Engenheiro propõe plano inusitado para evitar que Veneza afunde

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Conhecida como "cidade flutuante", Veneza é uma das cidades que mais atraem turistas em toda a Itália e do mundo; mas, apesar de sua fama ser de que ela flutua, na verdade, ela sofre com um problema oposto: ela afunda.
Somente no último século, estima-se que Veneza afundou cerca de 25 centímetros; e enquanto isso, em paralelo, o nível do mar da região subiu quase 30 centímetros desde 1900. Com isso, enchentes são cada vez mais constantes, e a cidade passa por um lento e contínuo processo de afogamento em suas próprias águas — o que aumenta o encanto da cidade para os visitantes, que querem vê-la antes de ser tarde demais.
Porém, um conceituado engenheiro italiano acredita ter encontrado uma forma inusitada para, pelo menos por algum tempo, salvar Veneza.
Mais água em Veneza?
Todos os anos, o governo italiano investe milhões de euros para operar barreiras móveis contra as marés extremas que, de tempos em tempos, assolam Veneza. Porém, o que Pietro Teatini, professor associado de hidrologia e engenharia hidráulica da Universidade de Pádua, sugere é especialmente ousado: elevar toda a cidade.
Inspirado em reservatórios subterrâneos de hidrocarbonetos encontrados no Vale do Pó — que armazenam gás natural durante o verão para uso no inverno, e que, quando cheios, provocam uma elevação na altura do solo da região —, ele pensou que Veneza pode ser reerguida, curiosamente, "injetando" mais água.
Veneza afundou entre os anos 1950 e 1970 por causa da extração de água em Marghera", explica Teatini, conforme repercute a CNN Brasil. "Então pensamos: por que não fazer o contrário? Criar poços para injetar água em vez de retirá-la".
Dessa forma, o projeto propõe a perfuração de cerca de 12 poços dispostos em um círculo de 10 quilômetros de diâmetro ao redor de Veneza, e injetar água abaixo de Veneza, que não escaparia devido a uma espessa camada de argila subterrânea.
No entanto, esse projeto não é nada simples, sendo necessário um projeto-piloto anterior para comprovar que a ideia pode realmente funcionar, repercute a CNN Brasil. Mas, caso tudo corresse bem, a água se espalharia pelos aquíferos subterrâneos, elevando a área ao redor de Veneza, bem como a própria cidade.
Vale destacar que levantar Veneza sobre um "colchão d'água" pode parecer o prelúdio de uma catástrofe, e realmente, caso algum engano aconteça, pode ser um verdadeiro desastre para a cidade. Porém, Teatini garante que, caso feito com cuidado, o projeto é seguro.
Queremos uma elevação de no máximo 20 a 30 centímetros justamente para não provocar rachaduras", explica o engenheiro. "Se houver rachaduras, é um desastre. A ideia é manter uma pressão baixa, com aditivos que expandem o solo sem rompê-lo".
Mesmo assim, caso o projeto avance e dê certo, Teatini reforça que essa é apenas uma solução temporária. Isso porque 30 centímetros seria o limite seguro para se elevar a cidade, e ainda, para evitar uma sobrecarga dos aquíferos, o ritmo de bombeamento de água teria que cair até cinco vezes ao longo de 10 anos — caso o bombardeamento seja interrompido, o solo voltaria a se contrair. Porém, os estimados 50 anos que a ideia pode garantir à Veneza pode ser suficiente para o desenvolvimento de novos métodos.
De qualquer forma, agora o projeto ainda precisa passar por maiores avaliações para determinar a possibilidade de realizá-lo. Porém, o que Teatini pontua é que o que ele visa é simplesmente preservar esse local tão singular do mundo:
"[...] é uma cidade única — não existe outro lugar como Veneza. E é por isso que acredito que precisamos preservá-la em seu ambiente original: sua lagoa. Veneza no alto de uma colina não seria Veneza; no meio de um lago tampouco seria. Se for possível, ela deve continuar onde sempre esteve, entre os pântanos, com suas gôndolas e vaporettos", afirma o engenheiro.
"Como italiano que vive aqui, poder ver essa cidade maravilhosa todos os dias é um privilégio — e acho que devemos fazer o possível para preservá-la o máximo de tempo que conseguirmos", conclui Teatini.


