Italia! Italie! Itália
ICARO Media Group
Por Neely Swanson para o Beverly Hills Courier
Itália! O nome evoca romance, a glória do velho mundo, monumentos elaborados e reluzentes, e referências a filmes e séries de televisão, das quais é impossível escapar. Adoraria me imaginar como a jovem Audrey Hepburn, uma princesa disfarçada, passeando na garupa da Vespa de Gregory Peck pelas ruas em “A Princesa e o Plebeu” [“Roman Holiday”, 1953](numa época em que não era tão perigoso assim); ou como Anita Ekberg, sensualmente espreguiçando-se na Fontana di Trevi à noite em “A Doce Vida” [“La Dolce Vita”, 1960] (quando era possível fazer isso quase em privacidade); ou em “Ontem, Hoje e Amanhã” [“Yesterday, Today and Tomorrow”, 1963], onde interpretaríamos Sophia Loren e Marcello Mastroianni. E, claro, há meu filme cult favorito, “O Diabo Riu por Último” [“Beat the Devil”, 1953], ambientado em Ravello, onde sou Gina Lollobrigida e meu marido Larry é Humphrey Bogart, mas falarei mais sobre isso depois.
A Costa Amalfitana, com seu aroma constante de limão, é reconhecidamente incomparável em sua beleza e sofisticação estonteantes. Basta dar um mergulho nas águas tranquilas da série “Ripley”, da Netflix. Ela captura perfeitamente o caos em câmera lenta das estradas traiçoeiras, a decadência dos prédios em ruínas e as pessoas elegantes vestidas de linho que ainda chamam aquele lugar de lar. Construídas nas encostas rochosas, as casas se espalham pelos penhascos, parecendo flutuar ou estarem presas por fios invisíveis que as sustentam como marionetes em alerta. O branco das construções é refletido de forma quase ofuscante no azul da água. Quando um amigo próximo alugou uma casa na Costa Amalfitana e nos convidou para ir, a resposta foi um SIM bem rápido!
Nossa villa, na verdade duas casas de campo, ficava em uma colina em Piano di Sorrento, fora dos roteiros turísticos mas com vista para Sorrento, a costa e Capri. Nós nos instalamos confortavelmente, passeando pelos jardins repletos de árvores carregadas de damascos, laranjas e, claro, os sempre presentes limões. Nossa pequena vizinhança era povoada por dois cafés e um minimercado cujos horários de funcionamento eram definidos pelos caprichos do proprietário. Havia até uma pequena loja de roupas e lembrancinhas especializada em camisas, vestidos e calças de linho feitos à mão. As máquinas de costura estavam em constante uso, produzindo camisas coloridas e, claro, calças com estampas de limão.
Sorrento foi nossa primeira e ansiosamente aguardada incursão. Livre de algumas das curvas fechadas e assustadoras que nos aguardavam em nossas viagens a Positano e Amalfi, foi uma introdução a dirigir na Itália, onde as faixas de rolamento são meras sugestões e o jogo da “quem pisca primeiro” parece estar enraizado no DNA de qualquer pessoa com carteira de motorista; realmente um caso de “quem hesita” perde. Se as rotatórias não tivessem placas de Pare, os turistas esperariam até a inevitável pausa de duas horas para o almoço antes de poderem prosseguir.
Sorrento, a ponta de uma península no Golfo de Nápoles, não faz tecnicamente parte da Costa Amalfitana, mas compartilha parte de sua beleza natural. Do porto de Sorrento, partem barcos e balsas para as ilhas e cidades da Costa Amalfitana. O Monte Vesúvio, com seus dois picos, é um marco facilmente identificável e Pompeia fica a meio caminho entre Nápoles e Sorrento. É irônico, ou pelo menos hipócrita, um turista reclamar de turistas mas Sorrento, mesmo em maio, é praticamente incontrolável. Repleta de acomodações, desde hotéis cinco estrelas até pousadas de qualidade duvidosa, suas lojas ao longo da principal rua de pedestres vendem lembrancinhas de mau gosto e se gabam de supostas obras de arte em madeira entalhada, mas são apenas showrooms de fábricas que produzem cinzeiros e placas em massa. Contribuindo para a sensação de claustrofobia, havia centenas de homens, mulheres e crianças de bermudas enfileirados atrás de guias que agitavam bandeiras, correndo pelas lojas e monumentos antes de serem conduzidos de volta a um dos megatransatlânticos (com capacidade para 4.500 passageiros ou mais) atracados em Nápoles. O fato de ser domingo pode ter contribuído para isso, algo que poderíamos avaliar quando retornássemos.
