Pesquisadores brasileiros descobrem quatro espécies de cogumelo na Antártida

Aventuras Na História






Pesquisadores brasileiros identificaram quatro novas espécies de cogumelos que prosperam em condições extremas na Antártida, destacando a resiliência desses organismos e sua relevância para o equilíbrio ecológico do continente.
As espécies, todas pertencentes ao gênero Omphalina, foram nomeadas como Omphalina deschampsiana, Omphalina ichayoi, Omphalina frigida e Omphalina schaeferi. Essa descoberta foi resultado de um projeto do Laboratório de Taxonomia de Fungos da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), em São Gabriel, que se originou da curiosidade sobre como os fungos conseguem sobreviver em ambientes tão adversos.
A pesquisa foi apoiada pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar), em colaboração com a Marinha e a Força Aérea, além de contar com recursos do CNPq e da Capes. Durante dois meses no continente gelado, a equipe enfrentou desafios significativos, incluindo um mês inteiro acampados sem acesso à internet ou comunicação.
Fernando Augusto Bertazzo da Silva, doutor em Ciências Biológicas e membro da equipe, descreveu ao g1 as dificuldades enfrentadas: "Enfrentamos um grande episódio de chuva em campo, manter o acampamento e o material seco virou uma tarefa quase impossível. Também tivemos uma madrugada de ventania com rajadas de mais de 100 km/h, que balançavam as barracas a noite toda e colocavam à prova toda a estrutura do acampamento".
Após o retorno ao Brasil, as amostras foram cuidadosamente congeladas e analisadas ao longo de dois anos. Esse processo envolveu a identificação dos esporos e o sequenciamento do DNA, culminando na publicação de um artigo científico.
A nova linhagem de cogumelos destaca-se por características peculiares, como a morfologia dos esporos e suas associações raras com gramíneas da região antártica. Segundo Fernando, essas adaptações são cruciais para a sobrevivência em um ambiente marcado por temperaturas extremamente baixas e solos pobres em nutrientes.
Os fungos desempenham um papel vital no ecossistema antártico ao decompor matéria orgânica e reciclar nutrientes, além de formar simbioses com plantas e musgos. Compreender o funcionamento desses organismos é essencial para o estudo do clima do Hemisfério Sul, incluindo suas repercussões no Brasil.
Relevância do estudo
A pesquisa também ressalta a necessidade de investimento contínuo em ciência e tecnologia no Brasil. Fernando alertou que o aquecimento global na Antártica pode afetar o equilíbrio ecológico da região, potencialmente favorecendo novas espécies enquanto ameaça as já existentes. "A vida consegue se adaptar até nos ambientes mais inóspitos", afirmou o cientista ao g1.
Atualmente, as descobertas são relevantes principalmente para a ciência pura; no entanto, Fernando menciona que organismos extremos podem ser fontes futuras de compostos ou enzimas com aplicações biotecnológicas ou farmacêuticas. "Descobrir novas enzimas ou compostos em organismos extremos é uma possibilidade real", observou.
O artigo resultante deste trabalho foi publicado na revista internacional Mycological Progress, que se dedica ao estudo dos fungos. A equipe celebrou o reconhecimento de seu esforço conjunto em campo e laboratório. "É o reconhecimento de muito trabalho de campo, laboratório e equipe. É também uma forma de mostrar que a ciência brasileira está presente e produz conhecimento de qualidade sobre a Antártica", destacou Fernando.

Para os próximos passos, a equipe planeja continuar seus esforços, monitorando as áreas estudadas e investigando os impactos das mudanças climáticas na microbiota local. Existe ainda a expectativa de descobrir mais espécies ocultas sob o gelo antártico. "A Antártica é um grande laboratório natural, e ainda temos muito a aprender sobre a biodiversidade que vive escondida debaixo do gelo", concluiu.


