Descoberta genética relacionada a neandertais pode limitar atletas
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Cientistas identificaram uma variante genética, herdada dos neandertais, que pode ter um impacto negativo no desempenho atlético. Essa mutação, segundo os pesquisadores, afeta cerca de 8% da população europeia contemporânea e influencia a atividade de uma enzima crucial para a produção de energia nos músculos esqueléticos.
Uma pesquisa publicada na revista Nature Communications analisou mais de 2.700 indivíduos, revelando que aqueles portadores da variante genética neandertal apresentavam uma probabilidade 50% menor de se tornarem atletas de elite em comparação com aqueles que não possuíam essa mutação.
A variante foi detectada em até 8% dos europeus atuais, 3% dos nativos americanos e 2% dos sul-asiáticos, sendo ausente em populações africanas, asiáticas orientais e afro-americanas.Dominik Macak, autor principal do estudo e doutorando no Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva, afirmou em entrevista ao Live Science que "desde que os humanos modernos se misturaram com os neandertais há cerca de 50.000 anos, especialmente na Europa e na Ásia Ocidental, as populações não africanas carregam entre 1% e 2% de DNA neandertal".
Embora a variante neandertal não esteja associada a problemas de saúde significativos, seu efeito sobre a capacidade do corpo de produzir energia durante exercícios intensos pode resultar em um desempenho atlético reduzido em esportes de resistência e força, afirmam os pesquisadores.
Durante a atividade física, as células obtêm energia quebrando uma molécula chamada adenosina trifosfato (ATP), muitas vezes descrita como as "baterias" do corpo. Uma das maneiras pelas quais o corpo produz ATP, especialmente durante exercícios intensos, é convertendo duas moléculas de adenosina difosfato (ADP) em uma molécula de ATP e uma de adenosina monofosfato (AMP).
Segundo o 'Live Science', o ATP gerado por essa reação é utilizado para impulsionar processos energéticos nas células, enquanto o subproduto AMP é eliminado por meio da ação da enzima AMPD1. Os pesquisadores descobriram que essa enzima apresenta disfunção nos portadores da variante genética neandertal.
Análise
Para investigar os efeitos dessa variante gênica, os cientistas recriaram a versão neandertal da enzima AMPD1 em laboratório. Eles descobriram que sua atividade era 25% inferior à da enzima produzida por humanos com outras variantes do gene. Em seguida, foram geneticamente modificados camundongos para expressar a AMPD1 alterada, resultando em uma enzima até 80% menos ativa do que a variante não neandertal.
A análise da prevalência do gene entre atletas de elite e não atletas revelou que entre 4% e 14% dos atletas carregavam essa variante genética, enquanto entre 9% e 19% dos não atletas também eram portadores. A presença de apenas uma cópia do gene neandertal (dentre as duas herdadas dos pais) resultou em uma redução de 50% na probabilidade de alcançar status atlético elite.
Indivíduos com o gene neandertal podem enfrentar dificuldades em exercícios extremos devido à acumulação de AMP nos músculos, tornando mais difícil para eles produzirem ATP na velocidade necessária durante atividades físicas intensas. No entanto, essa variante genética provavelmente não impacta as atividades diárias da maioria das pessoas, nas quais a energia é obtida por outros meios. O efeito é mais pronunciado durante esportes de resistência ou atividades que exigem grande potência muscular.
Quanto ao impacto dessa variante nos próprios neandertais, Macak ressalta: "É muito improvável que essa única variação genética tenha desempenhado um papel na extinção dos neandertais. Alguns humanos modernos carregam mutações que interrompem completamente a proteína AMPD1, muitas vezes sem quaisquer problemas significativos de saúde. Portanto, embora o gene afete o metabolismo muscular, provavelmente não foi um fator decisivo para a sobrevivência deles".

