Air: A História Por Trás do Logo: Veja o que é fato ou ficção no filme

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'Air: A História Por Trás do Logo' mostra os esforços de Sonny Vaccaro e Phil Knight para transformarem a Nike em uma das marcas esportivas mais famosas do mundo.
Para isso, o chefe da marca esportiva e o fundador da empresa, respectivamente, interpretados por Matt Damon e Ben Affleck, buscam assinar contrato com o jovem promissor do basquete: Michael Jordan — antes mesmo de sua estreia profissional.
Os bastidores da criação do Air Jordan em 1984, hoje um dos tênis mais icônicos da indústria, são contados no filme que será exibido esta noite, 16, na Tela Quente, da Rede Globo. Saiba o que é verdade e o que é ficção no longa!
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1. Slogan do corredor da morte (fato)
Em 'Air: A História Por Trás do Logo', Howard White (Chris Tucker), representante de marketing da Nike relacionado ao basquete, conta a Sonny que o slogan inspirador da empresa, "Just Do It" ('Apenas faça'), foi, na verdade, tirado das últimas palavras de um criminoso executado por um pelotão de fuzilamento.
Embora pareça ficção, conforme relata o portal Slate, o slogan foi realmente citado pelo condenado Gary Gilmore, que foi executado em Utah em 1977. No entanto, vale ressaltar, a Nike só usou a frase alguns anos depois dos eventos mostrados no filme, que se passa em 1984.

A sugestão ocorreu por meio de Dan Wieden, executivo de publicidade da Nike, antes de uma grande reunião de marketing. Sua ideia era usar uma versão ligeiramente alterada das últimas palavras de Gilmore: "Vamos fazer isso".
O próprio Wieden conta que Phil Knight não ficou nada feliz com a sugestão, respondendo: "Não precisamos dessa merda". Mas o executivo acabou os convencendo da ideia e as vendas da marca dispararam após a campanha comercial estrar em 1988.
2. Adidas e a Juventude Hitlerista (parcial)
À época, a Nike tinha apenas 17% do mercado da época, atrás de empresas como Converse e Adidas. Assim, enfrentava a concorrência de gigantes para fechar contrato com Jordan.
No filme, é mostrado que uma das alternativas para convencer Deloris Jordan (Viola Davis), mãe de Michael, a assinar com a Nike era resgatar a história de que Adolf 'Adi' Dassler, fundador da empresa alemã, fez parte da Juventude Hitlerista. Vaccaro, porém, acaba não usando esse 'fato'.
A verdade é que Dassler estava na casa dos 30 anos quando os nazistas chegaram ao poder, mas isso não significa que ele não tinha ligações com o Terceiro Reich. Afinal, ele e seu irmão, Rudolf, fundador da Puma, apoiaram o partido nazista após Hitler se tornar chanceler em 1933.
O portal Slate aponta que partiu de Adolf Dassler a ideia de fornecer calçados para a Juventude Hitlerista, como forma de melhorar as perspectivas econômicas da empresa. Porém, não foi só a Adidas que apoiou o nazismo, visto que outros empresários também foram financiadores de Hitler.
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Em contrapartida, a Adidas também esteve atrás da jovem sensação negra do atletismo, Jesse Owens, para que ele usasse a marca nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, quando ele venceu sua prova e desafiou as falácias arianas dos nazistas.

Por querer se aproveitar dos dois cenários, durante o processo de desnazificação pós-Gerra, Dassler foi rotulado como um "aproveitador". Após várias pessoas testemunharem em sua defesa, ele próprio alegou que se manteve longe de comícios políticos e tinha apoiado inúmeras organizações esportivas afiliadas a movimentos sociais em todo o espectro político.
3. A multa por jogo (fato)
Quando o designer de calçados da Nike, Peter Moore (Matthew Maher), revelou o protótipo do Air Jordan, Sonny Vaccaro e o gerente de marketing Rob Strasser (Jason Bateman) consideraram o tênis um 'pouco sem graça'; achando que ele precisava incorporar mais s cores vermelho e preto, características do Chicago Bulls.
Moore, porém, se mostrou um pouco reticente, apontando que a NBA tinha regras sobre a quantidade de branco que deveria aparecer nos calçados de quadra — e que qualquer desvio de padrão renderia em uma multa. Mesmo assim, determinados a fazer o calçado, a Nike concordou em arcar com a multa de 5 mil dólares por jogo para Michael jogar com o Air Jordan.
A história, na real, vai um pouco além disso, visto que a NBA tinha, de fato, uma "regra de uniformidade" exigindo que os calçados dos jogadores em quadra "não apenas combinassem com seus uniformes, mas combinassem com os calçados usados por seus companheiros de equipe", repercute o Slate. Assim, os calçados tinham que ser 51% brancos.

