram apostar: Mirrorsoft, na Europa, e Spectrum HoloByte, nos EUA. O sucesso veio rápido. Mas a verdadeira guerra começou com a chegada de uma nova plataforma: o Game Boy, da Nintendo.
Enquanto Stein acreditava ter controle sobre todos os formatos de Tetris — exceto fliperamas e dispositivos portáteis —, Mirrorsoft e Spectrum faziam seus próprios acordos. Os direitos começaram a ser revendidos como se fossem mercadoria livre, e em pouco tempo, mais de uma dezena de empresas acreditavam ter a posse legítima do jogo.

A confusão aumenta
A confusão só aumentou quando Henk Rogers, um empresário holandês com base no Japão, adquiriu os direitos da Atari e tentou repassá-los à Nintendo. Desconfiado da legalidade dos contratos existentes, ele voou para Moscou em 1989. Ele não foi o único. Stein e Kevin Maxwell, da Mirrorsoft, também correram para a capital soviética na tentativa de salvar seus acordos.
Em Moscou, os soviéticos finalmente perceberam a dimensão do caos que havia se espalhado pelo mundo capitalista, de modo que a Elorg decidiu anular o contrato de Stein. A Nintendo ficou com os direitos de portáteis e consoles, e partiu para cima dos concorrentes com ações judiciais, incluindo uma contra a própria Atari.
No fim das contas, a Nintendo venceu a batalha jurídica. E o mais irônico: enquanto o Ocidente lucrava com Tetris, seu criador mal era mencionado. Pajitnov só começou a receber royalties anos depois, ao se mudar para os Estados Unidos e, com ajuda de Henk Rogers, fundar a The Tetris Company.


