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Sereia de Fiji: a farsa que fez um capitão do século 19 perder sua 'fortuna'
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Sereia de Fiji: a farsa que fez um capitão do século 19 perder sua 'fortuna'

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Aventuras Na História
31/05/2023 19h24
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Durante quase todo o século 19, as pessoas eram profundamente atraídas por circos bizarros e shows mórbidos. Naquela época, quanto mais esquisita e singular fosse a atração, maior era o entretenimento do público.

Assim, mulheres barbadas, pessoas fisicamente alteradas e super-humanos eram os queridinhos do show business. Ainda que fossem tratados como aberrações pela sociedade, tais artistas arrecadavam valores exorbitantes todas as noites.

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Exposta em uma caixa de vidro grosso, a Sereia de Fiji foi uma das atrações mais conhecidas na época. Junto de diversos outros indivíduos semelhantes, ela atraiu a atenção de cidades inteiras ao redor do mundo — verdadeira ou não.

A suposta Sereia de Fiji / Crédito: Domínio Público

 

Marinheiros de sorte

Reza a lenda que, logo no início dos anos 1800, a curiosa sereia foi encontrada perto das Ilhas de Fiji, no Pacífico Sul. Intrigados, marinheiros japoneses deram nome ao ser capturado e trouxeram-na para terra firme.

Naquela época, comerciantes holandeses possuíam certa ligação com o mercado japonês. Dessa forma, após algumas negociações amigáveis, a sereia foi comprada, em meados da década de 1810.

Por anos, o ser marítimo fez sucesso em terras holandesas até chamar atenção de Samuel Barrett Eades. Profundamente intrigado pela entidade mística, o capitão norte-americano arrematou a sereia por 5 mil dólares espanhóis, em 1822. O que equivaleria a cerca de 126 mil dólares atualmente (quase R$640 mil), aponta o Guinness Book.

Mas não foi só isso. Para arrecadar o dinheiro, Eades vendeu o navio mercante The Pickering, do qual ele tinha apenas um oitavo das ações. A embarcação foi arrematada por seis mil dólares espanhóis. Os mil dólares restantes ele usou para garantir uma passagem até a Inglaterra.

Com um tórax semelhante ao dos humanos e uma cauda grossa, a sereia foi exibida em Londres naquele mesmo ano. A atração foi divulgada em jornais, a fila da exposição estava sempre lotada e as opiniões sobre sua veracidade eram bastante divididas.

Eades, porém, não tinha dúvidas, estava convencido da existência dos tritões. Com todo o sucesso da exibição da sereia, a comunidade científica ficou maluca para desvendar a verdade sobre o ser.

O Guinness aponta, porém, que Stephen Ellery, dono dos outros sete oitavos do The Pickering, entrou com uma ação na Justiça contra a venda da embarcação. A vida de Eades foi por água abaixo quando a farsa da sereia foi comprovada e os tribunais decidiram que ele seria forçado a trabalhar o resto de sua vida para saldar sua dívida.

O começo de uma viagem

Em meados de 1840, Samuel Barrett Edes morreu e deixou seu bem mais precioso de herança para seu filho. Cansado da sereia, no entanto, o jovem vendeu o artefato para Moses Kimball, integrante do Museu de Boston. Aquela altura, apesar das declarações da sereia ser falsa, ela ainda gerava muita curiosidade.

Outra "sereia", feita de papel machê , da mesma coleção de Moses Kimball/ Crédito: Domínio Público

 

Uma vez detentor do espécime, Moses imaginou que um amigo de Nova York saberia como proceder com a sereia. Assim, o famoso P. T. Barnum colocou os olhos no ser místico pela primeira vez em 1842.

Profundo apreciador do oculto, Barnum passou a alugar a sereia de Moses e expô-la no Museu Americano de Barnum, em Nova York. Pagando US $12,50 por semana, ele passou a ganhar milhares de dólares.

Pelo mundo

Percebendo a fama da criatura e a forma como ela conquistava o olhar dos curiosos, Barnum decidiu criar uma publicidade mais agressiva. Assim, enviou cartas anônimas para diversos veículos jornalísticos, apresentando a sereia.

Nos textos, explicava que um explorador havia capturado a criatura durante uma de suas viagens na América do Sul. Sob o nome de Dr. J. Griffin, então, um empregado de Barnum passou a viajar com a sereia, alegando tê-la encontrado.

O Banff Merman, semelhante a uma sereia de Fiji, em exibição no Indian Trading Post/ Crédito: Eviatar Bach via Wikimedia Commons

 

O sucesso da peça era inegável e Barnum pensava ter tirado a sorte grande. Após um incêndio no Museu Americano de Barnum, entretanto, a sereia desapareceu em 1859. Seu paradeiro nunca mais foi encontrado e a memória ficou para as fotos e ilustrações.

Uma farsa desmascarada

O legado da suposta sereia se seguiu por anos, ainda mais quando outros espécimes parecidos apareceram. Especialistas, contudo, estavam determinados a desvendar a história por trás da criatura de Barnum.

Foi descoberto, então, que o ser místico, na verdade, era composto pelo tronco um macaco costurado à metade de um peixe. No caso da Sereia de Fiji, especialistas concluíram que o artefato era a junção de um orangotango com um salmão.

Segundo um artigo publicado pela revista Western Folklore na época, a sereia provavelmente foi criada por um pescador japonês, no início de 1800. Essa seria uma tradição asiática que, desconhecida pelo Ocidente, enganou desavisados e ainda garantiu um mundo de fama para aqueles que decidiram expô-la.

Um tritão construído com escultura em madeira e partes de macaco e peixe, no Booth Museum, em Brighton/ Crédito: Hzh via Wikimedia Commons

 

"Hoje em dia é difícil acreditar que Eades estava disposto a arriscar tudo na sereia, mas naquela época a existência de tritões ainda estava em debate. Realmente não era sabia se as sereias eram reais ou não. Eades pensou que sua sereia resolveria a questão e faria sua fortuna", explica Sarah Peverley, consultora especializada do Guinness em artigo publicado no site do Livro dos Recordes.

Embora outras chamadas sereias tenham sido exibidas em toda a Europa antes, nenhuma era como a dele. Isso porque veio do Japão, onde foi feito como um ícone religioso que representa um dos yokai ou espíritos da cultura japonesa", conta a especialista.

Acontece que, do século 17 até meados do século 19, o Japão tinha uma rígida política isolacionista, conhecida como Sakoku, que limitava o comércio e o contato com nações estrangeiras, sendo assim, tão pouco se sabia sobre sua cultura nos círculos europeus.

"Objetos como a sereia não eram compreendidos pelos forasteiros, então quando caíram nas mãos de marinheiros como Eades, eles trocaram de mãos por grandes somas de dinheiro e foram tirados do contexto", diz Sarah, que também é professora da Universidade de Liverpool.

"A sereia de Eades captura o quão espirituais, imaginativos, curiosos, otimistas e totalmente crédulos os humanos podem ser. É trágico que ele tenha perdido tudo, mas P. T Barnum fez fortuna com ela. Barnum era simplesmente melhor em lidar com as opiniões conflitantes que os sereia evocada nas pessoas. Ele deixou para o público decidir se ela era real ou não, ao invés de dizer a eles que ela era a resposta que a ciência estava procurando", finaliza.

 

 

 

 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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