Brasileiro deixa de comprar comida para gastar dinheiro em bets, mostra pesquisa

Tecmundo






Um relatório do Banco Central (BC) revelou que R$ 22 bilhões saíram de contas de pessoas físicas e foram diretamente para sites e a apps de apostas digitais no primeiro trimestre de 2025. O levantamento foi apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as chamadas bets.
O tema foi debatido durante Sessão Deliberativa Ordinária no Senado realizada ontem (15). De acordo com o senador Humberto Costa (PT/PE), presidente da sessão, se o ritmo for mantido, o ano de 2025 se encerrará com aproximadamente R$ 270 bilhões gastos pelos brasileiros com apostas.
O parlamentar ainda pontuou que o valor de R$ 270 bilhões representaria 84% de todo o varejo de carne bovina do Brasil em 2024. Segundo ele, a análise foi feita por Rafael Furlanetti, que é diretor Institucional da XP.
A Sessão Deliberativa Ordinária – cujas Notas Taquigráficas podem ser conferidas neste site – ainda contou com outras falas sobre o assunto. O mesmo senador Humberto Costa lembrou que outra pesquisa revelou que 29% dos entrevistados admitiram destinar parte do dinheiro reservado ao fim de semana para apostas digitais.
No mesmo levantamento, 18% dos brasileiros disseram ter reduzido a compra de carnes ou almoço fora para manter a chamada “banca”, que é o valor definido para apostar.
Para os mais desatentos, a tradução de todos esses dados é a seguinte: parte dos brasileiros – principalmente na faixa mais pobre – têm deixado de comprar alimentos para apostar nas bets online. E além das comidas, que são essenciais para se manter vivo, as bets também têm tomado outras prioridades.
Pessoas deixando de estudar
O debate realizado na 81ª Sessão Deliberativa Ordinária do Senado levantou também que pessoas estão deixando de ingressar no Ensino Superior, por exemplo.
No estudo “O impacto das bets na educação superior”, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pela Educa Insights, uma das principais descobertas é que 34% dos entrevistados disseram que precisariam ter interrompido as apostas para iniciar os estudos no primeiro semestre de 2025.
A pesquisa mostrou que 986 mil pessoas podem não efetivar a matrícula na graduação no primeiro semestre de 2026. O motivo? Comprometimento financeiro com sites de apostas.
De acordo com o estudo, 52% dos entrevistados disseram apostar regularmente, indicando de uma a três vezes por semana pelo menos. Os valores investidos ficam em média em R$ 421 por mês nas classes D e E, chegando a R$ 1.210/mês entre pessoas da classe A.
Autocrítica?
Sem o tom necessário de autocrítica, os senadores lembraram na Sessão Deliberativa Ordinária de ontem a importância de se trabalhar para tentar frear a chamada “febre das bets”.
O senador Eduardo Girão (NOVO/CE) foi um dos primeiros oradores a criticar as casas de apostas. Ele chamou a liberação das bets de “desastre” e que o fato deve servir de aprendizado para não autorizar os cassinos e bingos. “Errar uma vez é ruim, mas errar duas vezes é injustificável, porque estamos tratando de um vício que destrói famílias e leva muitos ao suicídio”, justificou.
Quando esteve com o microfone, o senador Izalci Lucas (PL/DF) argumentou que as bets “destruíram o Brasil”. Ele lembrou que além de equivaler ao consumo de produtos importantes como carne, os sites de apostas acabaram sendo a destinação de parte do dinheiro recebido do Bolsa Família em muitas famílias.
No caso do senador Chico Rodrigues (PSB/RR), ele defendeu uma “cobrança de imposto substancial a essas bets”.
“A gente vê, inclusive, que, sobre os benefícios sociais que o Governo destina à população brasileira, como, por exemplo, o Bolsa Família, tem famílias que muitas vezes se veem quase sem nada daqueles valores, porque normalmente os cabeças da família passam a utilizar o jogo como uma prática de risco à vida [...] Isso é uma verdadeira ilusão, que está preocupando sobremaneira todos nós, porque atinge frontalmente a sociedade brasileira”, discursou.