Na terça-feira, depois que as multidões já haviam partido, Sorrento estava muito mais agradável, pois nosso anfitrião nos presenteou com um passeio de barco, navegando luxuosamente de Sorrento até Amalfi com o jovem, charmoso e belo Capitão Antonio, admirando todas as cidades costeiras ao longo do caminho. Ele contornou as vilas de pescadores e portos menos movimentados, como Nerano, um de seus favoritos, e nos levou ao arquipélago de Gallos, com suas três ilhas, para que pudéssemos ver de perto essa famosa propriedade. Rochosa e sem vegetação, foi Léonide Massine, o famoso coreógrafo e bailarino russo dos Ballets Russes de Diaghilev, quem se apaixonou pela ilha e sua torre medieval, transformando-a em uma villa e estúdio de dança. Não é de admirar que Rudolf Nureyev tenha se apegado a ela, comprando-a no início dos anos 80, reformando-a ainda mais e vivendo lá até sua morte. Desde então, foi remodelada e transformada em uma luxuosa villa onde os visitantes podem nadar mas, a menos que consigam pagar o aluguel de € 250.000 por semana (incluindo empregados, cozinheiro e barco), estão proibidos de pisar na ilha.
Mantendo o ritmo perfeito da viagem, contemplamos a estrada, a mesma que percorreríamos repetidamente nos próximos dias, serpenteando entre as imponentes formações rochosas de um lado e o pequeno penhasco protegido que levava ao mar lá embaixo, do outro. Construídas na rocha, as cidades e vilas pontilham a costa. Praias de seixos coloridos abundam, acessíveis por escadarias esculpidas nas rochas que descem de alturas inimagináveis. Os banhistas, quase nus, eram jovens e resistentes, a menos que tivessem chegado em um dos barcos ancorados.
Positano é mundialmente famosa por sua beleza, e com razão. Vista do mar, a cidade se assemelha a um bolo de casamento de vários andares, ricamente decorado e convidativo. Muitos dos barcos ancorados na costa eram maiores que o nosso, equipados com jangadas ou botes motorizados para transportar seus passageiros até a praia, onde podiam jantar, beber e se divertir. A praia é movimentada e os prédios em tons pastel com vista para o mar (todos com vista para o mar) possuem amplos terraços e varandas. As propriedades mais exclusivas ficam na parte baixa da cidade, à beira do penhasco, ou no topo. Devo confessar que, em todas as nossas viagens por Positano, não nos aventuramos a entrar na cidade. Teoricamente seria possível percorrer as ruelas estreitas, mas a grande maioria das pessoas que visitavam a cidade estacionava de forma desordenada, com ênfase no perigo, ao longo da estrada superior e descia a pé, uma perspectiva bastante assustadora para qualquer idade. Mesmo assim, as combinações de cores pastel de Positano precisam ser vistas para serem acreditadas. É a própria definição de um vilarejo da alta sociedade, onde é fácil imaginar os visitantes vestidos de linho, coquetel na mão, passando de festa em festa e depois voltando para o iate.
