Origem e ocultismo: Entenda a fascinante história do tarô

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Um elemento fundamental quando se fala sobre ocultismo e esoterismo, para muitos, certamente é o tarô. Neste conjunto de cartas, aqueles com conhecimento e que acreditam podem ter vislumbres de seus futuros, e encontrar algumas das respostas que buscam em sua vida.
Hoje, o baralho possui uma forma padrão bem estabelecida, com 78 cartas, separadas em 56 "arcanos menores" numerados, e 22 trunfos "arcanos maiores". E em cada carta, há um enorme simbolismo: são adornadas com pentáculos, estrelas, cálices e varinhas, com nomes como Mundo, Justiça e Temperança; além das emblemáticas figuras enigmáticas como o Louco, os Amantes ou o Eremita.
Porém, antes de chegar aos moldes atuais, o tarô passou por várias alterações ao longo de sua história. E uma história bastante longe, diga-se de passagem: um dos baralhos de tarô mais antigos do mundo — ou seja, desconsiderando aqueles feitos antes dele que se perderam no tempo — que ainda existe foi criado entre 1437 e 1442, mas alguns acreditam que as origens do tarô possam remeter até ao Egito Antigo.
Porém, com o que se sabe, acredita-se que essas cartas surgiram na Itália no fim do século 14 ou início do século 15, como um jogo sofisticado; mas que, no decorrer de meio milênio, acabou assumindo um significado bastante diferente.

De fato, o que mais atrai pessoas para o tarô é justamente a ambiguidade e o mistério envolto nestas cartas, que utilizam inúmeras combinações de imagens para supostamente tirar as dúvidas dos curiosos.
[O Tarô] era uma cultura figurativa que nasceu aqui, na Itália, em Milão", afirma a historiadora da arte e especialista em tarô Cristina Dorsini ao jornalista John Last, em reportagem da Smithsonian Magazine. "Mas hoje, a simbologia de cada carta é realmente difícil de entender".
Apenas um jogo
Alguns dos baralhos de tarô mais antigos do mundo, conhecidos coletivamente como baralhos Visconti-Sforza, oferecem o modelo mais antigo do tarô moderno, incorporando muitos dos mesmos naipes e trunfos conhecidos hoje.
Alguns documentos históricos sugerem que o mais antigo deles, o Visconti di Modrone (que está incompleto) foi encomendado como presente de casamento para a filha de Filippo Maria Visconti, então Duque de Milão, que se casou com um homem chamado Francesco Sforza.

Durante muitos anos, historiadores especularam que um baralho tão refinado e trabalhado provavelmente era concebido e apreciado meramente como uma obra de arte. Porém, pesquisas recentes mostram que as cartas que sobreviveram apresentam sinais de uso constante, como bordas desgastadas, pigmentos perdidos e camadas de separação.
Além disso, também foi confirmado que várias das cartas ali presentes já são substituições, o que indica que seus donos queriam um baralho completo; o que corrobora com a ideia de que elas seriam utilizadas para algum tipo de jogo.
Alguns historiadores argumentam que as figuras retratadas nas cartas poderiam servir como uma "escada mística", instruindo jogadores rebeldes em preceitos morais e éticos. De qualquer forma, embora as origens não sejam tão claras, hoje há um consenso maior de que o tarô teria se originado como um jogo, em vez de uma forma de artigo artístico.
Simbolismos
Embora o baralho de tarô mais antigo conhecido seja o Visconti di Modrone, ele está incompleto; e quem ocupa a posição de baralho completo mais antigo que sobrevive até hoje é o intrigante Sola Busca, datado do fim do século 15. Porém, um aspecto que chama atenção nele, fora a idade, está em sua diferença do tarô tradicional: no lugar dos arcanos maiores, há uma série de imagens diferentes e perturbadoras.

Entre essas imagens, estão figuras obscuras da antiguidade, ou mesmo vilões históricos famosos, como uma cena do imperador romano Nero apreciando uma queima de bebês. E embora certamente seja histórico, o ocultista Peter Mark Adams diz que o baralho é "teimosamente e irremediavelmente estranho", e que "mesmo após estudo prolongado, o baralho mantém sua estranheza".
Porém, é justamente por essa estranheza que Adams sugere que há um propósito fundamental para as cartas, para além do mero entretenimento. Até porque, quando o tarô surgiu, a Europa vivia um momento bastante específico de sua história, quando ricas cortes da Itália durante o Renascimento mantinha exércitos de estudiosos, em busca de resgatar algum tipo de sabedoria oculta em textos antigos.
Além disso, nos séculos seguintes à produção do baralho de Visconti, a popularidade do tarô como jogo aumentou, alcançando até outras regiões da Europa. Isso levou à sua produção passar a centrar na França, em algum momento dos séculos 17 e 18 — onde surgiu uma nova escola de artistas, pensadores e cartomantes que começaram a ver o tarô como algo envolto em um significado oculto muito maior.
Nesse momento, escritores ocultistas exploraram a ideia de utilizar as cartas para alcançar alguma forma de sabedoria maior. Um expoente disso foi o ocultista Jean-Baptiste Alliette, sob o pseudônimo de Etteilla, que publicou o livro 'Como se Entreter com um Baralho de Cartas', em que fornecia um dos primeiros guias de todo o mundo para a cartomancia (em outras palavras, a adivinhação com cartas).
E outra figura que colaborou muito para a associação mística ao tarô foi o pastor francês Antoine Court de Gébelin, que usou uma seção de sua obra 'Le Monde Primitif' ("O Mundo Primitivo", em português), que foi publicada entre 1773 e 1782, para reescrever a história de origem do tarô e sugerir, pela primeira vez, de maneira oficial, que as cartas eram muito mais que um jogo.
"Se soubéssemos que ainda existe hoje uma obra dos antigos egípcios, um de seus livros que escapou das chamas que devoraram suas magníficas bibliotecas e que contém sua doutrina mais pura sobre objetos interessantes, todos, sem dúvida, ficariam ansiosos para saber", escreveu ele na obra.
Se acrescentássemos que esse livro é muito difundido em grande parte da Europa, que há muitos séculos está nas mãos de todos, a surpresa certamente aumentaria".
O que o pastor sugeriu foi justamente que o tarô é que continha esse livro; e a ideia se popularizou tanto — afinal, até mesmo o rei Luís XVI era leitor de Court de Gébelin —, que surgiu todo um grande fascínio na Europa pelo que era antigo e egípcio.
O francês também relacionou muito a origem do tarô aos estereótipos dos adivinhos "ciganos", mesmo que não tenha qualquer evidência concreta, hoje, de que os ciganos estejam presentes na origem do tarô. Fato é que, até hoje, muitos ainda associam as duas figuras, e o tarô continua sendo conhecido e ressignificado, em mais de 500 anos de história.


