Enfurnados: por que os adolescentes se isolam?

Anamaria






Durante a infância, é comum ver os filhos colados nos pais: querem companhia para tudo, contam cada detalhe do dia e topam qualquer programa em família. Mas, quando a adolescência chega, essa dinâmica muda drasticamente. De repente, aquela criança tagarela que adorava conversar se tranca no quarto e parece viver em um mundo próprio onde os adultos são terminantemente proibidos.
Para muitos pais, essa falta de conexão causa insegurança e tristeza. Se você está passando por isso, saiba que dá, sim, para reconstruir os laços. Com empatia, escuta e algumas estratégias, é possível se reconectar com seu filho, sem brigas, cobranças ou sermões.
Por que os adolescentes se isolam?
O comportamento recluso não é, necessariamente, sinal de que há algo errado. De acordo com a psicóloga britânica Anita Cleare, autora do livro Enfurnados – Como tirar o seu adolescente do quarto (Editora VR), o isolamento costuma fazer parte do processo natural de crescimento. A adolescência é marcada por intensas transformações físicas, emocionais e cognitivas. É quando o jovem começa a buscar autonomia, testar os próprios limites e construir sua identidade.
Nesse momento, o quarto se torna um espaço simbólico: é onde o adolescente pode ser ele mesmo, longe dos olhares e julgamentos da família. “O quarto de um adolescente é um campo de treinamento onde ele pratica como ser independente”, explica a autora. Tentar forçá-lo a sair ou exigir proximidade a qualquer custo pode gerar o efeito contrário.
Isolamento ou alerta?
Apesar de ser uma fase comum, o isolamento precisa de atenção quando se torna excessivo ou vem acompanhado de outros sinais. Se seu filho demonstrar desinteresse por atividades que antes gostava, apresentar mudanças bruscas de humor, dificuldades na escola ou alterações no sono e apetite, vale considerar a ajuda de um profissional de saúde mental.
Muitas vezes, os adolescentes não sabem expressar o que estão sentindo – e o silêncio pode ser uma forma de pedir socorro. Por isso, mantenha-se presente e disponível, mesmo quando ele parecer distante. Seu apoio é essencial para que ele se sinta seguro.

A tecnologia como vilã
É impossível ignorar o papel da tecnologia nesse processo. Celulares, redes sociais e videogames fazem parte da rotina dos adolescentes e, em muitos casos, acabam se tornando uma espécie de refúgio. A troca de mensagens com os amigos, os jogos online e os vídeos curtos no feed oferecem estímulo imediato, algo que o cérebro adolescente adora.
O problema não está no uso em si, mas no excesso. Quando o tempo diante das telas supera as interações reais, a qualidade do sono e o convívio familiar, é hora de limitar o uso e criar espaços livres de tecnologia. Então, em vez de proibir ou criticar, a melhor saída é negociar acordos e dar o exemplo. Sim, isso significa também repensar o seu próprio uso do celular.
5 estratégias práticas para tirar seu filho do quarto
Compreender o que está por trás do comportamento do seu filho é o primeiro passo. O segundo é agir com carinho, firmeza e respeito. Confira algumas atitudes que podem ajudar:
- Espere o momento certo
Adolescentes não costumam se abrir quando são pressionados. Por isso, aproveite os momentos espontâneos: no carro, antes de dormir ou durante uma refeição. Se ele puxar conversa, mesmo que seja fora de hora, esteja presente. - Faça convites leves
Propor programas simples, como assistir a um filme juntos ou preparar uma receita, pode render mais do que um passeio programado detalhadamente. O importante é criar oportunidades, sem cobranças. - Crie espaços sem tecnologia
Estabeleça momentos em família longe das telas. Um jantar, um jogo de tabuleiro ou até uma caminhada ao ar livre são boas opções. Combine com todos da casa para dar o exemplo. - Negocie os limites
Em vez de impor regras, convide seu filho para encontrar soluções juntos. Pergunte: “Qual seria um horário justo para jogar sem atrapalhar o sono?” Isso mostra que você confia nele. - Valorize os pequenos encontros
Nem sempre haverá conversas profundas ou grandes demonstrações de afeto. Mas pequenos gestos, como uma piada compartilhada ou um lanche juntos, ajudam a manter a conexão viva.
Lembre-se: você ainda é importante para ele
Mesmo que seu filho não demonstre, a sua presença faz toda a diferença. O adolescente precisa de espaço, mas também de apoio. Mostrar que você está por perto, disposta a ouvir e a entender, é uma forma poderosa de dizer “eu me importo com você”. E, aos poucos, a porta do quarto vai se abrir.
Resumo: O isolamento na adolescência é comum, mas pode assustar os pais. A boa notícia é que dá para se reconectar com empatia, escuta e algumas estratégias simples. Compreender o comportamento do seu filho e criar espaços de convivência sem pressão pode fazer toda a diferença.
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