Habitantes de Tuvalu pedem visto climático inédito para viver na Austrália
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Mais de 5.000 habitantes de Tuvalu, um pequeno arquipélago no Pacífico Sul, solicitaram um visto de migração inovador criado para protegê-los dos impactos crescentes das mudanças climáticas. O programa, firmado entre Tuvalu e a Austrália, encerrou seu primeiro processo de inscrições nesta sexta-feira, 18, após receber 5.157 registros — número que representa quase metade da população adulta do país, que soma cerca de 11.000 pessoas.
O visto faz parte do Tratado da União Falepili Austrália-Tuvalu, assinado em 2023 e implementado em 2024. A partir de 2025, 280 tuvaluanos poderão se mudar para a Austrália anualmente com acesso a trabalho, estudo, saúde e educação em condições semelhantes às de cidadãos australianos. O programa é voluntário, e os participantes têm liberdade para retornar à sua terra natal a qualquer momento.
"Este é o primeiro acordo desse tipo no mundo, oferecendo um caminho digno de mobilidade diante da intensificação dos impactos climáticos", declarou o governo australiano em comunicado à New Scientist. Segundo especialistas, trata-se de um marco global: a primeira migração organizada de uma nação inteira por motivos climáticos.
Localizado entre a Austrália e o Havaí, Tuvalu é formado por nove atóis baixos, cuja altitude média é de apenas dois metros acima do nível do mar. Com o avanço das marés, inundações e salinização do solo, a sobrevivência física e econômica do país está seriamente ameaçada. Um estudo de 2023 apontou que o nível do mar já subiu 15 centímetros em relação a 30 anos atrás, e boa parte da infraestrutura do país pode ficar submersa até 2050.
Além da ameaça à terra firme, o avanço da água do mar sobre aquíferos de água doce vem comprometendo a agricultura e o abastecimento. Moradores já adotam técnicas alternativas, como o cultivo acima do solo, para controlar a salinidade. "Estamos perdendo a base de nossa subsistência", disse a pesquisadora tuvaluana Bateteba Aselu.
Grande migração
O tratado também busca evitar um êxodo total: o limite anual de 280 pessoas visa preservar a força de trabalho local e impedir o colapso econômico. Ainda assim, se os índices de migração se mantiverem, estima-se que até 40% da população de Tuvalu poderá deixar o país nos próximos 10 anos, alertou a professora Jane McAdam, da Universidade de Nova Gales do Sul.
Diante da urgência climática global, o acordo Tuvalu-Austrália pode se tornar um modelo para outras nações insulares ameaçadas, como Kiribati. "Isso é uma inovação global, uma migração diretamente conectada às mudanças climáticas", avaliou Wesley Morgan, pesquisador da Universidade de New South Wales.
Segundo o 'Live Science', os resultados da votação que definirá os primeiros contemplados com o visto devem ser divulgados até o fim de julho. Se tudo seguir conforme o previsto, os primeiros migrantes poderão desembarcar na Austrália até o final de 2025.