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A ponte entre passado e presente: Como a literatura nos salva do esquecimento?
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A ponte entre passado e presente: Como a literatura nos salva do esquecimento?

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Aventuras Na História
04/07/2025 14h00
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A leitura não é apenas um exercício intelectual. É também uma forma de resistência, um gesto de memória que desafia o esquecimento sistemático promovido por regimes autoritários, pela indústria da informação superficial e pelo apagamento das vozes dos excluídos.

Em um mundo cada vez mais acelerado, onde as pessoas consomem notícias sem profundidade nem embasamento, a literatura com viés histórico surge como um farol — aquele fio tênue que conecta o passado ao presente e nos ajuda a evitar a repetição de erros que custaram vidas, liberdades e dignidades. Vejamos alguns bons exemplos!

O Homem que Amava os Cachorros – A História Sob Vários Olhares

Leonardo Padura, em "O Homem que Amava os Cachorros", constrói uma obra magistral que entrelaça a vida de Leon Trotsky, revolucionário russo assassinado no exílio no México, com a trajetória de seu algoz, Ramón Mercader, e com a de um terceiro personagem, o cubano Iván Cardona.

Essa tríade narrativa permite ao leitor compreender, com riqueza de detalhes, o funcionamento do aparelho repressivo soviético sob Stalin e os reflexos disso na Cuba pós-revolucionária.

O leitor é brindado com uma narrativa clara, precisa e envolvente, pois Padura vai além da história oficial: ele humaniza figuras historicamente polarizadas, revela nuances ideológicas e mostra como sistemas políticos podem transformar indivíduos em instrumentos de opressão.

Sua prosa investigativa e densa me fez refletir sobre como certos episódios são contados sempre do ponto de vista dos vencedores — e como a literatura pode devolver a palavra aos derrotados.

"Uma Longa Pétala de Mar": Quando a poesia salva vidas

Isabel Allende, em "Uma Longa Pétala de Mar", traz à tona um episódio pouco conhecido da história ibero-americana: a iniciativa do poeta Pablo Neruda em organizar o navio Winnipeg para resgatar cerca de 2.000 republicanos espanhóis fugindo da vitória de Franco na Guerra Civil Espanhola (1936–1939).

Através da ficção, a autora constrói personagens cujas trajetórias se entrelaçam com esse momento histórico real, oferecendo ao leitor uma visão íntima e emocional da dor do exílio, da guerra e da esperança renovada.

A trilogia de Ken Follett: o mundo em chamas e nossa lição de hoje

Ken Follett, com sua trilogia composta por "Queda de Gigantes", "Inverno do Mundo" e "Eternidade por Um Fio", constrói uma narrativa épica atravessada pelas duas Guerras Mundiais e pela Guerra Fria.

Com personagens fictícios convivendo lado a lado com figuras históricas reais, Follett não apenas entretece uma história envolvente, mas também apresenta ao leitor os mecanismos sociais, políticos e tecnológicos que levaram o mundo às beiras do abismo.

Ao ler essas obras, percebi como movimentos nacionalistas, fanatismos e polarizações ideológicas — muitas vezes vistos como "coisas do passado" — estão mais vivos do que nunca. A literatura histórica, então, serve como um alerta constante: olhar para trás é fundamental para não tropeçarmos nas mesmas armadilhas.

A literatura como antídoto para o esquecimento coletivo

A frase "quem não aprende com a história está condenado a repeti-la", frequentemente atribuída a Hegel ou Marx, ecoa com força redobrada nos tempos atuais. Vivemos em uma era marcada por informações rápidas e superficiais, por discursos simplificados e versões distorcidas do passado.

Diante disso, a literatura histórica se posiciona como uma espécie de antídoto: ela nos permite mergulhar fundo, a sentir na pele o peso das escolhas humanas, a entender os contextos complexos que moldaram nosso presente.

Mais do que entretenimento, essas obras são pontes de memória e consciência. Elas nos permitem ver o passado com outros olhos e, talvez por isso, possamos construir um futuro mais humano e justo.

Se queremos um mundo menos propenso a cair nos erros do passado, precisamos garantir que suas lições continuem vivas. E, para isso, nada substitui o poder da literatura.


*Marden Marques Soares é formado em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Marden Marques Soares é pernambucano e reside em Brasília. Atuou por mais de 30 anos no Banco Central do Brasil e continua ativo como consultor na área financeira. Aos 74 anos, equilibra a experiência técnica com a paixão pela literatura. É autor de três livros técnicos sobre microfinanças e cooperativismo financeiro, além da obra Parábolas da Borboleta e outras histórias, que marcou sua entrada na ficção.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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