Como os humanos poderiam viajar milhões de anos-luz em segundos?

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Viajar para planetas distantes em poucos segundos parece coisa de ficção científica — e, por enquanto, é. Mas essa possibilidade tem base teórica concreta na física moderna: ela depende dos chamados buracos de minhoca. Essas estruturas hipotéticas seriam túneis no tecido do espaço-tempo que poderiam conectar regiões extremamente distantes do universo.
O conceito deriva da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, que prevê que a gravidade pode deformar o espaço-tempo como se fosse uma folha de borracha, criando curvas e dobras tão acentuadas que poderiam, sob condições específicas, formar verdadeiras passagens de um ponto a outro do universo.
O espaço-tempo não é plano, mas curvo, enrugado e dobrado pelas forças da gravidade”, explicou o professor Dejan Stojkovic, cosmólogo da University at Buffalo, em entrevista ao Daily Mail.
“Os buracos de minhoca aproveitam essas dobras, abrindo caminho direto de um ponto a outro. Se a garganta do buraco de minhoca for larga o suficiente para comportar uma nave, então podemos usar o atalho que ele oferece.”
A ideia é que, ao invés de percorrer uma longa distância na superfície curva do universo, uma nave poderia atravessar a “garganta” de um buraco de minhoca e emergir do outro lado instantaneamente, mesmo que os pontos estivessem separados por bilhões de anos-luz no espaço convencional.
Teoricamente, não há limite de quão longe poderíamos viajar dessa forma. Dois pontos distantes poderiam estar a bilhões de anos-luz no espaço normal, mas a apenas alguns segundos de distância por meio do buraco de minhoca", afirmou Stojkovic.
A astrofísica teórica Dr. Andreea Font, da Liverpool John Moores University, complementou ao Daily Mail: “Os buracos de minhoca são ‘túneis’ no tecido do espaço e do tempo que podem encurtar o caminho normal entre duas regiões distantes do nosso universo.”
Segundo ela, os cálculos baseados nas equações de Einstein indicam que, “em princípio, a geometria do espaço-tempo pode ser dobrada de forma que um túnel possa ser estabelecido entre dois buracos negros massivos em lugares distantes”.

Desafios
No entanto, transformar essa ideia em realidade é um desafio colossal. Os buracos de minhoca, se existem, seriam extremamente instáveis. A gravidade intensa tende a colapsar a garganta do túnel quase imediatamente após sua formação. Para que fosse possível atravessá-lo com segurança, seria necessário algum tipo de força que mantivesse o túnel aberto.
É aí que entra a chamada energia negativa, um conceito real na física quântica. Trata-se de regiões do espaço com menos energia do que o vácuo, algo contraintuitivo, mas já observado em experimentos como o efeito Casimir.
Para garantir a estabilidade, é preciso contrariar a força atrativa da gravidade e evitar o colapso das paredes do buraco de minhoca. Para isso, precisamos de grandes quantidades de energia negativa, ou algum arranjo equivalente que forneça força repulsiva para estabilizar o túnel, explicou Stojkovic.
Contudo, a quantidade necessária é astronômica. Apesar de termos produzido pequenas quantidades de energia negativa em laboratório, ainda estamos muito longe de conseguir utilizá-la em qualquer escala prática.
“Atualmente, não temos essas capacidades. Mas isso não significa que não as teremos no futuro distante, nem que alguma civilização alienígena já não as tenha agora", acrescentou o professor.
Ele também lembrou que, por muito tempo, os buracos negros também foram tratados como abstrações matemáticas improváveis. “A solução de Schwarzschild, que descreve buracos negros, foi derivada em 1916, e cientistas líderes durante os 50 anos seguintes se recusaram a acreditar que havia algo tão estranho na natureza. Hoje, vemos buracos negros por todo o universo. Acredito que algo semelhante acontecerá com os buracos de minhoca.”


