Estudo descobre que hienas perturbam acampamentos pré-históricos na Tanzânia
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Uma nova expedição realizada pelo projeto SCAVENGERS na Tanzânia trouxe à luz a influência significativa que as hienas exercem sobre os registros arqueológicos de acampamentos humanos primitivos. A iniciativa, liderada pelo Institut Català de Paleoecologia Humana i Evolució Social (IPHES-CERCA) e apoiada pelo Conselho Europeu de Pesquisa, focou na avaliação do impacto dos carnívoros necrófagos em sítios de assentamento humano ancestrais.
No mês de junho, a equipe de pesquisadores conduziu uma série de experimentos controlados em cavernas naturais e abrigos rochosos, ambientes que se assemelham àqueles habitados por neandertais e outros grupos humanos antigos. Durante os testes, foram montados acampamentos simples que incluíam fogueiras centrais, carne cozida, ossos espalhados e ferramentas de pedra com resíduos orgânicos. Esses elementos foram deixados no local enquanto câmeras armadilhas monitoravam a atividade animal continuamente.
Os pesquisadores observaram uma interação intensa das hienas com os acampamentos experimentais. Os animais consumiram ossos, deslocaram artefatos e dispersaram materiais. Comportamentos dessa natureza provocaram alterações drásticas na disposição espacial e na composição dos conjuntos experimentais, fornecendo evidências concretas de que as hienas podem distorcer o que arqueólogos interpretariam como depósitos culturais intactos.
Dr. Jordi Rosell, principal investigador do projeto, afirmou em comunicado: "Esse comportamento possui implicações profundas. Muitas das coleções que estudamos no registro arqueológico podem estar incompletas ou alteradas sem que tenhamos consciência disso, pois as hienas podem atuar como necrófagos silenciosos. Precisamos reconsiderar a forma como interpretamos muitos de nossos sítios."
Projeto SCAVENGERS
Os experimentos realizados na Tanzânia constituem um elemento central do SCAVENGERS, oficialmente intitulado "Carnívoros em Assentamentos Humanos: Uma Nova e Diferente Abordagem para Analisar o Registro do Paleolítico Médio".
Este projeto interdisciplinar combina análises tafonômicas e observações de campo com suporte de inteligência artificial para desenvolver modelos computacionais capazes de identificar sutis evidências da atividade carnívora em sítios arqueológicos. Tais modelos são projetados para detectar perturbações que, de outra forma, seriam difíceis de perceber, permitindo assim uma reconstrução mais precisa do comportamento humano primitivo.
Embora o foco do trabalho esteja principalmente no Paleolítico Médio Europeu, suas descobertas também são pertinentes a pesquisas arqueológicas em diversas épocas e regiões. Ao destacar o papel anteriormente não reconhecido dos carnívoros, a pesquisa propõe um modelo mais preciso para a análise de sítios antigos.
O projeto é gerido pelo IPHES-CERCA e pela Universitat Rovira i Virgili (URV), contando com o apoio de uma Advanced Grant do Conselho Europeu de Pesquisa. Sua equipe multidisciplinar inclui especialistas em arqueologia, ecologia, tafonomia e ciência de dados. Os resultados deste estudo têm aplicações não apenas na arqueologia pré-histórica, mas também na conservação da vida selvagem, estudos sobre comportamento animal e na gestão de áreas naturais protegidas.
