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Descoberta de fóssil de trilobite revela riqueza cultural romana
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Descoberta de fóssil de trilobite revela riqueza cultural romana

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Aventuras Na História
23/07/2025 21h45
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16567500/original/open-uri20250723-37-auempc?1753307406
©Divulgação/Helga Schmidt-Glassner
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Uma equipe de pesquisadores espanhóis fez uma descoberta notável no sítio romano de A Cibdá de Armea, localizado nas proximidades de Ourense, na Galícia, Espanha: um fóssil de trilobite, um animal marinho extinto há milhões de anos, que foi modificado e provavelmente utilizado como amuleto ou peça de joalheria entre os séculos 1 e 3.

Este achado é inédito no contexto arqueológico romano e representa apenas o décimo primeiro registro de trilobites encontrados em sítios arqueológicos associados a culturas antigas em todo o mundo.

Os trilobites, que habitaram os oceanos entre 520 e 250 milhões de anos atrás, muito antes do surgimento dos dinossauros, possuem uma aparência que lembra um besouro blindado com corpo segmentado, tornando-os facilmente identificáveis. Apesar do seu reconhecimento atual entre paleontólogos e entusiastas, sua presença em sítios arqueológicos é extremamente rara.

O exemplar encontrado em Armea é um pequeno fragmento com cerca de 4 cm de comprimento pertencente a uma espécie do gênero Colpocoryphe, que viveu durante o período Ordoviciano, há aproximadamente 450 milhões de anos. O aspecto mais surpreendente não é sua idade geológica, mas as marcas de manipulação humana que apresenta: até sete facetas de desgaste artificial em sua parte inferior, possivelmente para adaptá-lo a um pingente ou pulseira.

A análise indica que este trilobite não é nativo da Galícia. Sua fossilização em óxido de ferro e a tonalidade avermelhada característicos sugerem que ele se originou em áreas do sul-central da Península Ibérica, possivelmente nas regiões ao redor de Toledo, Ciudad Real ou Badajoz — a mais de 430 quilômetros de distância.

Como ele chegou ao noroeste? Os pesquisadores acreditam que rotas comerciais romanas, especialmente a Vía de la Plata, que ligava Mérida (Emerita Augusta) a Astorga (Asturica Augusta), desempenharam um papel fundamental nesse trajeto. O trilobite pode ter sido transportado junto com metais e outras mercadorias como um objeto único e exclusivo, valorizado na Galícia por suas propriedades protetoras e curativas. Outra possibilidade é que alguém do centro da Lusitânia tenha trazido o fósseis atraído pela riqueza mineradora da região.

Amuleto

Na antiguidade, fósseis eram considerados objetos mágicos. Os romanos associavam ossos de grandes animais, como dinossauros, aos restos de gigantes ou heróis mitológicos; já os invertebrados fossilizados, como este trilobite, eram vistos como protetores contra ameaças sobrenaturais.

A equipe propõe duas hipóteses sobre seu uso: pode ter sido utilizado como um pingente ou pulseira, visto que as marcas de abrasão na base sugerem que poderia ser inserido em metal ou couro, deixando a superfície dorsal visível com seus anéis segmentados característicos. Contudo, também pode ter feito parte de um lararium (altar doméstico) como uma oferenda, já que foi encontrado próximo a uma inscrição com o nome "MAXSIMVS", possivelmente ligado a um espaço sagrado em uma residência de alto status.

A descoberta do trilobite em Armea evidencia que os romanos já tinham consciência da existência de animais ancestrais enterrados no solo e tal objeto era considerado sagrado devido às suas fortes qualidades protetoras.

Outros casos

Esse achado acrescenta-se a outros dez casos conhecidos mundialmente onde fósseis de trilobites foram coletados por culturas antigas. Entre eles está um trilobite perfurado usado como pingente há 14 mil anos durante o Paleolítico na França. Também foram encontrados cemitérios medievais na Estônia onde trilobites eram utilizados como amuletos; algumas tribos nativas americanas e australianas, como os Ute de Utah, acreditavam que os trilobites eram "percevejos petrificados" com poderes protetores.

Na China, fósseis de trilobites eram chamados de "vermes de pedra" e utilizados na medicina tradicional desde o século 7. Contudo, o espécime encontrado em Armea é o primeiro claramente associado ao mundo romano.

Influência

Curiosamente, o design segmentado do trilobite pode ter influenciado um tipo de contas usadas em colares romanos conhecidos como Trilobitenperlen, feitos de vidro preto ou jet. Essas peças de joalheria eram populares entre mulheres e crianças e imitavam a forma do fóssil, sendo associadas à proteção contra males.

Segundo a 'Archaeology Magazine', embora nenhuma dessas contas tenha sido encontrada em Armea, o estudo sugere que artesãos buscavam reproduzir os metâmeros torácicos do trilobite, dotando as novas peças com as qualidades do material original.

O trilobite apareceu em um depósito romano junto com cerâmicas, moedas e ossos animais. Os pesquisadores acreditam que ele foi descartado quando perdeu seu significado ou seu suporte quebrou. Uma vez jogado em um monte de lixo, o trilobite perdeu sua função original.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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