Fiordo di Furore - Foto de Larry SwansonContinuando pela baía, Antonio nos guiou até o Fiordo di Furore, uma praia intocada em uma enseada acessível a partir da pequena cidade por uma escadaria de 3.000 degraus. Furore abriga uma igreja do século XI com afrescos de Giotto e seus alunos. Como, afinal, eles chegaram lá? E por quê? É um dos muitos enigmas a serem contemplados por toda a costa de Amalfi. É nesta ponte de tijolos em arco, com 28 metros de altura, que atravessa o fiorde, onde acontece anualmente uma competição de saltos ornamentais, que lhe confere um charme único.
Conseguimos atracar em Amalfi, uma cidade maior e mais movimentada do que qualquer outra, o que nos permitiu tempo apenas para uma compra na confeitaria e algumas lembrancinhas com aroma de limão. Almoçamos na Torre Saracena, uma torre do século XVI que fazia parte do sistema de defesa da cidade. A vista para noroeste é de Amalfi e, para sudeste, de Atrani, famosa por sua participação na série “Ripley”. Teremos uma visão mais próxima de Atrani, a parente pobre de Amalfi, quando formos para Ravello. A comida estava maravilhosa, mas a vista era ainda melhor. Aliás, todas as vistas são panorâmicas e deslumbrantes. Nossa viagem de volta para Sorrento foi em um ritmo mais acelerado e aproveitamos uma brisa fresca enquanto refazíamos nossos passos anteriores, sem nos esquecermos de reaplicar o protetor solar.
Retornaríamos a Amalfi no dia seguinte, percorrendo a traiçoeira SS163, com suas curvas sinuosas, cotovelos, uma série de longos túneis e esquinas cegas, temendo o som da buzina de um ônibus anunciando sua chegada. As faixas, já precárias nas melhores circunstâncias, são frequentemente ainda mais estreitas devido aos carros estacionados em uma ou outra das margens. Pior ainda são os mirantes, onde os carros se espalham pela pista, aguardando uma vaga para parar, competindo com as onipresentes vans que vendem suco fresco, granita de limão e camisetas. A viagem nunca ficou mais fácil e a ansiedade nunca diminuiu; mas sobrevivemos para contar a história. Ao chegarmos novamente a Amalfi, nosso pequeno grupo se dividiu, com os mais intelectuais optando por subir até o Duomo e sua fachada bizantina de mármore listrado e pedra incrustada. Os 63 largos degraus de pedra levam a um vasto pórtico, semi-fechado por uma série de aberturas arqueadas que lembram janelas, conferindo-lhe um toque mourisco. Outros de nós, os membros mais superficiais do grupo, incluindo eu, fomos em busca de lembrancinhas artesanais. As lojas mais próximas do porto estão repletas das mesmas lembrancinhas com tema de limão encontradas em todas as outras cidades do sul da Itália. Caminhando um pouco fora dos roteiros turísticos, encontramos lojas mais interessantes com móveis de madeira entalhada, papel artesanal e cerâmicas de design mais exclusivo. Depois de almoçarmos focaccia com alho, uma variedade de antepastos e peixe, voltamos para o carro e seguimos lentamente de volta pelas colinas e estradas traiçoeiras.
Para nossa próxima excursão, escolhemos a pequena cidade de Nerano, com seus restaurantes de frutos do mar à beira-mar. O Lo Scoglio era uma experiência única, digna da alta sociedade. Embora tenhamos chegado de carro, a maioria dos clientes deste restaurante com terraço era transportada de seus iates particulares pela lancha do Lo Scoglio, atracando no píer do restaurante. Stanley Tucci, em sua série “Searching for Italy” [“Em Busca da Itália”, em tradução livre], declarou o Spaghetti alla Nerano com abobrinha e provolone sua massa favorita. A comida era suntuosa, o serviço atencioso e o vinho local delicioso. Após alguns instantes relaxando na praia de seixos multicoloridos, fizemos uma última parada no minimercado para comprar vodca e biscoitos, indispensáveis para nossos drinques da noite. Cascas de limão eram abundantes, colhidas diretamente das árvores da vila.