Mas, quando Jordan usou o calçado da Nike pela primeira vez em um jogo, seu design ainda estava sendo finalizado, o que fez com que ele calçasse uma versão vermelha e preta do Air Ship, que era semelhante ao Air Jordan, relata o Chicago Tribune.
O uso do tênis levou o então vice-presidente executivo da NBA, Russ Granik, a escrever uma carta: "Isso confirmará e verificará que as regras e procedimentos da NBA proibiram o uso de certos tênis de basquete Nike vermelhos e pretos pelo jogador do Chicago Bulls, Michael Jordan".
Assim, a Nike aproveitou a polêmica e criou sua campanha de marketing em cima do 'desrespeito às regras da liga'. Em um comercial, a empresa apresentava uma versão censurada dos tênis pretos e vermelhos de Jordan e proclamava: "Em 15 de outubro, a Nike criou um novo tênis de basquete revolucionário. Em 18 de outubro, a NBA os tirou do jogo. Felizmente, a NBA não pode impedi-los de usá-los". A ação foi um sucesso.
4. O papel do agente (ficção)
Quem assiste ao filme, verifica que Vaccaro quase que "passou por cima" de David Falk, então agente, para falar com Deloris. No longa, David se preocupa com os ganhos financeiros e não é nada fácil de lidar. Assim, Sonny opta por negociar diretamente com os pais de Jordan, sem o papel do agente.
Na vida real, entretanto, foi Falk o responsável por convencer o esportista, com os pais, a considerarem a proposta feita pela marca.
5. O mestre do acordo (depende)
O grande ponto em que se baseia o enredo de 'Air: A História Por Trás do Logo', é a crença de Vaccaro em Jordan e de como isso se tornou o ímpeto por trás do acordo entre o jogador e a Nike.
Afinal, naquela época, a empresa tinha orçamento de dois milhões para criar sua linha de tênis. Porém, Vaccaro convenceu Knight a investir a quantia numa linha para apenas um jogador e não em vários atletas promissores. Sonny Vaccaro até mesmo aposta seu emprego ao apontar que tudo daria certo.
E é aí que entra a principal controvérsia do filme: quem foi o responsável por Jordan assinar com a Nike? Foi realmente Vaccaro, como mostrado na produção?

Em entrevista à ESPN, Knight contestou o papel de Sonny no acerto: "Muitas pessoas querem levar o crédito pela contratação de Michael Jordan, mais principalmente Sonny Vaccaro... Sonny ajudou, mas ele não foi o 'craque do jogo' nesse processo". Em vez disso, disse Knight, os verdadeiros responsáveis foram o gerente de marketing Rob Strasser e o designer de calçados Peter Moore.
Já o próprio Jordan cita uma pessoa diferente: "Sonny gosta de levar o crédito, mas não foi realmente Sonny, foi George Raveling" — o assistente técnico da equipe olímpica de 1984. Raveling é interpretado no filme por Marlon Wayans.
"Ele sempre tentava falar comigo: 'Você tem que ir para a Nike, você tem que ir para a Nike'", disse Jordan. Além disso, Michael disse que o executivo da Nike com quem ele mais se conectava era Strasser, não Vaccaro: "Sonny não me influenciou a ir para a Nike. Eu me apaixonei completamente por [Strasser] quando ele realmente fez a primeira apresentação da coisa da Jordan, o conceito da Air Jordan", repercute o Slate.
No filme, Vaccaro pede a Raveling, que tinha sido seu padrinho, para defender a Nike para Jordan — sem mencionar que o próprio Raveling tinha um acordo de patrocínio com a Nike na época.
O assistente técnico reforçou essa versão dos fatos: "Sempre senti que a versão de Michael e minha sobre como ele chegou à Nike era totalmente diferente do que estava sendo percebido lá fora. Eu tinha muito tempo para passar com Michael e estava tentando recrutá-lo para vir para a Nike. No interesse da precisão, Sonny me pediu para tentar marcar uma reunião entre ele e Michael".
Sonny Vaccaro, por sua vez, contesta todas essas outras versões: "Phil Knight está mentindo, Michael está mentindo mais do que Phil, e Raveling é louco. Todos os três precisam me destruir para viverem felizes para sempre. Todos estão tentando reescrever a história. Vai além de Jordan. Eu sou o salvador da Nike'.'
O designer de calçados da Nike, Peter Moore, também falou sobre o assunto: "A verdade está muito perto de Sonny", disse ao USA Today.
"O Sr. Knight acertou em parte. [Strasser] foi um ‘craque’ no negócio. Foi ele quem decidiu que a Nike precisava de um ícone do basquete. ... Sonny foi o segundo astro no negócio. Ele escolheu Jordan entre todos aqueles garotos que jogavam basquete na faculdade. ... Foi Sonny quem falou primeiro com Michael. ... No primeiro encontro entre a Nike e Michael e sua família, foram Sonny e Rob que conquistaram Michael e sua família. ... Posso dizer honestamente que sem Sonny não haveria um Air Jordan. A Nike nunca o teria contratado, muito provavelmente nunca o teria perseguido", apontando que, se Sonny não fizesse parte da história, a Nike provavelmente teria acertado com Patrick Ewing.
Uma parte importante dessa relação, e que não é mostrada no filme, é que Sonny Vaccaro acabou sendo demitido da Nike em 1991. Ele, assim, foi contratado pela Adidas, onde trabalhou com Strasser e Moore. Na empresa, Sonny foi responsável por assinar contrato de tênis com outra superestrela do basquete: Kobe Bryant, quando ele ainda estava no ensino médio.



