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Como os arqueólogos determinam o sexo de um esqueleto antigo?
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Como os arqueólogos determinam o sexo de um esqueleto antigo?

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Aventuras Na História
12/05/2025 17h00
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16524156/original/open-uri20250512-18-jlad1s?1747069384
©Divulgação/Parque Arqueológico de Pompeia
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Afinal, quando os arqueólogos encontram restos humanos antigos, como eles conseguem determinar se tal pessoa era homem ou mulher? Como os pesquisadores descobrem o sexo de um indivíduo a partir de seu esqueleto? E quão precisas são as técnicas existentes?

O sexo de um esqueleto 

Em entrevista à LiveScience, Sean Tallman, antropólogo biológico da Universidade de Boston, explicou que, de uma maneira geral, os pesquisadores observam as diferenças de formato e tamanho entre os sexos. Mas ressalta: "nenhum método é 100% preciso".

Geralmente, os arqueólogos fazem medições de ossos longos e finos, como os casos do fêmur e da tíbia, assim, eles usam métodos estatísticos para prever o sexo de uma pessoa.

Em média, os machos são cerca de 15% maiores que as fêmeas", explica Kaleigh Best, antropóloga biológica da Universidade da Carolina Ocidental.

Mas diversas variáveis podem influenciar o tamanho do corpo de uma pessoa, como sua dieta, fatores genéticos, doenças ou até mesmo o ambiente em que ela vive. Sendo assim, é comum existir uma grande variação mesmo entre pessoas do mesmo sexo.

A maioria das técnicas que são baseadas em medições usam da pressuposição de que os homens são maiores e mais altos que as mulheres — o que faz com que essas previsões sexuais tenham uma precisão entre 80% a 90%

No entanto, se um esqueleto estiver com sua pélvis bem preservada, a observação de características simples pode ser um método muito mais preciso. Chamado de Método de Fenícia, em homenagem ao antropólogo que o propôs na década de 1960, TW Phenice, a técnica é o principal método para estimar o sexo de um indivíduo a partir de sua pelve. 

Ele aponta que as diferenças no formato do osso púbico na parte frontal da pelve correlacionam-se com o sexo de uma pessoa: com isso, um osso púbico mais alto tem maior possibilidade do indivíduo ser do sexo masculino; enquanto um mais largo a de pertencer a uma mulher. O Método de Fenícia tem cerca de 95% de precisão

Pelve masculina x Pelve feminia - Mark Pellegrini/Divulgação

Outro meio usado para determinar o sexo de um esqueleto é através da análise de DNA antigo, no qual os cientistas identificam a variante ligada ao sexo de um gene relacionado à produção do esmalte dentário. Embora a técnica tenha 99% de precisão, ela nem sempre é possível de ser utilizada, visto que, com o tempo, o DNA se degrada. 

Sexo, gênero e intersexualidade

Apesar das altas taxas de precisão dos métodos citados, muitos arqueólogos apontam que estimar se uma pessoa do passado era homem ou mulher apenas com base em seus ossos pode ignorar outros aspectos do sexo biológico, resultado da interação entre cromossomos, hormônios, gônadas e gametas. 

Sexo não é binário, mas pode ser bimodal", aponta Donovan Adams, antropólogo biológico da Universidade da Flórida Central, à Live Science. 

Neste contexto, o pesquisador aponta que bimodal significa que se você colocasse o sexo em um gráfico, haveria duas "saliências" para masculino e feminino em cada extremidade do gráfico. Mas a sobreposição entre os dois grupos no meio representaria pessoas descritas como intersexo.

"Cerca de 1,7% da população é intersexo de alguma forma", corrobora Virginia Estabrook, antropóloga biológica da Universidade de Maryland, no Condado de Baltimore, o que representa "um pouco menos de 1 em cada 50 pessoas".

Alguns desses casos de condições intersexuais incluem a hiperplasia adrenal congênita (HAC) — uma superprodução de hormônios masculinos que pode fazer com que a genitália feminina pareça ambígua ao nascer; há também a síndrome de Klinefelter, ou cromossomos sexuais XXY, o que resulta em testículos pequenos e seios aumentados em pessoas nascidas do sexo masculino.

Outros casos são conta da síndrome de insensibilidade androgênica, na qual uma pessoa pode nascer com genitália externa do tipo feminino, mas sem órgãos reprodutivos internos; ou até mesmo a deficiência de 5α-redutase 2 — na qual uma criança que parece do sexo feminino ao nascer posteriormente desenvolve um pênis e testículos. 

Um exemplo real disso é o esqueleto do herói da Guerra Revolucionária Casimir Pulaski, que morreu numa batalha em 1779. Quando seu esqueleto foi estudado, os pesquisadores constataram diversas características ósseas mais típicas de crescimento e desenvolvimento com padrão feminino. 

Casimir Pulaski - Getty Images

Segundo Estabrook, porém, seus registros históricos mostram claramente que ele viveu como homem. Uma possível explicação para isso seria uma discrepância da HAC, na qual bebês cromossomicamente femininos têm genitais que se assemelham mais aos genitais masculinos. Pessoas com essa condição produzem mais andrógenos e podem desenvolver pelos faciais, por exemplo. 

Ainda de acordo com a antropóloga, o caso do general intersexo é relativamente único, "porque normalmente, quando encontramos esqueletos em arqueologia, não sabemos quem eram essas pessoas".

Assim, entender quem era uma pessoa antiga pode ser uma tarefa difícil não apenas pelas limitações da estimativa osteológica do sexo, mas também pela variável gênero; visto que a maioria dos aspectos de identidade de uma pessoa não são algo com quem ela nasce. 

Você precisa representar a identidade ao longo da vida", disse Adams. 

Desta forma, a complexidade entre sexo e gênero pode significar que, às vezes, as interpretações dos arqueólogos estão erradas.

Em Pompeia, por exemplo, pesquisadores analisaram o DNA de um conjunto de esqueletos que supostamente eram de mãe e filho biológico, mas depois descobriram que tratava-se, na verdade, de um homem e uma criança que sequer tinham relação familiar. 

Apesar da análise de DNA ter aumentado drasticamente a precisão da atribuição cromossômica do sexo, isso não quer dizer que os arqueólogos tenham resolvido os problemas de estimar o sexo a partir de restos humanos antigos.

É muito difícil nos separarmos desse sistema binário", aponta Tallman, "mas há muita sobreposição entre mulheres e homens".

Se os avanços científicos deixaram mais fácil a missão de determinar aspectos limitados do sexo a partir de esqueletos antigos, descobrir a identidade de uma pessoa a partir de seu esqueleto "na verdade é muito mais complicado do que pensávamos", finaliza Best

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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