Estudo com primatas derruba teoria de dominância de 'machos alfa'

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Pesquisadores realizaram um estudo abrangente que desmistifica a ideia de que a dominância masculina é uma característica predominante entre os primatas. Os resultados indicam que tanto machos quanto fêmeas podem exercer controle em suas interações, dependendo das circunstâncias específicas.
De acordo com a pesquisa, publicada em 7 de julho na revista PNAS, a dominância clara dos machos sobre as fêmeas é uma ocorrência rara. Na verdade, existem tantas evidências de machos dominando fêmeas quanto o inverso, desafiando suposições históricas que sustentavam que os machos geralmente tinham um papel mais dominante.
O estudo analisou dados de mais de 100 espécies de primatas e revelou que, na maioria das espécies, não há um claro domínio de um sexo sobre o outro. Essa descoberta sugere que as relações intersexuais são muito mais complexas do que se acreditava anteriormente.
A pesquisa destacou que, nos poucos casos onde há uma dominância evidente, machos e fêmeas tendem a empregar estratégias distintas para afirmar seu controle. Élise Huchard, autora principal do estudo e pesquisadora sênior da Universidade de Montpellier, na França, afirma em comunicado que "é crucial notar que, enquanto os primatas machos obtêm poder por meio da força física e da coerção, o empoderamento feminino depende de caminhos alternativos, como estratégias reprodutivas para obter controle sobre o acasalamento".
Dominância entre espécies
Historicamente, a ciência tendia a considerar os machos como o sexo dominante em mamíferos. No entanto, a diferença de tamanho nem sempre favorece os machos e, nas últimas décadas, muitos exemplos foram documentados onde as fêmeas são as líderes, como nas orcas matriarcais (Orcinus orca) e em suricatos (Suricata suricatta) agressivas que superam seus pares masculinos. Esse padrão também se reflete entre os primatas, com registros de dominância feminina em espécies como bonobos (Pan paniscus) e lêmures-de-cauda-anelada (Lemur catta).
A investigação sobre as relações intersexuais foi realizada através da análise do comportamento entre machos e fêmeas de 253 populações de 121 espécies de primatas. Os pesquisadores descobriram que encontros agressivos entre machos e fêmeas eram comuns e representavam cerca da metade de todas as contendas observadas; contudo, raramente eram unilaterais.
Ao medir os resultados das competições intersexuais em 151 populações de 84 espécies, foi constatado que os machos venceram consistentemente em 25 populações envolvendo 16 espécies. Em contrapartida, as fêmeas venceram em 20 populações, também envolvendo 16 espécies. Nos 106 grupos restantes, pertencentes a 69 espécies, os resultados apresentaram viés moderado entre os sexos.
A dominância não apenas variou entre diferentes espécies de primatas, mas também dentro de uma mesma espécie. Por exemplo, diferentes populações de bonobos femininas ganharam entre 48% e 79% de suas contendas, enquanto fêmeas de macacos patas (Erythrocebus patas) venceram entre 0% e 61%. Os pesquisadores observaram que talapoins angolanos (Miopithecus talapoin) podiam apresentar dominância estrita dos machos ou das fêmeas ou nenhuma tendência clara, dependendo do grupo analisado.
Os cientistas investigaram ainda os mecanismos por trás dessa variabilidade na dominância e descobriram que características físicas influenciam essa dinâmica. Contudo, fatores como habitat e estilo de vida dos primatas desempenham um papel crucial.
A dominância feminina tendia a ocorrer em populações onde as fêmeas controlavam a reprodução — por exemplo, em espécies monogâmicas que habitam árvores, onde as fêmeas podiam escapar dos machos. Por outro lado, a dominância masculina era mais prevalente em espécies terrestres onde os machos eram maiores e controlavam o acasalamento com várias fêmeas.
Peter Kappeler, coautor do estudo e chefe da ecologia comportamental no Centro Alemão de Pesquisa dos Primatas, afirmou: "Pesquisas recentes começaram a desafiar as visões tradicionais de que a dominância masculina é o status padrão, e nosso estudo agora fornece uma exploração mais abrangente da variação nos relacionamentos de dominância intersexual".


