‘Xógum’: A trama da série é fiel à história do Japão? Historiador responde

Aventuras Na História








“Xógum”, a série épica do Star+, mergulha no Japão feudal do século 17, narrando a fascinante história de John Blackthorne, um navegador inglês interpretado por Ansel Elgort. Naufragado na costa japonesa, Blackthorne se depara com um mundo totalmente diferente, regido por costumes ancestrais e uma rígida hierarquia social.
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A série, com roteiro de Steven Kane e produção de Ridley Scott, é baseada no romance homônimo de James Clavell, publicado em 1975. A trama acompanha a jornada de Blackthorne enquanto ele se adapta à cultura japonesa e ascende na sociedade, tornando-se um samurai e, posteriormente, o xógum, o governante militar do Japão.
“Xógum” impressiona pela riqueza de detalhes na reconstituição do Japão feudal. A cenografia, os figurinos e os rituais retratados na série são meticulosamente elaborados, proporcionando uma imersão profunda na cultura e na história da época.
A produção também explora os complexos sistemas políticos e sociais do Japão feudal, como o sistema de castas e a rígida hierarquia feudal. Os costumes e tradições japoneses também não ficam de fora dos episódios.
Para saber mais detalhes sobre o contexto histórico da produção, o site Aventuras na História conversou com Kauê Metzger, historiador especializado na cultura japonesa, e doutorando pela Universidade Federal do Paraná.
O que é Xógum?
Segundo o historiador, a série surge como um título incidental, pois, antigamente, 'Xógum' era conferido a líderes militares como título de comandante. Compreende uma abreviação de 'Sentai Xógum'. Além disso, a primeira pessoa a receber a nomeação foi Minamoto no Yoritomo, após vencer a guerra no Japão em 1192.
"Então o Japão é um estado dos samurais? Não? Também não. Isso realmente acontecerá com o terceiro evento e o evento do Tokugawa, que acho que é tratado na série como Yoshi Toranaga. Então nós temos três eventos. Três regimes liderados por um xogum, certo? O primeiro, na verdade, é uma dinastia entre a Corte Imperial e o Baku", diz Kauê.
“Então, há um governo em Kamakura que é o Baku e há um governo em Kyoto que compreende a Corte Imperial. E os dois disputam pelo poder ao mesmo tempo que coexistem no cenário político japonês ao longo do século 13. O primeiro quarteto do século 14. Depois, é fundado o segundo, após a queda do primeiro. Então já vemos um regime mais voltado para os guerreiros de fato”, completa o historiador.

Kauê ainda ressalta que o xogunato foi forte no centro do Japão e nas províncias do oeste, no entanto, falhou em outras regiões, o que fez com que o regime enfraquecesse ao longo dos anos.
O poder
Na série, é apresentado ao público um pequeno príncipe, ainda criança, monitorado por Toranaga (Hiroyuki Sanada) até sua maioridade para assumir o poder um dia, o que faz com que o poder fique dividido em diversos “senhores” (cada um responsável por um feudo).
Conforme o historiador, essa é mais uma das coisas que, de fato, aconteceram na vida real.

"Toyotomi Hideyoshi termina a unificação do Japão. Praticamente faz duas campanhas contra a Coreia que não deram certo. Tenta invadir a nação e falece. Antes de falecer, ele fez provisões para o filho dele, que era criança, vir a governar".
O nome mais poderoso do Japão falece, então ele cria o que pode para tentar manter uma estabilidade até a maioridade do filho dele, o que gera um cenário político turbulento nesses últimos anos pré-período Edo. Ele cria um conselho meio que para tentar fazer um ‘checks and balances’, sabe, colocar um contra o outro, de modo que ninguém fique poderoso demais para dominar o Japão, por exemplo, no lugar do filho dele, que é o que ocorre”.
O historiador ainda destaca que o rapaz não era um príncipe, já que não fazia parte da família imperial, ainda que a família continuasse existindo, mas não tivesse a mesma influência política. O Hideyoshi (filho do guerreiro de mesmo nome) era cria de um ex-Grande Sumo Conselheiro Imperial, a posição que Toyotomi alcançou em vida.
Os europeus e os japoneses
Na produção, os europeus que chegam ao Japão possuem o desejo de fazer um acordo comercial, dominado pelos portugueses, até então. A religião também é influenciada pelos portugueses, já que implementaram o cristianismo, ou melhor, o catolicismo aos japoneses.
Na história real, segundo o historiador, Tokugawa tomou algumas medidas, após o encontro com os holandeses (na série liderados por Blackthorne), e expulsou os portugueses do país, o fechando somente para fazer comércio com os próprios holandeses.
Qual a importância do Xógum?
A unificação do Japão foi uma das principais atividades do Xógum, entretanto, o historiador destaca que é importante levar em conta a ambição de Tokugawa, responsável por guardar o poder para Hideyoshi e acaba usurpando seu trono.

Entretanto, o regime do novo Xógum traz um período de cerca de 268 anos sem guerras no país, ainda que, ao longo desse período, o líder consolidasse políticas nacionalmente.
Ainda durante a entrevista, Kauê relata sentir ansiedade com os próximos episódios da série, que, segundo ele, retrata o Japão e sua história de uma maneira “muito fiel”.
“O Japão está muito bem representado neste quesito. E a trama da série está muito interessante. Pode ser um pouquinho difícil às vezes acompanhar a trama política logo de cara, mas dá para pegar com o andar da carruagem, né? São muitos personagens. É baseado em romance. Então a gente sabe que sempre dá um trabalho [...], mas é um trabalho muito bem feito”.
A produção já está disponível no Star+ e também no Disney+ com episódios lançados semanalmente.



