Por que estavam escaneando a íris dos olhos das pessoas?

Tecmundo






Milhares de brasileiros estavam escaneando a íris dos olhos entre o final de 2024 e o início de 2025, após a empresa Tools for Humanity começar a realizar o procedimento em São Paulo (SP), oferecendo recompensa aos voluntários. Mesmo sem ter noção da finalidade do projeto, muitas pessoas decidiram participar.
Chegando ao Brasil em novembro do ano passado, o projeto World ID tem ligação com a empresa cofundada por Sam Altman , que também é CEO da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT. A polêmica iniciativa já rodou o mundo atrás de interessados em “vender a íris”.

Todas as pessoas que concordavam em participar da coleta recebiam 48 unidades da criptomoeda Worldcoin (WLD), valor que poderia chegar a R$ 200, R$ 400 ou até mais, à época, dependendo da cotação. No entanto, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) suspendeu a oferta do criptoativo em troca dos dados biométricos.
Mesmo com a suspensão da recompensa, ainda há inúmeras curiosos e interessados neste tipo de procedimento. Pensando em tirar dúvidas sobre a iniciativa, o TecMundo preparou um texto com todas as informações sobre o escaneamento da íris dos olhos.
Por que escanear a íris?
Assim como as impressões digitais, as íris são únicas, cada pessoa tem as suas. Parte colorida dos olhos, elas ficam entre a córnea e o cristalino, tendo a função de controlar a quantidade de luz que chega por meio da pupila, ajudando na sua dilatação nos ambientes escuros e na contração em locais muito claros.
Cada íris possui padrões de cor, textura e linhas que a tornam única, sem se alterar ao longo da vida. Por causa dessas características, ela se transformou emum importante dado biométrico, superando o reconhecimento facial em precisão.
De olho nesses fatores, o projeto World ID quer criar uma identidade digital única, que futuramente será usada como documento de identificação global — vem daí o nome da iniciativa. Ao realizar o procedimento, o voluntário recebe um código no celular que funciona como RG virtual.
Segundo os responsáveis pelo escaneamento, a principal utilidade da tecnologia é comprovar que você é uma pessoa e não um robô, em ambientes digitais, algo semelhante ao que faz o recurso Captcha , porém mais seguro. Assim, a íris escaneada libera acessos e facilita outros procedimentos.

Como funciona o escaneamento da íris?
Para a criação da World ID, identidade digital que pode até substituir a senha em apps, redes sociais e outras plataformas online, é necessário registrar a íris. O procedimento envolve o uso de um dispositivo chamado Orb, que tira fotos do rosto da pessoa interessada em usar a autenticação facial .
Este aparelho, que, na verdade, é uma câmera com alta resolução, faz uma foto do rosto inteiro, uma do olho direito e uma do olho esquerdo. A partir da coleta das imagens, o sistema gera um código único associado à íris daquela pessoa, que será a sua identidade digital.
O processo de escanear a íris dos olhos realizado pela iniciativa envolve etapas online e presencial. Os passos são os seguintes:
Ao final do procedimento, o voluntário recebe a recompensa em Worldcoins. Mas para tanto, é necessário ter conta em uma corretora de criptomoedas com suporte ao token para que a transferência seja realizada, permitindo usar o ativo digital da maneira desejada.
São mais de 40 postos de coleta biométrica no Brasil, todos na capital paulista, mas a empresa planeja expandir os locais de atendimento para outras cidades, disponibilizando Orbs em mais estados. Cabe ressaltar que a coleta estava suspensa no momento em que o texto foi escrito, por ordem da ANPD.
Quais são os riscos de vender a íris?
Por ser usada como identificação pessoal, a íris é considerada um dado sensível, exigindo cautela ao compartilhar o registro com terceiros. Diante disso, especialistas acreditam que projetos como o World ID podem representar riscos à segurança e privacidade dos dados se determinados cuidados não forem seguidos.
Em caso de vazamento, a imagem do olho pode ser usada para várias práticas ilícitas, incluindo a invasão de contas bancárias, como destaca o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), e a aplicação de golpes. Diferente das senhas, os dados biométricos não são tão facilmente trocados se usados indevidamente.
Ainda conforme a entidade, o World ID não apresenta um termo de consentimento claro nem fornece explicações detalhadas a respeito do tratamento, da proteção e do armazenamento das informações coletadas. Estas e outras preocupações também foram levantadas pela ANPD.

Sobre isso, os responsáveis pela coleta afirmam que o projeto não tem o objetivo de criar um banco de dados. Dessa forma, não há a solicitação de quaisquer dados pessoais durante a etapa de coleta da íris — a única exigência é a comprovação de que o voluntário tem mais de 18 anos, com a apresentação de documento de identidade no momento do atendimento.
“A World não coloca em risco a privacidade das pessoas, muito pelo contrário, é uma rede projetada para proteger a privacidade, permitindo uma prova de humanidade privada e anônima, sem a necessidade de saber informações pessoais, como nome, documento, telefone ou e-mail. A World não armazena dados pessoais dos usuários”, explicou o representante da Tools for Humanity, Rodrigo Tozzi, em entrevista à Agência Brasil.
O porta-voz também argumentou que os códigos de íris gerados após a coleta são fracionados e criptografados, ficando armazenados em servidores confiáveis. Como essas partes não contêm informações sobre a pessoa nem podem ser vinculadas a ela, não há riscos se esses sistemas forem violados.
Projeto enfrenta investigações em outros países
Presente em quase 40 países, a Tools for Humanity já escaneou cerca de 10 milhões de íris em todo o mundo, grande parte delas na América do Sul. Dando um passo a mais rumo à criação da identidade digital global anônima, a empresa anunciou parcerias com a Razer e o Match Group e iniciou a coleta nos EUA, em maio.
No território americano, os pontos de atendimento da World ID começaram a funcionar em cidades como Miami, Los Angeles, San Francisco e Nashville, entre outras. A meta é contar com 7,5 mil Orbs de nova geração espalhados por todo o país em até 12 meses.
Apesar da expansão, a empresa que faz o escaneamento da íris vem enfrentando obstáculos para se estabelecer em alguns mercados. O motivo é o mesmo que levou à suspensão do serviço no Brasil: a preocupação com o tratamento e a privacidade dos dados.
Na Espanha e em Portugal, o projeto chegou a ser banido, enquanto multas foram aplicadas à iniciativa na Coreia do Sul e na Argentina por violações a leis de dados . Ela também passou por investigações na Alemanha, Quênia, Reino Unido, França e Índia.
O que você pensa a respeito do escaneamento da íris e das questões de segurança citadas pelas autoridades? Deixe a sua opinião comentando nas redes sociais do TecMundo.


