Estudo revela que mulheres núbias carregavam cargas pesadas na cabeça

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Em meio às planícies áridas da antiga Núbia, no atual Sudão, mulheres não apenas sustentavam suas famílias — elas literalmente carregavam o peso da sociedade. É o que revela um novo estudo publicado no Journal of Anthropological Archaeology, liderado pelos pesquisadores Jared Carballo, da Universitat Autònoma de Barcelona, e Uroš Matić, da Universidade de Essen.
A análise de restos mortais de 30 indivíduos sepultados em Abu Fátima, cemitério associado à cultura de Kerma durante a Idade do Bronze, trouxe à luz marcantes diferenças entre os papéis de gênero.
As mulheres, em especial, exibiam severos desgastes nas vértebras cervicais e no crânio, provocados por décadas de uso das chamadas tumplines — faixas usadas na testa para carregar cargas pesadas nas costas.

A descoberta mais simbólica foi a do "indivíduo 8A2", uma mulher de mais de 50 anos enterrada com itens de alto prestígio — um leque de penas de avestruz e uma almofada de couro —, mas cujos ossos apresentavam as piores evidências de trabalho físico intenso.
Mesmo com sinais de status elevado, ela sofreu os efeitos físicos de uma vida de esforço. A análise do esmalte dentário mostrou ainda que era migrante, sugerindo que sua trajetória envolvia não só o peso do trabalho, mas também o de uma herança cultural.
Esse modo de vida é tão comum quanto ignorado pela história escrita. Nos esqueletos dessas mulheres está a biografia de um esforço contínuo e essencial para a sobrevivência e coesão da comunidade", afirmouo Carballo no estudo.
Força das mulheres
O estudo desafia a visão tradicional e androcêntrica da história, ao mostrar que o trabalho físico intenso não era exclusividade dos homens nem das classes mais baixas. Ao cruzar dados arqueológicos, registros iconográficos e comparações etnográficas contemporâneas, os pesquisadores revelam como a prática de carregar peso na cabeça — comum até hoje em regiões da África, Himalaia e América Latina — representa não apenas esforço físico, mas resiliência, técnica e poder social.
Segundo o 'Archaeology News, os ossos de Abu Fátima, ao contrário das palavras da história oficial, falam alto: as mulheres da Núbia foram verdadeiras arquitetas do cotidiano — e sua força, muitas vezes invisível, moldou civilizações.


