Lagarta 'Frankenstein': Conheça o inseto que 'veste' o corpo de suas presas

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Durante expedições na ilha de Oahu, no Havaí (EUA), pesquisadores identificaram uma espécie de lagarta com um comportamento inédito e macabro: ela constrói sua proteção externa com restos de suas presas.
Cabeças de formiga, asas de mosca e abdomens de besouro compõem a armadura da chamada “colecionadora de ossos”, pertencente ao gênero Hyposmocoma sp.
O comportamento foi descrito em um artigo publicado na última quinta-feira, 24, na revista Science. Segundo o entomologista Daniel Rubinoff, coautor do estudo, a prática foi inicialmente vista como uma coincidência curiosa, mas acabou se confirmando após a observação de dezenas de exemplares.
"Esse comportamento era totalmente desconhecido até então", afirmou ele ao The New York Times. As lagartas não apenas se alimentam de outros insetos — algo raro entre lepidópteros — como também usam os restos mortais das presas para se camuflar.
Mecanismo inédito
O “casaco” formado por partes de cadáveres serve como disfarce visual e olfativo, ajudando a lagarta a se esconder das aranhas cujas teias ela utiliza como armadilhas para caçar. Até agora, os cientistas não presenciaram nenhum caso em que aranhas tenham atacado uma “colecionadora de ossos”.
As primeiras observações da espécie foram feitas em 2008. Desde então, cerca de 150 expedições foram realizadas na região, resultando na coleta de 61 exemplares em uma área de apenas 15 km².
Em laboratório, os pesquisadores comprovaram que as lagartas demonstram seletividade ao adornar suas capas móveis, optando por restos de cadáveres em vez de detritos comuns.

Durante sua fase larval, a lagarta tece uma estrutura protetora de seda pegajosa, semelhante a um charuto, que carrega consigo enquanto se desloca. Ao contrário de outras espécies do gênero, que utilizam materiais como madeira, algas ou conchas para camuflagem, a “colecionadora de ossos” prefere incorporar restos de presas — e até partes de exoesqueletos descartados por aranhas.
A equipe também analisou a genética da espécie e concluiu que ela se separou evolutivamente de outras lagartas carnívoras do mesmo gênero há mais de cinco milhões de anos — bem antes da própria formação da ilha de Oahu. A descoberta sugere que seus ancestrais podem ter vivido em outras ilhas do arquipélago.
Hoje, no entanto, a sobrevivência da espécie está ameaçada. Restringida a uma pequena área, a lagarta enfrenta riscos crescentes devido às mudanças climáticas e à introdução de espécies invasoras, como formigas e vespas parasitas. Os cientistas alertam para a urgência da conservação dos ecossistemas havaianos, essenciais para proteger essa fauna singular.


