Seagarland: A história de um austríaco e seu império de ouro no fundo do mar

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Em um cenário intrigante que mescla fantasia e realidade, surge a figura de Werner Rydl, um austríaco naturalizado brasileiro que afirma ter estabelecido uma nação própria em águas internacionais próximas à costa do Brasil. Sua história é repleta de mistérios, envolvendo uma suposta fortuna em ouro e críticas ao sistema político e econômico.
Residente em uma casa alugada na Praia de Ponta do Mel, no Rio Grande do Norte, Rydl, de 67 anos, acredita ter descoberto o caminho para a lendária Atlântida. Segundo ele, para chegar até esse local místico, é necessário navegar por cerca de sete horas no mar. Nesse ponto submerso, ele alega guardar mais de 300 quilos de ouro, um valor que supera as reservas do Banco Central brasileiro. No entanto, a única forma de acessar essa riqueza seria através dele mesmo.
A suposta Atlântida, que Rydl chama de Seagarland, estaria localizada entre 40 e 60 metros de profundidade na Foz do Amazonas. Porém, ao procurar por Seagarland em mapas tradicionais, não se encontra nenhuma referência. Para todos os efeitos práticos, trata-se de uma criação da mente do homem. Ele descreve este território como um espaço livre de leis e autoridades — livre também da corrupção que acusa tanto no Brasil quanto na Áustria.
Defensor fervoroso da Escola Austríaca de Economia e admirador do economista Friedrich Hayek, Rydl posiciona Seagarland e Atlântida como um ideal ultraliberal contra as instituições tradicionais. Segundo ele, a escolha por armazenar sua riqueza no fundo do mar é uma questão de segurança patrimonial, sendo que a única vigilância sobre suas riquezas seria feita pelas criaturas marinhas.
Rydl assegura ter desenvolvido tecnologia semelhante à dos submarinos para submergir plataformas onde o ouro estaria guardado. Contudo, os detalhes sobre o funcionamento desses equipamentos permanecem vagos, levantando questões sobre a veracidade das alegações do austríaco.
Problemas
Desde os anos 90, quando enfrentava problemas legais na Áustria relacionados à sonegação fiscal, Rydl investiu suas economias em joias. Com o tempo, ele derreteu essas peças preciosas e as transferiu para sua inventada nação subaquática como forma de proteção contra o sistema que considera corrupto.
O mercado onde Rydl opera é repleto de fraudes. Em seu site oficial dedicado a Seagarland, ele mantém uma lista negra com nomes de indivíduos que falharam em suas promessas comerciais. Entre eles estão referências depreciativas como "caloteiros" e "vigaristas".
Em 2020, durante negociações em Manaus com representantes da refinaria Doromet, localizada em Itaquaquecetuba e com conexões em Nova York, Rydl se viu novamente no centro das atenções. Os negócios planejados envolviam a venda de cerca de 40 quilos do seu ouro submerso para refino e posterior comercialização como joias ou componentes eletrônicos.
No entanto, as autoridades brasileiras começaram a investigar essas transações após suspeitas sobre a origem do ouro. O sócio da Doromet, Brubeyk Nascimento, foi acusado pela Polícia Federal (PF) de ser um dos principais contrabandistas de ouro do Brasil e ligado a práticas ilegais em terras indígenas.
Quando questionado pela PF sobre a origem do material que possuía em grande quantidade durante uma abordagem policial em 2023, Nascimento mencionou Seagarland como sua fonte. No entanto, análises periciais indicaram que o ouro não apresentava características típicas das joias derretidas que Rydl alegava possuir.
A defesa apresentada por Rydl é baseada na ideia de que seu comprador pode ter misturado ouro ilegal ao seu legítimo estoque. Apesar disso, a PF destacou que o álibi construído em torno da existência de Seagarland poderia servir como fachada para atividades ilícitas mais amplas.
Defesa
Ainda assim, Werner continua a defender suas crenças com fervor. Recentemente, ele declarou à imprensa que toda sua riqueza foi devidamente registrada em sua declaração de imposto de renda autodeclarada — estimada em mais de R$ 17 bilhões — embora ninguém consiga verificar essa fortuna como um dinheiro convencional.
Segundo o 'CQ Globo', a trajetória jurídica de Rydl inclui prisões anteriores e acusações relacionadas à posse ilegal de ouro sem comprovação de origem. Durante esses episódios legais, seu advogado o descreveu como "excêntrico", uma tentativa clara de desviar o foco das implicações criminais que cercam suas atividades.
Werner argumenta que as acusações contra ele são manifestações da aversão ao sucesso financeiro no Brasil. Ele critica o sistema tributário brasileiro e a atuação da polícia como formas de perseguição aos ricos. Ele afirma: "Meu ouro é considerado ilegal apenas porque estou sendo criminalizado por ser rico". Para ele, a solução reside em manter sua riqueza protegida nas profundezas imaginárias da Seagarland.
Entre as paredes da sua casa em Ponta do Mel, uma imagem da princesa Maria Leopoldina da Áustria serve como um símbolo inspirador para Rydl — conectando suas raízes históricas à justificação para seus investimentos na forma desse misterioso tesouro submerso.



