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Mergulhadores buscam restos mortais de desaparecidos em estuário colombiano
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Mergulhadores buscam restos mortais de desaparecidos em estuário colombiano

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Aventuras Na História
22/07/2025 19h15
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16566603/original/open-uri20250722-35-a2mtyg?1753212012
©Reprodução/UBPD
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Nas águas turvas e perigosas do estuário de San Antonio, diante da cidade portuária de Buenaventura, na Colômbia, o mergulhador Pedro Albarracín mergulha com uma missão: encontrar vestígios humanos de pelo menos 190 desaparecidos em meio ao lodo, raízes de manguezais e restos de violência do conflito armado que assombrou a região por décadas.

Antes de entrar na água, ele invoca Yemayá, deusa dos mares, e Oxum, senhora dos rios — divindades da fé iorubá —, após receber bênçãos de líderes religiosos afro-colombianos. "Esse apoio nos dá coragem", diz ele. "É como um escudo espiritual".

A missão é inédita: pela primeira vez, uma operação apoiada pelo Estado colombiano se dedicou a procurar desaparecidos no estuário de San Antonio, envolvendo diretamente a comunidade local.

A Unidade de Busca de Pessoas Dadas Como Desaparecidas (UBPD) liderou o esforço com apoio de pescadores, piangüeras (marisqueiras tradicionais), especialistas forenses e líderes espirituais. A meta era dupla: localizar restos humanos e restaurar, ainda que simbolicamente, o elo entre as vítimas, seus entes queridos e o território onde foram apagadas.

O nome da Ilha da Caveira, situada diante do estuário, não é metáfora: a região foi durante anos local de descarte de corpos por grupos armados. Segundo a UBPD, pelo menos 940 pessoas desapareceram em Buenaventura entre 1989 e 2016, mas movimentos locais de vítimas falam em mais de 1.300.

Buscas

A busca durou 17 dias. Equipados com sonares, lanternas de 11.000 lúmens e mapas gerados com ajuda dos próprios moradores, mergulhadores como Albarracín vasculharam a lama densa em pontos-chave.

Paralelamente, as piangüeras conduziam buscas manuais nas áreas alagadiças, onde o conhecimento ancestral das marés substituiu a tecnologia — que se mostrou ineficaz naquele solo lamacento.

Não havia outro recurso além das mãos das piangüeras", reconheceu María Victoria Rodríguez, coordenadora da operação pela UBPD.

Apesar do empenho, nenhum vestígio foi encontrado. Mas a ausência de resultados concretos não foi um fracasso. O resgate da memória e da dignidade das vítimas, a quebra do silêncio imposto pelo medo e a valorização dos saberes tradicionais são conquistas intangíveis, mas profundas.

Cerimônias espirituais acompanharam toda a operação. Um altar foi montado no escritório da UBPD, onde líderes religiosos permaneciam em vigília, lendo mensagens, observando sinais e pedindo perdão às águas por toda dor ali contida. Cada membro da equipe recebeu uma pulseira de proteção antes de entrar em campo.

A brutalidade do passado ainda ecoa. As vítimas, segundo testemunhos, eram amarradas a raízes de manguezais ou seladas em tambores com cimento antes de serem lançadas às águas. O estuário, contaminado pelo porto e pelas palafitas ao redor, tornou-se um cemitério silencioso.

Agora, o futuro da operação depende da Jurisdição Especial para a Paz — órgão criado para lidar com crimes do conflito armado colombiano. Segundo o 'The Guardian', mergulhos autônomos estão suspensos por tempo indeterminado.

Ainda assim, a UBPD e organizações como a Corporación Memoria y Paz insistem na importância da busca. "Quando alguém desaparece, algo se rompe espiritualmente na comunidade", afirma Adriel Ruiz, da ONG. "Encontrar os corpos é uma necessidade coletiva. É sobre justiça, cura e reconstrução da alma de um povo".

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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