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Aracne, a talentosa tecelã transformada em aranha pela deusa Atena
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Aracne, a talentosa tecelã transformada em aranha pela deusa Atena

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Aventuras Na História
13/07/2025 16h00
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©Getty Images
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Hoje, quando buscamos respostas para quase qualquer coisa, basta uma pesquisa no Google que, muito provavelmente, a ciência já respondeu essa questão; ou, quando ainda não, está trabalhando para responder. Mas na antiguidade, sem acesso a essa tecnologia e sem todo o conhecimento científico que temos hoje, os gregos criavam respostas, com os mitos.

E entre essas lendas, uma bastante curiosa busca explicar qual a origem das aranhas ("arachni", em grego), que envolvia a deusa Atena, uma talentosa tecelã mortal, um desafio e uma punição. Conheça a seguir o mito grego de Aracne:

Antiga ilustração representando a transformação de Aracne / Crédito: Domínio Público

Tecelã talentosa

Segundo o mito, registrado principalmente pelo poeta romano Ovídio em sua obra 'Metamorfoses', Aracne era uma mulher de origens humildes. Nascida e crescida na Lídia (onde hoje corresponde ao território da Turquia), ela era filha de um tintureiro, um mero comerciante sem conexões nobres.

Apesar disso, Aracne conseguiu chamar grande atenção para si. Ovídio escreveu que ela puxava fios coloridos instintivamente, e tecia criações tão magníficas que não só se tornou mestre tecelã, como até mesmo as ninfas abandonavam seus rios e florestas para observá-la trabalhar. E, sempre que ela concluía uma de suas peças, toda a plateia que a apreciava explodia em aplausos.

Gravura representando a punição de Atena sobre Aracne / Crédito: Getty Images

Seu talento era tamanho que, inclusive, muitos diziam que a habilidade devia ser um presente da deusa Atena — que, além de deusa da sabedoria e da guerra, também é da tecelagem e do artesanato —; mas Aracne negou. Ela dizia que o dom era apenas seu, e ainda se gabou para todos, dizendo que triunfaria até mesmo sobre Atena em uma competição de tecelagem.

A deusa, no entanto, se ofendeu ao ser desafiada por uma mortal. Ela então disfarçou-se como uma anciã, e foi pessoalmente visitar a oficina de Aracne, onde repreendeu a jovem e talentosa tecelã, aconselhando-a a implorar pelo perdão de Atena.

Nem tudo o que a velhice traz deve ser evitado. O conhecimento vem com o passar dos anos", disse a deusa. "Não rejeites o meu conselho: busca grande fama entre os mortais pela tua habilidade em tecer, mas cede à deusa e pede-lhe perdão, jovem temerária, com voz humilde: ela perdoará se pedires"

Porém, em vez de apenas acatar ao conselho e pedir pelo perdão, Aracne se irritou. "Por que [Atena] não vem pessoalmente? Por que ela foge da competição?", exclamou. Então, Atena deixou de se apresentar como uma anciã, e revelou sua verdadeira forma, anunciando: "Ela está aqui!"

Desafio

Imediatamente, mulheres e ninfas começaram a se reunir na oficina de Aracne, adorando Atena; mas a tecelã se manteve firme, frente à deusa. Então, elas começaram a competição, conforme repercute o All That's Interesting.

'A fábula de Aracne', de Diego Velázquez / Crédito: Getty Images

Em sua peça, Atena teceu contos heroicos de deuses e deusas gregos, colocando-se no centro da tapeçaria em uma representação de seu triunfo sobre Poseidon pela cidade de Atenas. Além disso, nos cantos, a deusa ainda incluiu cenas de mortais que tiveram a coragem de se comparar aos deuses, e os castigos que acabaram sofrendo pela ousadia.

Enquanto isso, Aracne adotou outra abordagem. Em vez de colocar os deuses como centrais, ela teceu histórias de várias mulheres que foram enganadas pelos deuses, como Europa, Leda, Antíope, Dânae e Alcmena. Dessa vez, ao contrário de Atena que os representou como heróis, os deuses eram seres brutos e violentos.

Quando as duas tapeçarias foram finalizadas, Atena e Aracne recuaram para examinar o trabalho da adversária. Mas para a surpresa geral, a própria Atena percebeu que foi superada: a peça da mortal não tinha defeitos.

Punição divina

No entanto, segundo escreveu Ovídio, em vez de simplesmente aceitar a derrota, Atena puniu Aracne. A primeira coisa que fez, foi destruir a tapeçaria: "A deusa guerreira de cabelos dourados ficou triste com o sucesso e rasgou a tapeçaria bordada com os crimes dos deuses", escreveu o poeta romano.

Logo em seguida, ela atacou Aracne, a golpeando na cabeça com um fuso. Mas para escapar da deusa, Aracne tentou fugir do quarto usando uma corda, pretendendo se enforcar — afinal, na antiguidade, essa era uma forma nobre de um guerreiro morrer, e a tecelã optou pelo suicídio em vez de aceitar ser morta por Atena.

'Minerva e Aracne', por René-Antoine Houasse / Crédito: Getty Images

Porém, a tentativa não foi um sucesso. Atena rapidamente interveio, e jogou um veneno em Aracne, que a transformou em uma aranha. "Ao toque desse veneno escuro, os cabelos de Aracne caíram. Com eles, seu nariz e suas orelhas se foram, sua cabeça encolheu ao menor tamanho possível e todo o seu corpo ficou minúsculo. Seus dedos finos grudaram em seus flancos como pernas, o resto é uma barriga, da qual ela ainda tece um fio e, como uma aranha, tece sua teia ancestral", escreveu Ovídio.

E a maldição não cairia somente sobre Aracne: "Viva então, e ainda assim seja enforcada, condenada", proclamou a deusa, "mas, para que não seja descuidado no futuro, esta mesma condição é declarada, como punição, contra seus descendentes, até a última geração!". Com isso, chegou ao mundo as primeiras aranhas.

Moral do mito

Embora fosse uma história que explicasse a origem das aranhas, além de mais um exemplo da brutalidade dos deuses, a moral da história de Aracne ainda era outra: não desafie os deuses. Aracne apenas enfrentou sua ruína, pois foi arrogante e ousada o suficiente para desafiar os deuses, e por isso mereceu a punição.

Gravura representando Dante observando a alma de Aracne na 'Divina Comédia' / Crédito: Getty Images

Embora seja uma conclusão contraditória, Ovídio deixou pairando a dúvida sobre se, de fato, Aracne ultrapassou seu lugar na sociedade, ou se Atena se excedeu em sua punição. Mas vale mencionar que o mito foi escrito em Roma, no início do século 1 d.C., em um contexto que, caso observado mais de perto, pode revelar mais sobre o que Ovídio pensava.

Isso porque, na época, o imperador Augusto havia acabado de declarar uma nova era de ouro em Roma — que se estendia apenas aos que o veneravam. E Ovídio, nas mãos do imperador, sofreu um destino terrível para um poeta, que basicamente o apagou da história dali em diante: foi exilado para as fronteiras do império.

Curiosamente, é possível estabelecer algum paralelo entre a história de Ovídio e Augusto, com Aracne e Atena. É possível que ele se visse em Aracne, como um talento geracional censurado pelos poderosos, além de ser alguém que foi injustamente silenciado por ousar se manifestar.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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