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Descobertas no Cemitério de Adaïma revelam origens da religião egípcia
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Descobertas no Cemitério de Adaïma revelam origens da religião egípcia

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Aventuras Na História
15/07/2025 17h45
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©A. Alcouffe et al., J. Archaeol. Method Theory
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Uma nova pesquisa sobre o antigo cemitério de Adaïma, localizado no Vale do Nilo, no sul do Egito, está desafiando as narrativas tradicionais acerca das origens da religião e da ideologia estatal egípcia.

Em contraste com a visão estabelecida de que a ordem sagrada do Egito foi imposta por reis e sacerdotes, arqueólogos sugerem que muitos dos elementos centrais da religião real emergiram das tradições funerárias de comunidades rurais.

O estudo, publicado na Journal of Archaeological Method and Theory, baseia-se na escavação e análise de mais de 500 tumbas em Adaïma, um sítio com 30 hectares utilizado entre 3300 e 2700 a.C., muito antes da construção das pirâmides.

Sob a liderança de Ameline Alcouffe, da Universidade de Toulouse, a equipe de pesquisa investigou como práticas funerárias locais — especialmente aquelas que envolviam alinhamentos celestiais e rituais simbólicos — evoluíram gradualmente para se tornarem características fundamentais da ideologia faraônica.

Escavações

Um sepultamento particularmente intrigante, a Tumba S166, continha o corpo de uma adolescente cujo braço esquerdo foi ritualisticamente amputado e colocado sobre seu peito.

Seu corpo estava orientado na direção do pôr do sol durante o solstício de inverno, e seu sarcófago estava alinhado com o surgimento heliacal de Sirius — a estrela mais brilhante no céu, que anunciava as cheias do Nilo.

Segundo os pesquisadores, esse ritual não era meramente simbólico; ele representava uma intersecção primitiva entre ciclos agrícolas, observações celestiais e crenças acerca da morte.

Duas outras tumbas também se destacaram. A Tumba S837, onde uma mulher foi enterrada com joias finas e um vaso cerâmico quebrado, refletiu temas que mais tarde seriam encontrados nos Textos das Pirâmides.

A Tumba S874 continha uma mulher enterrada com um bastão e uma peruca de fibras, alinhada ao solstício de verão — uma mudança no foco celestial.

A. Alcouffe et al., J. Archaeol. Method Theory

Através do uso de inteligência artificial e análise de redes, os pesquisadores determinaram que essas tumbas “inovadoras” estavam menos conectadas às práticas funerárias tradicionais e poderiam representar pontos de virada cultural.

Os agrupamentos subsequentes de sepultamentos ao redor delas indicam que estas passaram a ser veneradas ao longo do tempo, tornando-se uma espécie de santuário.

O estudo argumenta que rituais como o desmembramento simbólico, inicialmente realizados em cemitérios rurais, foram posteriormente mitologizados em histórias como a de Ísis e Osíris.

O surgimento de Sirius — que antes servia como sinal para os agricultores — se transformou em um presságio divino associado à fertilidade, renascimento e legitimidade real.

Com o surgimento do estado egípcio, não houve uma criação religiosa do zero; ao contrário, ele absorveu essas práticas já enraizadas e as reconfigurou em narrativas reais, transformando memórias populares e rituais de luto em instrumentos de poder centralizado.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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