Além dos judeus: As várias minorias esquecidas que foram perseguidas pelos nazistas
Aventuras Na História

No dia 13 de novembro, chegou às livrarias de todo o país o novo livro ‘As vítimas esquecidas em Tempos de Intolerância: o Nazismo‘, de Silvia Lerner. Publicada pela Rio Books, esta é a primeira obra brasileira a abordar as diversas minorias perseguidas pelos nazistas durante o Terceiro Reich alemão e o Holocausto, para além dos judeus — como anões, ciganos, comunistas, deficientes físicos e mentais, gêmeos, homossexuais, intelectuais, maçons, mulheres, negros e testemunhas de Jeová.
“Além dos judeus terem sido as grandes e primeiras vítimas, os nazistas perseguiram outros grupos considerados uma ameaça no conceito de raça superior típica da ideologia nazista e na manutenção dessa ideologia. Esses grupos incluíam aqueles que não concordavam com a nova política implantada na Alemanha a partir de 1933, e outros grupos que não se enquadravam no conceito para formar uma raça ariana. Foram perseguidos todos aqueles considerados inimigos raciais, políticos ou ideológicos”, afirma Silvia Lerner, que ressalta também que essas minorias são “pouco estudadas, discutidas e descritas“.
O livro inicia contextualizando o período histórico do Terceiro Reich alemão e a ideologia racial nazista que vigorava, e se divide em capítulos que abordam as vítimas esquecidas, cada um focando em uma minoria distinta. Para retratar essas histórias, são colocados relatos chocantes de sobreviventes.
O tempo de hoje é de muita intolerância, e isso vem há muito tempo. Sonho, como filha de sobreviventes do Holocausto, que um dia o ser humano aprenderá a História e que esta não se repetirá jamais, e não haverá mais antissemitismo, racismo e intolerância”, diz a autora.
O livro é parte de um estudo mais amplo de Lerner sobre o nazismo, que teve início com a publicação de ‘Arte em Tempos de Intolerância: Theresienstadt’, em 2021, em que a historiadora trata das artes visuais produzidas no único campo cultural da época; e do livro de 2023, ‘A música e os músicos em Tempos de Intolerância: o Holocausto’, sobre as músicas que os judeus produziam nos campos de concentração.
Em entrevista exclusiva à Aventuras na História, Silvia Lerner comentou mais sobre o processo de criação do livro, bem como as reflexões que pretende promover com a obra. Confira:
O livro destaca casos emblemáticos, como o da família de sete anões que sobreviveu a Auschwitz. Como foi o processo de reunir e verificar histórias tão específicas e, muitas vezes, pouco documentadas?
Há um livro em português chamado ‘Gigantes no coração’. Foi o primeiro livro que li sobre anões. E procurei em Enciclopédias sobre anões durante o Holocausto e bibliografias em inglês. E não achei nada em português. E levei anos para formar minha biblioteca sobre os temas.
Repara que o parágrafo 175, que proibia o homossexualismo na Alemanha só foi extinto em 1994. E o preconceito contra o OUTRO, o DIFERENTE, ainda persiste até os dias de hoje. Assim, percebemos que o Homem não aprendeu nada com a História.
Você menciona no livro que vivemos tempos de crescente intolerância. Quais paralelos enxerga entre a ideologia nazista e os discursos de ódio que emergem hoje em diferentes partes do mundo? E esses discursos podem ser um sintoma de algo maior?
A Intolerância é uma característica dos Homens durante a História. A ideologia nazista é um exemplo típico de Intolerância. E no século 21 a Intolerância ressurge com frequência e nesses casos sempre são associados a maior Intolerância que o século 20 conheceu: o Nazismo e o Holocausto.
O projeto das “pedras de tropeço” aparece como uma forma simbólica e descentralizada de memória. Que reflexões esse memorial lhe despertou, especialmente ao perceber o contraste entre o número de homenagens e a real dimensão das vítimas?
Esse memorial tem uma característica de fazer com que as vítimas não fiquem sem identidade, pois quem não tem nome, perde sua identidade e cai no esquecimento. Esse tipo de homenagem ainda não está amplamente divulgado, o que leva a entender o contraste entre o número de vítimas e o número de “pedras” colocadas.
‘As vítimas esquecidas em Tempos de Intolerância’ fazem parte de uma trilogia sobre o período nazista, após livros dedicados à arte e à música. Como esses três volumes dialogam entre si e o que ainda falta ser contado, em sua visão, sobre esse capítulo da História?
Todos três tem um tema em comum: o Holocausto, a crueldade a que o Homem é capaz de chegar e a resistência psicológica. Ainda há muito a ser pesquisado sobre esse período histórico. Não há período histórico em que os estudos estejam concluídos. Sempre há algo para ser estudado, assim ainda não pensei no próximo tema a ser estudado e pesquisado. Mas ainda há muito a ser reportado.