Jarro milenar revela nome feminino e alfabetização no Império Kushan
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Uma equipe de arqueólogos do Museu Nacional do Tajiquistão fez uma descoberta notável no sítio de Khalkhajar, próximo à vila de Sarband: um jarro de cerâmica com uma inscrição completa na antiga língua bactriana, datado do período do Império Kushan (séculos 1 a 3). O achado lança luz sobre a vida cotidiana, as práticas sociais e a alfabetização durante uma das eras mais influentes da história da Ásia Central.
O vaso, recuperado em fragmentos e meticulosamente restaurado, traz a frase pintada: "Este jarro de água pertence à mulher Sagkina". Escrito em bactriano — língua iraniana oriental que utilizava uma forma adaptada do alfabeto grego —, o texto chamou atenção por seu excelente estado de preservação e pelo valor linguístico e cultural que carrega.
A interpretação da inscrição foi feita por especialistas renomados, como o linguista Nicholas Sims-Williams e o numismata Joe Cribb, ambos reconhecidos internacionalmente por seus estudos sobre a Ásia Central antiga. Segundo os arqueólogos, o nome "Sagkina" fornece um dado raro para os estudos onomásticos da região, revelando traços importantes das convenções de nomenclatura feminina no Império Kushan.
Além disso, o simples ato de marcar um jarro pessoal com o nome de sua dona sugere um nível considerável de alfabetização e uma norma social já estabelecida de identificação de propriedade — indicando que mulheres, como Sagkina, tinham papel ativo e reconhecido no ambiente doméstico da época.
"Essa inscrição, apesar de breve, abre uma janela preciosa para compreendermos não apenas os sistemas de escrita em uso na Ásia Central, mas também os hábitos cotidianos e os aspectos sociais da era Kushan", afirma Mirali Zamon Karimdodzoda, chefe do departamento de arqueologia do museu e líder da escavação.
Achados valiosos
O sítio arqueológico de Khalkhajar também revelou vestígios arquitetônicos antigos, como paredes de barro e tijolos com sinais de cal, e partes preservadas de espaços internos. A maioria dos artefatos encontrados remonta ao auge do Império Kushan, que controlou vastas áreas dos atuais Afeganistão, Paquistão, Índia, sul do Uzbequistão e partes do Tajiquistão.
Segundo os pesquisadores, a escrita bactriana teve papel central na administração e no comércio kushan, e continua sendo uma chave essencial para reconstruir a história da região. Por isso, achados como o da inscrição de Sagkina são extremamente valiosos para entender a interação entre linguagem, identidade e cultura material na Antiguidade.
Segundo o 'Archaeology Magazine', o jarro será uma das principais peças em exibição no Museu Nacional do Tajiquistão, destacando a riqueza cultural do país e o papel fundamental da arqueologia na preservação da memória histórica da Ásia Central. As escavações em Khalkhajar continuam, com a expectativa de novas descobertas nos próximos meses.