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Sissi: A jovem indomável que, aos 16 anos, tornou-se imperatriz da Áustria
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Sissi: A jovem indomável que, aos 16 anos, tornou-se imperatriz da Áustria

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Aventuras Na História
02/05/2025 17h00
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©Getty Images
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Em vida, Elisabeth da Áustria foi celebrada por sua beleza elegância e beleza estonteante. Mas, na morte, a imperatriz — conhecida popularmente como Sissi — foi reimaginada pela cultura contemporânea como símbolo feminista, embora essa releitura provoque controvérsias entre historiadores.

Na série alemã da Netflix "A Imperatriz", Elisabeth é retratada como uma mulher espirituosa e indomável, desafiando os padrões impostos pela corte do século 19.

A produção, que se encaminha para sua terceira e última temporada, apresenta uma Sissi franca e crítica — uma soberana que dialoga com o povo, opina sobre política e resiste às estruturas conservadoras. Em um dos episódios, enquanto se prepara para dar à luz, ela afirma com frieza:"Eu sei que as meninas têm menos valor nesta família".

Essa versão, vale destacar, não é a primeira a divergir do que conta a história. Na década de 1950, a trilogia austríaca "Sissi", com Romy Schneider, já havia suavizado a realidade da imperatriz, transformando-a numa figura dócil e idealizada, moldada para restaurar o orgulho nacional pós-Segunda Guerra.

Ambas as interpretações, apesar das diferenças, preservam Elisabeth como um ícone jovem e encantador, fiel inclusive ao desejo da própria Sissi de não ser retratada após os 30 anos.

Entretanto, por trás da imagem pública, a realidade era bem mais sombria. Na corte de Viena, a função de uma consorte era clara: gerar herdeiros, representar a monarquia com graça e manter uma aparência impecável. Segundo Michaela Lindinger, curadora do Museu de Viena, Elisabeth era infeliz, solitária e sem interesse por ações sociais.

"Ela poderia ter tentado cuidar da educação das meninas ou hospitais ou reduzir o problema com a moradia em Viena. Ela poderia ter feito todas essas coisas. Mas ela não tinha nenhum interesse [neles]", disse a curadora, de acordo com informações da revista Smithsonian.

Sissi, a imperatriz

Nascida em Munique em 1837, filha do duque Maximiliano José da Baviera e da princesa Ludovika da Baviera, Elisabeth teve uma infância longe dos protocolos da corte. Cresceu livre, entre cavalos, montanhas e brincadeiras com filhos de camponeses. Não era a escolha óbvia para se tornar imperatriz — esse papel caberia à sua irmã Helene, mais velha e considerada mais adequada ao trono.

Em 1853, aos 15 anos, Sissi viajou à Áustria com a mãe e a irmã para o suposto noivado de Helene com o imperador Francisco José I. No entanto, foi Elisabeth quem conquistou o coração do monarca.

Surpresa com a escolha, ela comentou que amaria Francisco — "se ele não fosse o imperador". Um ano depois, casou-se com ele e tornou-se imperatriz, algo que acabaria por oprimir sua liberdade pessoal.

A imperatriz Elizabeth da Áustria em retrato / Crédito: Getty Images

Jovem indomável

Segundo o curador Michael Wohlfart, Elisabeth era uma jovem indomável inserida num ambiente rígido e conservador, dominado pela Igreja e pela tradição. Como destacou Lindinger, ela tinha apenas 16 anos quando chegou à corte e perdeu qualquer traço de autonomia. Embora estivesse cercada de riqueza e privilégios, não era feliz.

A imagem de Sissi está por toda Viena: em lembranças turísticas, no Palácio de Schönbrunn, no Museu Sissi e até em chocolates decorados com seu rosto. Ela se tornou, nas palavras da cineasta Marie Kreutzer, "um ímã turístico". E foi inspirada por esse fenômeno que Kreutzer dirigiu "Corsage" (2022), um retrato mais cru e melancólico da imperatriz já envelhecida.

Museu Sissi

O Museu Sissi, localizado no Palácio Hofburg, abriga os antigos aposentos da imperatriz. Inaugurado em 2004, ele foi concebido para seguir uma narrativa que começa e termina com sua morte. A morte trágica da monarca, que foi assassinada por um anarquista italiano em 1898, contribuiu para a consolidação do mito que ela própria ajudou a criar.

