Doença celíaca: especialista de Harvard revela os principais mitos sobre ela
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A doença celíaca é uma condição autoimune que interfere na absorção de nutrientes. Quando não diagnosticada e tratada corretamente, pode causar danos significativos ao organismo. Segundo Ciaran Kelly, diretor médico do Centro para Celíacos do Beth Israel Deaconess Medical Center e professor da Harvard Medical School, a concepção e a conscientização sobre a doença celíaca evoluíram nas últimas décadas, mas ainda há aspectos que continuam pouco compreendidos.
Ainda hoje, muitos equívocos persistem. Um deles é a ideia de que todos os pacientes apresentam dor abdominal, inchaço e diarreia – quando, na realidade, muitos adultos descobrem a doença sem ter sintomas gastrointestinais. Para esclarecer essas confusões, especialistas têm destacado alguns mitos e verdades sobre o tema. Confira:
Diagnóstico não se restringe à infância
Embora a doença possa aparecer em qualquer idade após o contato inicial com o glúten, o diagnóstico costuma acontecer mais tarde. A Associação Nacional de Celíacos aponta que a média é entre os 46 e 56 anos, e cerca de um quarto dos casos são identificados apenas após os 60. Muitas vezes, a descoberta vem depois de complicações como anemia ou osteoporose, ligadas à má absorção de nutrientes.
Pesquisas também sugerem que fatores como estresse intenso, infecções ou até cirurgias podem funcionar como um “gatilho” para o desenvolvimento da condição. Além disso, a doença é mais frequente em mulheres e em pessoas com outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1 e tireoidite de Hashimoto.
Impactos além do intestino
Ao ingerir glúten, pessoas com doença celíaca desencadeiam uma reação imunológica que ataca as vilosidades do intestino delgado, estruturas essenciais para absorver nutrientes. Mas os efeitos não param por aí: a condição também pode afetar o sistema nervoso, o sistema endócrino e até os ossos. Entre os sintomas estão névoa mental, alterações menstruais, dores musculares e articulares, o que mostra que a doença vai muito além dos problemas digestivos.
Doença celíaca x intolerância ao glúten
É comum confundir os dois termos, mas são situações diferentes. A doença celíaca exige confirmação por exames de sangue e, posteriormente, por biópsia intestinal que revela os danos característicos. Já a sensibilidade não celíaca ao glúten não provoca anticorpos nem lesões intestinais, mas pode causar desconfortos como gases, fadiga, dificuldade de concentração e dores musculares.
Outros diagnósticos também podem se confundir com a intolerância ao glúten, como a alergia ao trigo, que provoca sintomas alérgicos clássicos (inchaço, coceira, nariz entupido e, em casos mais graves, risco de anafilaxia), ou a sensibilidade a carboidratos fermentáveis, presentes no trigo e em outros alimentos, que favorecem gases e distensão abdominal.
O tratamento vai além de cortar glúten
O principal recurso terapêutico é seguir uma dieta sem glúten, eliminando trigo, centeio, cevada e derivados. Mas nem sempre isso resolve todos os sintomas. Cerca de 20% dos pacientes celíacos continuam a apresentar desconfortos mesmo em dieta restrita, o que pode estar relacionado a exposições acidentais ao glúten ou à chamada doença celíaca não responsiva.
Novas possibilidades de tratamento estão em estudo. Entre elas estão enzimas que ajudariam a decompor o glúten, reduzindo seus efeitos; medicamentos capazes de modular a resposta imunológica; e até abordagens de reprogramação do sistema imunológico para impedir a reação ao glúten.
Apesar dos avanços, o diagnóstico precoce e a informação ainda são as principais ferramentas contra a doença celíaca. Saber diferenciar os mitos da realidade é essencial para garantir qualidade de vida aos pacientes e ampliar a conscientização sobre esse distúrbio que, muitas vezes, passa despercebido.
