A inquietante morte de Kim Jong-nam, o irmão mais velho de Kim Jong-un

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Muita gente não sabe, mas o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tinha um irmão mais velho, Kim Jong-nam, que foi vítima de assassinato. Seu fim trágico, em um aeroporto na Malásia, foi o desfecho de uma vida marcada por exílio, tensões familiares e intrigas políticas dentro da dinastia mais fechada e enigmática do mundo moderno: a família Kim, que governa a Coreia do Norte desde sua fundação.
Kim Jong-nam nasceu em 10 de maio de 1971, fruto de um relacionamento extraconjugal de Kim Jong-il e a atriz norte-coreana Song Hye-rim. A relação não era aprovada por Kim Il-sung, o avô de Jong-nam e fundador do país, o que levou o nascimento e a infância do garoto a serem mantidos em total sigilo.
Ainda assim, por ser o primogênito de Kim Jong-il, acreditava-se que ele seria o sucessor natural do pai no comando da República Popular Democrática da Coreia.
Juventude e educação
Durante a infância e adolescência, Kim Jong-nam teve acesso a uma educação incomum para um norte-coreano. Estudou em escolas internacionais em Moscou e Genebra, aprendeu alemão, francês e inglês, e teve contato com culturas e ideias ocidentais — o que mais tarde influenciaria sua visão sobre a política e economia do país.
O retorno à Coreia do Norte em 1988 foi difícil. A vida dentro dos muros do palácio em Pyongyang o sufocava, e seu pai já havia iniciado um novo relacionamento com a dançarina Ko Yong-hui, que viria a ser mãe de Kim Jong-un. A partir desse momento, a disputa silenciosa pela sucessão ganharia contornos cada vez mais sombrios.

Ainda assim, de acordo com o portal All That's Interesting, Kim Jong-il parecia cultivar expectativas quanto ao futuro do filho mais velho. Jong-nam foi designado para o Comitê de Computação, contribuindo na criação da intranet norte-coreana, serviu no Exército do Povo Coreano e chegou a ocupar um alto cargo no Ministério da Segurança Pública. Mas sua trajetória política sofreu um golpe quase irreversível em 2001, após um episódio amplamente noticiado que se tornaria um divisor de águas em sua vida.
Detido no aeroporto
Naquele ano, Kim Jong-nam foi detido no Aeroporto Internacional de Narita, em Tóquio, enquanto tentava entrar no Japão usando um passaporte da República Dominicana sob o nome falso de "Pang Xiong", que em chinês significa "Urso Gordo". Ele estava acompanhado por duas mulheres e uma criança que se acredita ser seu filho. Seu objetivo? Levar a família à Disneylândia de Tóquio.
A justificativa pode parecer inofensiva, até cômica, mas para o regime norte-coreano foi um escândalo diplomático e ideológico.
A partir daí, Kim Jong-nam passou a viver praticamente em exílio. Fixou residência em Macau, então sob administração chinesa, mas viajava com frequência à Europa e ao Sudeste Asiático.
Rumores apontavam que ele defendia reformas políticas e econômicas inspiradas em modelos como o chinês. Em 2019, o Wall Street Journal chegou a afirmar que ele era informante da CIA.

O herdeiro preferido
Enquanto isso, Kim Jong-un ganhava força como sucessor. Em 2009, já era apontado como o herdeiro preferido, e quando Kim Jong-il morreu em 2011, a sucessão se confirmou.
O novo líder, jovem e ainda pouco conhecido, rapidamente se consolidou no poder. E, embora rumores indicassem que Kim Jong-il teria pedido em testamento que Kim Jong-nam fosse deixado em paz, isso não foi respeitado.
Diversos relatos indicam que, mesmo antes da morte do pai, teriam ocorrido tentativas de assassinato contra Kim Jong-nam. Em 2010, um agente norte-coreano foi preso na Coreia do Sul após confessar que sua missão era eliminar o exilado. Em 2012, Jong-nam escreveu uma carta ao irmão pedindo que fosse deixado em paz:
Estamos bem cientes de que a única maneira de escapar é o suicídio", teria escrito.
O ataque
Em 13 de fevereiro de 2017, Kim Jong-nam foi atacado no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, na Malásia. Duas mulheres se aproximaram dele em momentos diferentes, aplicando uma substância tóxica em seu rosto.
Jong-nam procurou ajuda no balcão de informações, dizendo que haviam passado um líquido nele. Em poucos minutos, começou a suar, perdeu a coordenação e, mesmo com atendimento médico emergencial, morreu a caminho do hospital.

A substância utilizada foi identificada como VX, um agente nervoso altamente letal, classificado como arma de destruição em massa pela ONU. O ataque foi registrado por câmeras de segurança e chocou o mundo.
As duas mulheres envolvidas no assassinato, Doan Thi Huong, do Vietnã, e Siti Aisyah, da Indonésia, foram presas rapidamente. Elas alegaram que acreditavam estar participando de uma pegadinha para um programa de televisão.
Em 2019, as acusações de assassinato foram retiradas. Siti Aisyah foi libertada, e Huong teve a pena reduzida para três anos e quatro meses, sendo solta em maio do mesmo ano.
Identidade
A Coreia do Norte negou envolvimento desde o início e as autoridades se recusaram a reconhecer Kim Jong-nam como vítima e insistiram que seu nome era Kim Chol, conforme constava no passaporte. Exigiu-se então a liberação imediata do corpo, mas a realização de uma autópsia foi rejeitada.
A tensão entre a Malásia e a Coreia do Norte aumentou rapidamente, culminando na expulsão de embaixadores e até na proibição temporária da saída de cidadãos malaios da Coreia do Norte.
Internacionalmente, o episódio reforçou a imagem de Kim Jong-un como um líder disposto a tudo para manter o poder. Os Estados Unidos e a Coreia do Sul acusaram formalmente o regime norte-coreano de ordenar o assassinato, e Washington impôs sanções adicionais à Coreia do Norte em 2018. Já a Malásia, que por muito tempo manteve uma relação diplomática relativamente amigável com Pyongyang, mudou sua postura após o ocorrido.
Sobre a Coreia do Norte
A Coreia do Norte, oficialmente chamada de República Popular Democrática da Coreia, é um país localizado no leste da Ásia, na Península Coreana. Surgiu em 1948 após a divisão da Coreia, no contexto da Guerra Fria, e desde então é governada por um regime autoritário de partido único, liderado pela família Kim. Atualmente, Kim Jong-un é o chefe de Estado.