No início, o museu quase não possuía objetos pessoais de Elisabeth. Apenas dez anos depois conseguiu reunir uma coleção relevante, incluindo uma camisola e um vestido usados em sua residência de verão em Corfu. Lindinger, encarregada de uma exposição sobre a imperatriz, buscou mostrar uma Sissi mais humana — por meio de seus poemas, sentimentos e contradições, distantes da figura idealizada do cinema.

Retrato de Elizabeth com Francisco José e seus filhos / Crédito: Getty Images

Outros estudiosos também se interessaram por Elisabeth sob ângulos menos convencionais. Olivia Gruber Florek, historiadora de arte, analisou os retratos pintados por Franz Xaver Winterhalter, que, ao contrário dos padrões da época, destacavam traços íntimos como o cabelo e a expressão, ao invés da pompa imperial.

Figura reclusa

A verdade é que a presença de Sissi na corte causava frustração. Ela não seguia regras, recusava rituais e se mantinha afastada do público. Era vista como esnobe por muitos servos e criticada por sua reclusão. Mesmo sendo considerada uma das mulheres mais belas do mundo, raramente era vista em público. Após dar à luz seus quatro filhos — o último deles, Marie Valerie, aos 30 anos —, decidiu não mais cumprir o papel de mãe reprodutora.

O relacionamento com Franz Joseph rapidamente se desgastou. Ele passou a confiar mais na mãe do que na esposa, excluindo Elisabeth de discussões políticas. Apesar de manterem certa cordialidade pública, o distanciamento emocional era claro.

A imperatriz em retrato de Franz Russ, o Velho / Crédito: Getty Images

Boatos de infidelidades cercavam ambos. Há rumores de que Elisabeth teria tido amantes, embora ela mesma tenha negado qualquer envolvimento. Além disso, em seus poemas, a imperatriz deixava clara sua aversão ao amor físico, que ela associava à destruição da liberdade e da beleza feminina.

"As crianças são a maldição de suas mães porque destroem sua beleza ... o único presente que Deus nos dá", teria dito certa vez, de acordo com uma sobrinha.

Busca por autonomia

Segundo Brigitte Hamann, biógrafa da imperatriz, Elisabeth não cumpriu nenhuma das funções esperadas de uma mulher real: não foi esposa dedicada, nem mãe exemplar, nem figura política ativa. Em vez disso, buscou preservar sua individualidade acima de tudo.

Essa luta por autonomia, segundo Wohlfart, é justamente o que torna Elisabeth especial: ela exigia o direito de decidir sobre si mesma. Acreditava que mulheres não deveriam ser controladas por homens, e esse pensamento a colocava à frente de seu tempo. Mas isso não significa que era uma figura doce ou acessível — pelo contrário, ela era reservada, crítica e, por vezes, amarga.

Em sua poesia, Elisabeth revelava uma percepção distorcida da realidade. Acreditava ter conexões predestinadas com figuras como o poeta Heinrich Heine ou o herói Aquiles. Florek comenta que a imperatriz vivia num mundo isolado, como ainda hoje ocorre com membros da realeza. Rodeada por empregados, sem contato com a vida comum, ela cultivava obsessões.

Sua fixação com o corpo e a beleza foi um dos traços mais marcantes. Praticava exercícios rigorosos, mantinha dietas severas e usava longos cabelos que exigiam horas de cuidado diário. O peso do cabelo era tanto que, às vezes, ela o prendia ao teto para aliviar a pressão na cabeça.

Nos retratos de Winterhalter, Sissi aparece com estrelas nos cabelos, olhar penetrante e vestido esvoaçante. Para Elisabeth, essa era uma forma de expressar quem era, já que recusava os meios tradicionais de participação na corte. A outra forma era por meio de seus escritos, muitos dos quais ela chegou a proibir a publicação por 60 anos, temendo o impacto que causariam.


Sobre o Império Austríaco

O Império Austríaco foi uma poderosa monarquia europeia formada em 1804 e que existiu até 1867, quando se transformou no Império Austro-Húngaro. Criado pelo imperador Francisco I, em resposta à ascensão de Napoleão Bonaparte e à dissolução do Sacro Império Romano-Germânico, o império abrangia uma grande diversidade de povos e territórios na Europa Central e Oriental — incluindo regiões que hoje fazem parte da Áustria, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Croácia, Eslovênia, entre outras.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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