Quebra-mar romano descoberto na Itália revela engenharia naval avançada

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Uma extraordinária descoberta subaquática na costa de Bacoli, no sul da Itália, está ajudando a reescrever a história da engenharia marítima romana. Em uma operação arqueológica de alta tecnologia, foi identificado um quebra-mar da era imperial, construído intencionalmente com elementos arquitetônicos reciclados — colunas, arquitraves e pedras esculpidas — para proteger o porto de Portus Iulius, a base naval romana de Miseno, sede da poderosa Classis Misenensis.
A estrutura, submersa entre Punta Terone e Punta Pennata, tem aproximadamente 90 metros de comprimento por 23 metros de largura e está localizada a uma profundidade que varia entre cinco e nove metros. Datada do século 1, ela não é fruto de deslizamentos acidentais ou do típico bradisseísmo (movimentos tectônicos da região), mas sim de um projeto engenhoso com finalidades defensivas — uma verdadeira obra de engenharia adaptativa.
De acordo com os especialistas, o quebra-mar foi construído para proteger a costa dos ventos fortes do Sirocco, usando como base fragmentos de mármore cipollino, arquitraves com molduras decorativas e colunas reaproveitadas de construções imperiais. A presença de marcas de erosão por litodomos (moluscos perfuradores) indica que essas peças estiveram inicialmente expostas ao ar antes de serem reposicionadas no fundo do mar.
"Esses fragmentos arquitetônicos provavelmente faziam parte de edifícios ligados ao poder imperial romano e à própria identidade da Classis Misenensis. Sua reutilização como quebra-mar é um testemunho notável de como os romanos integravam funcionalidade e simbolismo na paisagem urbana e costeira", afirmou Mariano Nuzzo, superintendente responsável pela operação.
Recuperação
A recuperação contou com o apoio da Unidade Subaquática dos Carabinieri e utilizou tecnologia de ponta como escaneamento 3D, fotogrametria de alta resolução e imagens hiperespectrais. Pela primeira vez na Itália, todo o processo foi transmitido ao vivo graças à tecnologia Naumacos, sob direção de Gabriele Gomez de Ayala, permitindo que o público acompanhasse em tempo real pelas redes sociais da Superintendência.
Os fragmentos recuperados — incluindo duas arquitraves com relevos e uma coluna intacta — foram levados ao Parque Bourbon de Fusaro, onde passarão por dessalinização e restauração. A expectativa é que, após esse processo, as peças passem a integrar uma nova exposição permanente no Palazzo dell'Ostrichina, prédio histórico cedido pela prefeitura de Bacoli.

Segundo o 'Archaeology News', a descoberta é fruto de um acordo firmado em 2023 entre a Superintendência e o município de Bacoli, voltado à proteção e valorização dos Campos Flégreos, um dos sítios arqueológicos submersos mais ricos do Mediterrâneo.
Além de revelar técnicas construtivas sofisticadas e práticas sustentáveis da Roma Antiga, o achado reforça a importância da colaboração entre ciência, instituições públicas e comunidade local para preservar e divulgar o patrimônio histórico de forma acessível e inovadora.