A estrada que liga Ravello ao Vale de Nápoles e ao Monte Vesúvio - Foto de Larry SwansonPartimos cedo na manhã seguinte para nossa viagem a Ravello, a leste de Amalfi e ao norte de Salerno. A cidade é famosa por sua localização montanhosa e pela vista para o litoral azul a oeste; e a leste, para as terras altas gramadas de sua cidade rival, Scala, com seus vinhedos e olivais. Ravello é conhecida por seus dois jardins botânicos requintados, a Villa Cimbrone e a Villa Ruffalo. A Villa Cimbrone fica a uma longa caminhada morro acima, longe do centro da cidade; não foi a opção que escolhemos. Em vez disso, fomos direto para a Villa Ruffalo, um palácio construído originalmente no século XIII, mas resgatado e renovado no século XIX por Francis Neville Reid, que comprou a villa em 1851 e instalou os elegantes jardins que podem ser vistos hoje. Seus pavilhões são em terraços, de modo que cada um tem vista para o próximo, todos com vista para a baía lá embaixo. Na primavera, é uma explosão de flores em tons neon e sebes verdes esculpidas. Escavações realizadas nos últimos anos revelaram artefatos e alicerces que datam do século XIII. Torres e colunas do pátio atestam a influência mourisca da época. É fácil entender por que este jardim encantou tantas pessoas ao longo dos anos, incluindo Richard Wagner e Maurits Cornelis Escher, que pode ter se inspirado na escadaria da Torre Maggiore.
Embora Ravello também esteja na lista de destinos turísticos imperdíveis, nossa partida cedo nos permitiu evitar a maior parte das multidões. Para nossa decepção, o restaurante que queríamos estava fechado, mas o dono da loja ao lado sugeriu que experimentássemos a Osteria Ravello, um restaurante familiar no extremo da cidade. Com seu terraço ao ar livre e comida excelente, fomos muito bem tratados, especialmente quando a mãe do dono adotou uma das integrantes do nosso grupo, nos mimando e a ela com atenção especial. Ao retornarmos ao centro e à loja que havia feito a recomendação e a reserva, encontramos muitas lembrancinhas para levar para casa e até algumas para guardar. Já era meio da tarde; os grupos de turistas começaram a chegar e era hora de partir.
Nossa última viagem a Positano foi para comemorar um aniversário. O histórico Hotel Il San Pietro fica no topo de Positano, pouco antes de Praiano. Oferece vistas panorâmicas de toda a baía, mas o mais importante é que conta com serviço de manobrista. Distribuído na encosta, o hotel dispõe de quadras de tênis, piscina e terraço, spa, jardim e uma pequena praia privativa lá embaixo, tudo acessível por um elevador construído na rocha. Claro, sempre há a opção de subir a pé, mas um olhar para a escadaria era mais um motivo para torcer para que o elevador estivesse funcionando. Para começar, pedimos coquetéis no belíssimo bar com terraço repleto de buganvílias, onde os Bellinis com pêssego fresco quase combinavam com a vista deslumbrante. O restaurante principal do San Pietro, o Zass, com estrela Michelin, só abre à noite, então fizemos nossa comemoração no Carlino, um restaurante ao ar livre à beira-mar com conceito “da fazenda à mesa”, que utiliza ingredientes da própria horta. A massa estava tão fresca quanto o peixe e o ambiente era festivo. Satisfeitos, voltamos à estrada rumo à casa para arrumar nossas coisas e petiscar as sobras das noites anteriores.
A Costa Amalfitana, terra de sol e intermináveis limoeiros — não é surpresa que cada restaurante local ofereça seu próprio Limoncello artesanal, e nós provamos todos que nos foram oferecidos. A vivacidade das cores, o sal no ar, as curvas fechadas que parecem suspensas no vazio serão memórias que guardaremos para sempre. E para todos que vierem depois, façam um passeio de barco pela costa para sentirem o sabor completo da vida nessas praias. Então, vistam seus trajes de banho e, por um breve momento, vocês também poderão ser viajantes da alta sociedade.
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