Bougainville: A ilha que se tornará um novo país em 2027

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Bougainville, uma pequena ilha no Pacífico, está prestes a se tornar a mais nova nação do mundo. Se tudo correr como previsto, o território conquistará sua independência da Papua-Nova Guiné (PNG) em 2027, encerrando décadas de tensões e reivindicações separatistas. Um rascunho de constituição já foi elaborado, e o governo local reiterou, em março de 2025, que a independência será declarada no dia 1º de setembro de 2027.
A independência de Bougainville é resultado de um processo iniciado com um referendo realizado em 2019, no qual 97,7% da população votou pela separação, informou o The Diplomat. Apesar de o resultado não ser legalmente vinculante, o desejo popular foi claro.
Desde então, o governo local vem pressionando o Parlamento da PNG a ratificar o referendo. Em 2022, um acordo conhecido como Era Kone Covenant estipulou que a ratificação deveria acontecer até 2023 e que um acordo final sobre a independência fosse concluído até 2027. O primeiro prazo não foi cumprido, o que gera dúvidas sobre o cumprimento do segundo.
História da ilha
Bougainville é uma região autônoma composta por uma ilha principal e outras menores, com cerca de 300 mil habitantes. Desde a colonização europeia, marcada inicialmente pela presença francesa no século 18 e, depois, pela ocupação alemã em 1886, a ilha teve uma história política conturbada.
Segundo o The Economist, após a Primeira Guerra Mundial, a Austrália assumiu o controle da região, que posteriormente foi incorporada à Papua-Nova Guiné quando esta se tornou independente, em 1975. Desde então, os habitantes de Bougainville expressaram descontentamento com a integração forçada ao novo país, alegando diferenças culturais e uma relação mais próxima com as Ilhas Salomão.
Já em 1975, Bougainville tentou se declarar independente, mas a tentativa foi rejeitada. O resultado foi a criação de um governo autônomo em 1976, que oferecia certa liberdade administrativa, mas não atendia plenamente às aspirações separatistas da população.
A situação se agravou com a exploração da mina de cobre de Panguna, uma das maiores do mundo. A população local acusava o governo da PNG de se beneficiar dos lucros enquanto a região sofria com impactos ambientais e não recebia retorno econômico significativo.
Isso gerou um conflito armado em 1988, que se transformou em uma guerra civil de nove anos, resultando na morte de cerca de 20 mil pessoas e no deslocamento de outras 70 mil. O cessar-fogo só veio em 2001, com a assinatura de um acordo que previa a criação do Governo Autônomo de Bougainville (ABG) e a realização de um referendo sobre a independência, que ocorreu em 2019.
Desde então, o ABG, liderado por Ishmael Toroama, ex-comandante rebelde e atual presidente, tem buscado consolidar as estruturas necessárias para um futuro Estado soberano, informou a BBC News. Apesar disso, Bougainville ainda enfrenta grandes desafios econômicos e institucionais.

Desafios
Hoje, a economia da ilha é pouco diversificada e depende fortemente de repasses do governo central. A maior parte da receita local vem de impostos cobrados sobre funcionários públicos pagos pela PNG.
Um relatório recente, divulgado pelo The Diplomat, estimou que Bougainville precisaria de um orçamento duas a três vezes maior que o atual para se manter como país independente. Apenas 7% do orçamento atual vem de arrecadação interna.
Ainda assim, a ilha possui reservas minerais significativas, especialmente de cobre e ouro. O governo local planeja reabrir a mina de Panguna, fechada desde 1989, e já renovou a licença de exploração da Bougainville Copper Limited, que passará a ser majoritariamente estatal. Estima-se que a mina possa gerar US$ 36 bilhões (cerca de R$ 200 milhões) em 20 anos.
Além da mineração, Bougainville busca atrair investimentos internacionais. O presidente Toroama visitou Washington em 2023 com o objetivo de obter apoio econômico e diplomático dos Estados Unidos. Também há negociações com empresas estatais chinesas para o desenvolvimento de infraestrutura.
O interesse internacional na ilha é motivado tanto pelos seus recursos minerais quanto por sua localização estratégica no Pacífico, em um contexto de disputa geopolítica entre China e EUA.
Mesmo com esses esforços, Bougainville enfrenta limitações sérias. A maioria dos serviços públicos, como saúde e educação, é precária. Apenas um hospital atende a toda a população, a mortalidade infantil é alta e menos de 10% dos habitantes têm acesso confiável à eletricidade. A mediana de idade é de apenas 20 anos, e há poucas oportunidades de emprego para os jovens.
Contudo, o ABG tem avançado na criação de instituições essenciais, como um centro de justiça, uma autoridade fiscal e um escritório de energia. Em 2021, foi assinado o Acordo Sharp, que prevê a transferência progressiva de 59 competências do governo central para o governo de Bougainville.
Embora a independência de Bougainville pareça inevitável, ela ainda depende de fatores políticos e econômicos. O Parlamento da Papua-Nova Guiné resiste a aprovar a separação, em parte por temer o precedente que isso possa criar para outras províncias separatistas, como Nova Bretanha Oriental e Nova Irlanda. A exigência de uma maioria de dois terços para ratificar o referendo torna a aprovação ainda mais difícil.
Às vésperas de eleições presidenciais, marcadas para outubro, o processo ainda pode sofrer reveses, dependendo do próximo governo. Mas, com o respaldo popular do referendo e a pressão crescente pelo cumprimento do Acordo Era Kone, a independência de Bougainville em 2027 parece cada vez mais próxima.
Bougainville
Bougainville é um território autônomo da Papua-Nova Guiné, formado por ilhas no Pacífico Sul. Com forte identidade cultural própria, viveu uma guerra civil entre 1989 e 1998, motivada por conflitos em torno da mina de Panguna e da exploração econômica. Após um referendo em 2019, no qual 98% votaram pela separação, a região iniciou negociações para se tornar independente, com a independência prevista para 2027.


